No começo de cada mês eu tento separar a minha lista de jogos a serem jogados em duas categorias: diversão e competitividade. Quando estou cansado ou em um péssimo humor, eu pego algum da primeira categoria e passo horas relaxado. Calhou que o de março foi justamente Trackmania Turbo, o novo game da Nadeo que está disponível para PC, Xbox One e PlayStation 4 a partir de R$ 99,90.
Por muitos anos tive um certo pré-conceito com Trackmania. Ele é basicamente uma ferramenta gigante para criação de pistas, corridas contra o tempo e corridas tradicionais são praticamente inexistentes. Foi só em Trackmania 2 que ele aumentou e foi solidificado com Trackmania Turbo.
Apesar da constante corrida contra o tempo, Trackmania tem uma certa aura de te prender naquele ambiente por horas. Ele traz aquele aspecto de jogos arcade da metade dos anos 90 que contrasta com a extrema busca pelo realismo, ainda mais nessa geração carente de Burnouts e Flatouts. Escolha uma pista, domine-a, vá para a próxima, faça o mesmo e continue.
Quando comecei a jogá-lo, as pistas eram relativamente simples, uma curva ou outra me faziam reiniciar a pista, mas nada assustador. Quando percebi, já havia se passado três horas de jogo e eu ainda tentava pegar a medalha de ouro em uma pista com dois loopings e uma curva tão fechada que não sabia que ângulo deveria entrar com o carrinho para tirar o máximo proveito dela. Não me importava mais com a hora, o tempo de loading era quase inexistente, “Só mais uma medalha, eu faço essa e eu paro”, era a mentira que contava a mim mesmo toda vez que iniciava mais uma tentativa.
É aquela antiga história da busca pela perfeição, pelo tempo certeiro, aquele que vai me colocar no topo da tabela de liderança. Tenho uma grande simpatia por tabelas de liderança, por qualquer método de competitividade que não me faz ter uma crise de ansiedade ao entrar em uma partida. Ele fica lá no fundo, apenas te lembra que você subiu de rank após acabar uma corrida. Nada de pressão, aproveite o cenário e dê o seu melhor.
Procuro em games relaxantes duas qualidades principais: Controles simplificados e nenhuma dor de cabeça para começar a jogar. Trackmania Turbo preenche em parte essas duas qualidades. Você tem um botão de acelerar e frear; fim. Nada de marchas, apenas alguns “boosts” espalhados pelo cenário para ajudar a ganhar a tão sonhada medalha de ouro. Quanto a não ter dor de cabeça para começar a jogar, bom, isso fica só no modo de um jogador.
Por ser o primeiro game da franquia a chegar nos consoles, consigo imaginar toda uma geração que sequer ouviu de Trackmania enlouquecer com os cenários. E, bem, isso é algo bom. Só que para quem já está por aí há um tempo a Nadeo pisou na bola feio na conectividade online.
Uma das minhas maiores alegrias, além de correr sozinho, eram os servidores dedicados de Trackmania 2. Com o tempo eu me acostumava a acessar o mesmo servidor, às vezes pela seleção de pistas, até mesmo pela comunidade, fiz algumas amizades que mantenho até hoje graças a alguns servidores brasileiros. Agora essa oportunidade foi embora e tenho de lidar com servidores P2P em 2016.
Apesar de ter usado a versão de Xbox One para a análise, a versão PC também não possui a opção de servidores dedicados. Não que seja um problema para grande maioria, vejo isso apenas como uma maneira de desmoronar uma comunidade que por anos criou pistas sensacionais e agora corre o risco de cair no esquecimento. Teria mais a falar sobre isso se ao menos os servidores de autenticação funcionassem.
Nos primeiros três dias após o lançamento, a única tela de multiplayer que via era “Não foi possível se conectar aos servidores da Ubisoft”. Isso depois de um lançamento tão suave como foi The Division, é quase como um soco na cara. As coisas melhoraram, ao menos conseguia acessar a lista de “servidores” criados pelos jogadores. Sim, ainda existe uma lista de servidores, mas como apontei, são criados pelos jogadores e a partir do momento que eles decidirem desligar o jogo, eles vão embora.
Os servidores que entrei se dividiam entre serem algumas pistas divertidas, algum servidor-teste para ver se o problema do online estava resolvido e um ou outro realmente bom. Quando entrei neles, era uma festa de lag tão insuportável que achei melhor voltar para o single-player.
Ao menos tinha o construtor de pistas e o criador de pistas aleatórias. Que até fazem um bom trabalho de me manter entretido por horas, mas aquela saudade de ao menos ver a criação de outros jogadores batia. Qual o motivo de ter de passar por tantas etapas se eu quero apenas me divertir?
Me vejo meio que em uma encruzilhada, em uma mão, eu acredito que Trackmania Turbo é sem dúvidas o melhor da franquia na jogabilidade e na variedade de cenários. Ele engloba todos esses anos que eu me diverti no PC e apresenta para um público que pode sequer ter ouvido falar dele. Em outro, ele remove alguns elementos que tiram o senso de longevidade dele a não ser que você já tenha amigos também interessados.
Vou continuar a jogá-lo como aquele momento de relaxar, entre um trabalho e outro ou naquele final da tarde quando já estou cansado e só quero desligar a cabeça. Ele me diverte o suficiente para isso, a coloração saturada, a música eletrônica que parece amplificar a sensação de velocidade em cada pista, os loopings bizarros e as pistas que eu consegui criar.
Apenas vejo como uma decisão estranha essa nova funcionalidade online, que como membro da comunidade por muitos anos, não posso deixar de mostrar minha decepção. Trackmania Turbo é um dos melhores que temos em termos de corrida arcade na atual geração, mas o preço que isso custou talvez tenha sido um pouco demais. Agora é torcer para que a comunidade não morra antes do tempo.
Trackmania Turbo
Total - 7
7
Trackmania: Turbo é Trackmania para uma nova geração, que deixa algumas coisas que eu vou sentir muita falta para trás, mas ainda retém cenários de qualidade e um robusto criador de pistas. Se você nunca jogou, não fique aí parado. Para quem é veterano, a única coisa que encontrará será decepção.