De um lado temos Warhammer, de outro a série Total War. Como um jogo como Total War: Warhammer não foi feito antes, eu não sei dizer. Agora que está disponível no Steam a partir de R$ 149,99, será ele um bom jogo? Esta é uma daquelas que vai depender muito do estilo de jogo de cada um.
É peculiar como as duas franquias se complementam. Ambas passaram por momentos turbulentos com lançamentos medianos — principalmente Total War no período Rome II — enquanto a Games Workshop recebia uma quantidade absurda de games desinteressantes baseados neste universo. Total War: Warhammer é quase que como um casamento perfeito de dois games que precisavam se ajudar.
Não é exatamente um Total War puro, por assim dizer. Warhammer foi capaz de trazer mudanças significativas para a franquia ao ponto de mudar completamente o ritmo da campanha. Para ser honesto, eu nunca gostei muito da campanha de Total War, pois tentava fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo e era incapaz de acertar a mão em uma. O problema foi mais notável ao voltar para Attila, onde tinha de resolver alguns problemas políticos ou eventos como “Fulano quer casar com fulana”. Olhava para a tela, soltava um leve suspiro e pensava “eu não me importo com isso, podemos ir para a guerra? ”.
Total War: Warhammer faz justamente isso, guerra, guerra constante. Você não tem um minuto de descanso, metade das facções querem o seu sangue e você não tem tempo de pensar. O exército do Chaos pode chegar a qualquer momento, com destruição e corrupção prontas para te pegar de surpresa. É uma pressão constante, uma corrida contra o relógio, uma sensação de desespero, de que está lentamente sendo sufocado.
Minha primeira campanha como o Empire teve um resultado desastroso. As facções humanas estavam em desarranjo, lutavam por um pedaço de terra ao invés de se juntar ao glorioso império (essa parte de glorioso tem lá as suas dúvidas, afinal eu perdia mais unidades de maneira tão ridícula que eu sinceramente entendo não criarem uma aliança militar comigo).
Para quem não conhece Total War, vou dividi-lo em duas camadas. A camada estratégica — o mapa da campanha — e a tática, onde as batalhas acontecem. A camada estratégica foi a que mais recebeu mudanças para se adequar ao “Lore” do universo Warhammer. Cada facção tem um próprio estilo de jogo, nada daquela história de “se você jogar com uma você provavelmente joga com todas”. Aprendê-las requer investimento, atenção e planejamento.
O Empire é o mais próximo que temos de uma facção “clássica”, com unidades e estilo de jogo bem parecidos com o de uma facção humana. A árvore de tecnologia está simplificada, voltada para o combate e menos para a construção de um sistema de aprimoramentos cívicos. O que acarreta em possíveis problemas de gerenciamento.
Manter um saldo positivo na campanha e ao mesmo tempo um exército bem recrutado força o jogador a sair da zona de conforto. Qualquer tentativa de não fazer isso resulta em um soco na cara e exércitos enormes na porta da cidade mais importante da sua facção em questão de alguns turnos. Capture cidades, destrua-as, saqueie-as. Faça o que for necessário para garantir que a máquina de guerra tenha recursos o suficiente para destruir o oponente.
Ok, eu sei que isso soa assustador e não duvido que se não for um veterano na franquia, acabe por ser derrotado nas primeiras campanhas. O tutorial, mais uma vez, é capaz de apresentar o básico para que não se sinta perdido e as mini dicas mostradas ao longo da campanha são mais úteis e concisas do que os antecessores.
Porém, algumas das mecânicas mais relevantes de Total War: Warhammer são melhor apreciadas e compreendidas com umas boas horas de jogo. Uma delas é a árvore de habilidades do personagem, um sistema que aparece para diversificar mais ainda a progressão da facção ao longo da campanha.
Ao trilhar o mesmo caminho do sistema de composição de exército de Rome II, Total War: Warhammer requer que cada exército tenha um Lorde ou um Lorde Lendário. O segundo caso são lordes cuja existência é crucial no universo Warhammer, como Karl Franz, do império. Além deles temos os heróis, que servem de apoio no combate e unem algumas habilidades dos assassinos. Cada facção possui sua árvore de habilidades específicas, com bônus passivos e magias disponíveis durante a camada tática.
