Quando eu pego um jogo ou DLC da Creative Assembly, eu gosto de pensar que a desenvolvedora — como tantas outras — precisa decidir entre qualidade e quantidade. Algumas vezes ela escolhe quantidade — como no lançamento inicial do beta de “Immortal Empires” — e outras ela escolhe qualidade. Este é o caso perfeito de “Thrones of Decay” (Steam), o primeiro grande DLC de “Total War: Warhammer III”, onde seus lordes lendários — Elspeth Von Draken(Steam), Tamurkhan (Steam) e Malakai Makaisson (Steam) — podem ser comprados separadamente. Por ser uma exceção no histórico da desenvolvedora, minha crítica vai ser um pouco diferente. Ao invés de falar apenas do pacote completo, irei adentrar mais na minha campanha com cada um dos lordes. Turbulência no universo “Warhammer?” Muitíssima.
Thrones of Decay – Elspeth Von Draken
Assim que o DLC foi anunciado, meu primeiro pensamento foi: “Oba, vou voltar a jogar com o império graças a Elspeth Von Draken!”. Eu de fato voltei a jogar com o império, mas não necessariamente por conta de Von Draken.
Embora ela tenha unidades fantásticas e mecânicas excepcionais na campanha — como a Gunnery School, que finalmente dá a devida atenção para as unidades de artilharia e rifles, com melhorias permanentes para elas — a sua campanha é a mais fraca do trio.
Em suma, seu principal objetivo é obter a “Nemesis Crown”, ao mesmo tempo em que defende o império. O conceito em si é interessante, já que você vai estar desde o primeiro turno lutando praticamente em dois frontes com unidades sofrendo atrito quase que constantemente. Adicione uma camada extra de dificuldade com a IA no modo “Lendário” e você vai passar minutos olhando para o mapa antes de avançar para o próximo turno.
Se o mapa de “Total War: Warhammer III” fosse menor, ou a quantidade de turnos necessários para cruzá-lo não fossem tão grandes, a campanha de Elspeth Von Draken seria ainda mais intrigante para mim. Saber quando avançar ou recuar o exército ou manter possíveis linhas de suprimento é algo que eu tenho um imenso prazer em experienciar em jogos de estratégia. Mas “Total War: Warhammer III” não foi desenvolvido para isso e, por isso, a desenvolvedora usou uma solução de poder “teleportar” o exército de Von Draken para cidades que possuam uma construção específica. Decepcionante.
Sei que soo como alguém do “contra”, mas a campanha seria tão mais intensa se eu perdesse mais cidades — ou ao menos o risco de perdê-las fosse algo mais concreto do que apenas apertar um botão e as minhas tropas estão lá para defendê-las.
O que “salva” a sua campanha é o incrível arsenal da personagem, que inclui a Marienburg Landship, uma das unidades que menos faz sentido no universo “Warhammer” — e olha que são muitas — mas ainda sim é devastadora no campo de batalha quando jogado contra a IA. Não consigo imaginar que ela tenha muita utilidade no modo multiplayer, mas o balanceamento do mesmo é tema para outra matéria.
Eu digo o mesmo para os novos rifles de longo alcance dos Hochlad e os Knights of the Black Rose, uma cavalaria imperial que consegue se manter em atrito por mais tempo que a grande maioria das tropas de “Total War: Warhammer III”. Não voltamos à era “acabe tudo com a cavalaria” de Total War: Rome, mas Von Draken chega bem perto.
Agora, se ela brilha pouco no modo campanha, a sua capacidade de teleportar é uma bênção no modo “Immortal Empires”. Eu não sou um grande fã do império nesse modo por conta da sua posição inicial. Von Draken não só muda isso como me permite ter múltiplos frontes de batalha e levar a competência da IA de “Total War: Warhammer III” para os limites. Você quer ter uma experiência de lutar quatro batalhas seguidas? Von Draken proporciona isso. Só te desejo sorte e paciência para não apertar o botão “autoresolve” quando você estiver na 20ª batalha e ainda no 10º turno.
Ainda assim, a coloco em último lugar por uma razão um tanto peculiar: Balthasar Gelt.
O personagem recebeu uma repaginada tão fantástica na atualização 5.0 de “Total War: Warhammer III” que ele ofusca as mecânicas de Von Draken. A possibilidade de utilizar diferentes escolas de magia de acordo com o herói que está no seu exército o torna fascinante de jogar tanto no modo campanha quanto no modo “Immortal Empires”.
