Quando eu estava no meu auge da adolescência, eu era um daqueles super irritados com o mundo, que detestava tudo e todos. Escrever isso hoje em dia me dá uma tremenda vergonha, mas é a realidade. Se eu tenho vergonha dessa época, Tormentor X Punisher é quase como a realização dos meus sonhos de adolescente.
Mesmo com o receio de soar como um psicopata (acredite, sou bem mais calmo atualmente), a primeira vez que eu vi Tormentor X Punisher é ver alguém pegar uma garrafa com todas as minhas angústias de quando era mais novo e transformá-las em demônios. Depois disso, juntar uma trilha sonora de metal bem reminiscente do período e toneladas de sangue. O Lucas de 14/15 anos vibraria de felicidade com o jogo. Eu ainda vibro ao jogá-lo, mas por motivos diferentes.
Perdoe os termos, porém não há como o descrever em meias palavras. Você vai matar demônios, e vai matar para caralho. Uma arena, uma metralhadora, um berro de “Fuck You” e o timer começa a contar até a sua inevitável morte.
O game da E-Studio veste a carapuça mais ridícula do planeta e fica bem nela. No nível de humor ridículo igual a Serious Sam ou Shadow Warrior 2. Ouvir um “Fuckface” vindo do fundo da garganta da protagonista enquanto dispara uma rajada de metralhadoras no inimigo não é motivo para vergonha e sim para uma boa risada. Digo, exceto quando você morre e um demoniozinho vem tirar uma onda com a sua cara, nessa parte eu tenho vontade é de dar um murro na tela. Se era este o intuito da desenvolvedora, conseguiram.
Tormentor X Punisher não se sobressai pelo humor escrachado, nem pela tentativa de ser “edgy” puramente por ser. Afinal, um jogo que se passa no planeta “Fuck You” não pode ser mas idiota que isso. Sua vitória fica na jogabilidade. Ele se vende como um shooter de hordas / arena bem simplório, mas tem uma profundidade impressionante, uma que não sei se vou conseguir compreendê-lo completamente.
Tendo em vista que um dos meus jogos favoritos de 2016 foi Devil Daggers, não era surpresa que ia cair de amores por Tormentor X Punisher. Entretanto, salvo o fato que os dois jogos são relacionados a sobreviver o máximo tempo possível em uma arena apertada, não poderiam estar mais distantes na jogabilidade. O shooter em primeira pessoa da Sorath dá demasiada ênfase em posicionamento e o uso de sua engine de áudio posicional. Padrões no mapa em relação ao Spawn são estabelecidos, se cria uma certa estimativa de quando e como os inimigos vão aparecer. Seria o equivalente de subir uma ladeira com pedregulhos imensos rolando em sua direção. Com bastante perspicácia você começa a enxergar de onde eles saem e como evitá-los. Em Tormentor X Punisher não, ele é o mais profundo caos.
Ele vai além de cobrar reflexo rápido do jogador, ele quer que ele seja criativo, porém apresenta isso de forma peculiar. O jogador tem de início dois tipos de disparos, uma metralhadora e ao recarregar, uma espingarda. Sério, o quão insano soa uma metralhadora que deve disparar balas de espingarda para ser recarregada?.
Saber usar os dois tipos de projéteis é que dá acesso a um conjunto de multiplicadores e possíveis melhorias temporárias. Ricochetear uma bala na parede e acertar um inimigo equivale a um Wallie. Cinco Wallies e seu multiplicador aumenta. Qualquer problema com a necessidade de tentativa e erro é mitigado pelo quão caótica são as partidas. Diferente de Desync — outro shooter recente que também apostou na criatividade para aumentar a pontuação, porém falhou em criar um ambiente para isto — você já está de volta a ação em questão de segundos em Tormentor X Punisher.
E assim vai, morte após morte, tentativa após tentativa, até que em um momento o seu cérebro dá um “clique” e tudo faz sentido. Tormentor X Punisher é o OlliOlli dos shooters. Mate os inimigos e faça isso de uma maneira fabulosa. A perspectiva muda de “sobreviver” para “Para que sobreviver se eu posso matar esse demônio de uma forma espetacular? ”. Além do que, ser fabuloso também vai garantir os deliciosos pontinhos adicionais no final da “run”.
Sim, a essa altura você já imagina que Tormentor X Punisher foi o meu jogo para ser jogado entre tarefas, na hora do almoço ou quando estava ligeiramente entediado. Tenho um imenso respeito por games que não enrolam para me colocar na ação. “Click, click, boom, FUCK YOU”. É assim que eu gosto.
O maior deslize cometido pelo shooter não vem da jogabilidade extremamente polida, mas sim em seu aspecto visual. A medida que você elimina os inimigos e os corpos viram praticamente montanhas, fica cada vez mais difícil de prever possíveis locais de onde eles aparecerão. Uma ligeira irritação para um jogo onde o elemento de aleatoriedade é proeminente.
Se o primeiro semestre foi ótimo para games no geral, junho foi especial para twin stick shooters com Serious Sam’s Bogus Detour, Nex Machina e Tormentor X Punisher. O game da E-studio entra na categoria de “deixar sempre instalado para quando quiser uma partida rápida”. Fica juntinho de Devil Daggers, de OlliOlli e um grupo seleto que garantem uma boa dose de risadas, momentos de tensão e motivos de sobra para tentar bater meu recorde. Elogio melhor do que esse vindo de mim, que sai de um simulador de caminhões para um game de estratégia em um piscar de olhos, não há.
Let’s fucking do this
Tormentor X Punisher
Total - 9
9
Caótico e criativo, Tormentor X Punisher é como vestir a roupa mais ridícula sem ter a menor vergonha do que pensam de você. É excessivamente violento e grosseiro sem motivo algum e ironicamente tudo se encaixa perfeitamente. Um dos meus twin stick shooters preferidos do ano.