Tratá-las como uma única metodologia aplicada em todos os heróis inevitavelmente resulta em frustração. Alguns bônus são mais importantes do que outro, como por exemplo, o bônus de movimentação do exército no mapa de campanha. As unidades controladas pela inteligência artificial tendem a atacar e fugir do jogador constantemente e sem estes bônus é um tanto quanto difícil alcançá-las. É um problema sério? Não, mas ao mesmo tempo não consigo pensar que isto de certa forma a quantidade de escolhas na hora de desenvolver a facção.
Uma hora ou outra você se vê apertado de dinheiro e em constante conflito com múltiplas facções. Bônus que podiam ser usados na liderança foram consequentemente usados para aumentar o meu alcance a cada turno. Incomoda, faz parecer com que eu tenha que lutar contra a própria IA e regras “invisíveis” aplicadas a isto.
Peculiarmente, os problemas foram justamente vistos na facção que mais se assemelha as facções tradicionais dos Total War anteriores, o império. As outras, como o Chaos ou os Vampire Lords conseguem se desvencilhar disso com mecânicas diferenciadas. Chaos funcionam como hordas, que ganham bônus de movimentação em determinadas posições. Já os Vampire Lords precisam “corromper” a terra para ganharem maior mobilidade e resistência.
A diferenciação torna-se ainda mais clara durante as batalhas em tempo real. Claro, você tem a opção de auto completá-las. Mas, vai realmente perder a chance de ver hordas de humanos serem esmagadas por um gigante, ou Goblins montados sobre aranhas gigantes e ferozes máquinas de guerra dos anões? Sinceramente espero que não.
O espetáculo visual resultante das facções torna as batalhas ainda mais divertidas de acompanhar. Os Vampire Lords apostam em unidades fracas na linha de frente, enquanto o Chaos opta por qualidade sobre quantidade, com unidades pesadas e monstruosidades. Os heróis têm um papel muito mais relevante com o uso de magias, bônus de ataque e defesa. Ah, e a cavalaria? Recomendo jogar uma bola de fogo em cima deles toda vez que decidirem avançar.
Mais uma vez, as mudanças e o espetáculo visual resultam na remoção de elementos que julgo importante. Controlar exércitos diferentes é legal, mas o que acontece quando você não tem exatamente “controle” sobre eles? Total War: Warhammer conta apenas com dois tipos de formação: uma que prioriza unidades de combate corpo-a-corpo na linha de frente e outra que prioriza arqueiros ou unidades à distância.
Não chega a ser algo estarrecedor, mas que vai fazer falta principalmente para aqueles que jogam batalhas contra outros jogadores. Aumenta o micro gerenciamento de maneira desnecessária, reduz a eficácia de muitas unidades no campo de batalha. Não necessita ser um sistema complexo, apenas um que permita algum grau de controle sobre a movimentação das tropas do que um retrocesso ao que tínhamos em Rome: Total War.
Esses pequenos problemas apresentam-se como uma dualidade. Seria necessária toda a base das mecânicas da franquia Total War para que Total War: Warhammer fosse um jogo bom? Quanto mais tradicional em relação ao resto da franquia, mais os problemas em ambas as camadas aparecem. Parece uma estranha tentativa de unir ideias conflitantes para agradar a ambos os lados.
A jogabilidade básica está preservada, por mais que problemática em alguns aspectos, ela ainda traz consigo algumas novidades interessantes. O nome pode ser “Total War”, entretanto a franquia sempre funcionou melhor em ambientes cujo direcionamento estava apontado para um pequeno conjunto de variáveis. Opto em qualquer momento do dia jogar Shogun 2 ao gigantesco Empire: Total War ou o confuso Rome II.
Total War: Warhammer direciona-se da mesma forma que Shogun 2, realça e modifica aspectos das mecânicas para se adaptar a um novo mundo. Faz isso com perfeição? Não, mas conquista seu lugar entre um dos melhores da franquia. Espaço para melhoras em ambas as camadas — estratégica e tática — existem. Mas após quase cinco anos sem realmente aproveitar um Total War, posso dizer que voltamos ao seu tempo de glória.
Total War: Warhammer
Total - 8
8
Muito longe da perfeição, Total War: Warhammer consegue oferecer a maior quantidade de novidades em uma franquia que em pontos estava estagnada. Pode não vir agradar os “puristas”, mas há poucas coisas tão satisfatórias do que ver o exército inimigo esmagado por um exército de gigantes. Se tem o menor interesse no universo Warhammer, jogue-o. Por mim ou por Sigmar.