Eu conseguia personalizar as minhas batalhas com mais granularidade e, ao invés de depender apenas de uma ou duas tropas específicas para vencer, podia lançar magias de todos os tipos e anular ataques especiais do inimigo.
Essa é a principal diferença de jogar com o império. “Von Draken” é uma excelente adição, mas ainda é o “arroz com feijão” de uma facção voltada para iniciantes. Balthasar Gelt eleva a facção para atrair jogadores intermediários e avançados de “Total War: Warhammer III”.
Nota: 7.5/10
Thrones of Decay – Tamurkhan
Nurgle, ugh, que nojo. Não digo isso só pela aparência deles, mas por suas mecânicas. Eu não gostei de jogar a campanha ou o “Immortal Empires” com eles por conta do tom “monótono” com que ela tendia a se desenrolar. Vá ali, destrua uma cidade ou a capture, espalhe peste e espere até que as tropas inimigas começam a sofrer atrito ao entrarem em seu território. “Total War: Warhammer III” não é um título da franquia que deve ser jogado de forma quase que unicamente defensiva. Felizmente Tamurkhan e a atualização 5.0 começam a mudar isso.
Dos três lordes, esse foi o que mais recebeu melhorias de ambas as frentes (pago e gratuito). Uma das suas habilidades especiais é recrutar heróis e convertê-los à sua causa. Uma mecânica “simples” com um impacto profundo, já que cada um deles traz consigo uma variedade absurda de unidades. Lembra da época que você só tinha uma ou duas unidades para formar a sua linha de frente como Nurgle? Ela foi embora com Tamurkhan.
Seja você ainda um daqueles que caia de amores pelo estilo defensivo de Nurgle, ou caso agora queira partir para cima com Tamurkhan, os novos heróis expandem o leque de oportunidades de forma majestosa. Não há mais receita para avançar com o Nurgle, muito menos qual herói pegar primeiro (eu gosto de pensar neles como Pokémons, Pokémons bem violentos). Tudo depende de que facção você quer atacar primeiro.
É uma mecânica tão bem elaborada que eu gostaria muito que ela fosse expandida para outros lordes lendários. Quanto mais tempo um herói fica na sua facção e atinge certos objetivos especiais, mais forte ele fica, e mais acesso a unidades potentes ele te dá. Como eu mencionei acima, a riqueza das ideias da Creative Assembly fica nos detalhes. Quem não gostaria de jogar com os High Elves e ter acesso a unidades dos Dark Elves convertidas para a sua facção? Não duvido que a comunidade vai criar um mod para isso cedo ou tarde.
Eu gosto de como a campanha de Tamurkhan vai provavelmente variar de jogador para jogador. Não vou me surpreender se alguns deles decidirem cruzar o mapa para recrutar um dos heróis, enquanto outros optarão pelo mais próximo que ainda oferece uma boa variedade de unidades.
Outro ponto que é impossível não destacar é a repaginação do sistema de pragas, que agora é menos linear e mais imprevisível. Embora ainda resulte majoritariamente em redução de armadura e movimentação para os seus oponentes, é bom não ter que pesquisar ou gastar pontos em nódulos “inúteis” para o seu estilo de jogo.
Infelizmente, a narrativa de Tamurkhan deixa a desejar, tanto quanto a de Von Draken. O jogo bota uma tremenda ênfase na ideia de que você está criando um exército para atacar outros lordes e principalmente o império, mas a “batalha final” acaba de forma abrupta. Quando eu vi que tinha completado o objetivo eu fiquei “Pera, quê? É só isso?”. Pode ser que eu tenha sofrido com um bug (A Creative Assembly já lançou três atualizações desde a publicação dessa matéria), ou a ambição da desenvolvedora foi a maior que a sua execução.
Aqueles que não têm o menor interesse em acompanhar a narrativa ao menos vão ter bastante incentivo para jogar com Tamurkhan no “Immortal Empires”. Pela primeira vez eu sinto que Nurgle consegue bater de frente com outras facções no modo, e até mesmo se você decidir optar pela lenta e tediosa fórmula defensiva de que muitos gostam, ainda assim vai ter um exército bastante adaptável para várias situações.
Eu não imaginei que iria fechar o texto de Tamurkhan pensando em como vou jogar outra vez com Nurgle ou qual vai ser meu estilo na minha próxima campanha de “Immortal Empires”, mas a vida é cheia de surpresas. Quem sabe você não descobre uma facção favorita?
Nota: 8.5/10
Thrones of Decay – Malakai Makaisson
Faz anos que eu não jogo uma campanha inteira de “Total War: Warhammer 3” com os anões. Por mais que eles sejam uma das minhas facções favoritas (ao lado dos Skaven), anos de atualizações e melhorias para outras facções os deixaram “defasados”. Tudo começa a mudar com a campanha de Malakai Makaisson.
O anão exilado navega com seu grupo de matadores em um zepelim cheio de canhões. O Espírito de Grungni, como é chamado, atua como seu centro de recrutamento, mas também como uma vantagem no campo de batalha, permitindo chamar o Thunderbarge para suporte aéreo, liberar suas bombas e mudar o rumo da batalha.
Combine isso com o sistema de rancor reformulado, que recompensa a expansão agressiva com unidades especiais e exércitos gratuitos, e a nova gama de unidades suicidas de matadores, e você tem uma campanha que se apresenta como uma aventura ousada e mortal. É uma das melhores que a Creative Assembly produziu em anos.
Isso vem principalmente da nova mecânica “As Aventuras de Malakai”, que faz você completar um conjunto de missões que levam a uma batalha lendária. Os objetivos variam de eliminar centenas de inimigos usando um tipo específico de unidade para resolver dilemas narrativos e lutar em climas específicos. De uma forma ou outra, a campanha de Malakai sempre está empurrando o jogador para terrenos “desconhecidos” e imprevisíveis.
Essas aventuras se entrelaçam muito bem com a campanha principal de Malakai de “completar o livro de grudges”, e além disso é possível ter várias aventuras ativas. Algumas são completadas de forma tão “orgânica” que nem parecem objetivos, mas sim uma nova maneira de enxergar o mapa de “Total War: Warhammer III”
Para aqueles preocupados com custo de manutenção e linhas de suprimento, a nova árvore de pesquisa dos anões reduz consideravelmente o custo de manutenção das principais tropas e adiciona um belo grau de versatilidade em como montar o seu exército. Isso é ainda mais notável com Malakai já que, graças a seu dirigível, ele pode recrutar tropas de múltiplas fontes e ter um exército formidável em questão de alguns turnos.
Até mesmo quando o tema é combate, Malakai pode certamente segurar sua posição caso seja forçado ao combate corpo a corpo, mas seu ponto forte é atirar em grandes monstros ou lordes inimigos de longe. Além disso, ele também fornece fortes buffs para máquinas de guerra. Coloque isso ao lado das novas unidades como os Doomseekers e os novos matadores piratas híbridos e o exército dos anões nunca foi tão divertido de jogar. Esse é o nível que eu espero que a Creative Assembly alcance nos próximos DLCs de “Total War: Warhammer III”.
Com esse poderio todo, Malakai é o mais devastador de todos no modo “Immortal Empires”. Creio que, com exceção dos Skaven, eu nunca tomei tantas cidades em tão poucos turnos. O fato de que as aventuras se encaixam muito bem tanto no modo campanha como no modo “Immortal Empires” me deixam boquiaberto. São raros os momentos que eu vejo um lorde ser tão variado em seu estilo de combate, exploração e dinâmica.
Se fosse para escolher apenas um dos lordes para pegar, Malakai estaria no topo sem sombra de dúvidas.
Nota: 9.5/10
Thrones of Decay – Conclusão
Para muitos, incluindo eu, “Shadows of Change” foi uma guinada no conteúdo de “Total War: Warhammer III”. Ideias boas, execução mediana e conteúdo decepcionante. A Creative Assembly correu atrás, muito atrás para revigorá-lo. A adição de novas unidades reduziu o sabor amargo que o DLC deixou, mas é com “Thrones of Decay” que a desenvolvedora faz jus ao que prometeu em dezembro do ano passado: focar em qualidade acima de quantidade.
Por mais que possam ser comprados separadamente, e para quem estiver apertado de dinheiro é a minha recomendação, “Thrones of Decay” é um pacotão completo. É tudo o que eu esperava para “Total War: Warhammer III” e mais. Nem todas as campanhas ou adições acertam o alvo, mas as que acertam me deixam esperançoso para os próximos passos da desenvolvedora, seja ele dentro ou fora do universo da Games Workshop.
Total War: Warhammer III: Thrones of Decay
Total - 9
9
“Thrones of Decay” é um novo parâmetro de qualidade para a Creative Assembly no que tange “Total War: Warhammer III”. É um DLC gigantesco que abrange múltiplos estilos de jogo e não deixa (quase) ninguém de fora. Pareado com a atualização 5.0, a franquia revive os seus tempos de glória – tempos que jamais pensei que veria outra vez.