Você arregaça as mangas e se prepara para mais um dia de trabalho. Mais um dia de ter de lidar com policiais corruptos, com um prefeito que quer a sua pele, com a máfia que quer a sua cabeça. Ser um chefe de polícia em This is the Police é um trabalho árduo e traz interessantes questões sobre o trabalho e os problemas sociais envolvidos nele. Ele está disponível no Steam por R$ 27,99.
This is the Police é um jogo de narrativa em primeiro lugar com alguns toques de gerenciamento. O jogador assume o papel de Jack Boyd, um chefe de polícia prestes a se aposentar, nos seus últimos 180 dias de trabalho. “180 dias de paz, é tudo isso que peço”, diz o prefeito nos primeiros minutos de jogo.
O dia a dia de Boyd é basicamente gerenciar a força tarefa da polícia para responder a inúmeras denúncias, que vão de brigas, assaltos a mão armada ou situações de reféns. Faz isso de uma maneira um tanto quanto peculiar, ou talvez vaga seria a melhor maneira para se descrever.
A tarefa é basicamente sentar na frente de uma maquete de uma cidade, ver denúncias aparecerem e arrastar seus policias (ou equipes da Swat) para lidar com o problema. O que não seria nada de ruim, se não fosse demasiadamente chato. Os policiais não têm um traço de personalidade, nomes e faces sem motivo, apenas para não colocarem absolutamente nada no lugar.
O loop de gameplay é o mesmo do primeiro minuto de jogo em frente. Clique em uma ocorrência, escolha o melhor policial para o caso, aguarde eles chegarem no local e acompanhe o resultado. Existem investigações de assassinatos e tentativas de desestabilizar quadrilhas, todas que seguem o mesmo propósito com uma ou outra notificação que pode “impactar” o resultado. Por exemplo, uma tentativa de assalto pode resultar na fuga do suspeito caso os policiais não tenham experiência suficiente. Quando que estas decisões me abalam? Nunca.
A minha motivação para prosseguir nesta parte, que por acaso é basicamente o que você faz no jogo todo, era para ver a próxima sequência de acontecimentos com Boyd. Guiado pelos “antigos valores”, Boyd é aos olhos de 2016 um personagem desprezível, um que acha que toda mulher quer ganhar a vida como prostituta, que sua mulher o abandonou com um amante mais novo e agora a deseja de volta como se fosse um prêmio. É difícil se identificar com ele e o jogo deixa claro que a proposta não é de identificação, apenas da passagem de uma história.
Nesta dificuldade de identificação que o jogo se perde, não há identificação com Boyd, mas como as suas ações afetam apenas ele e as pessoas ao seu redor. Em pontos específicos da história tive de tomar decisões mais sérias, que para os padrões atuais, são quase alarmantes — como responder um protesto de feministas com violência. Caso fizesse, teria a aprovação do prefeito, caso não, resultaria em penalidade a minha força tarefa. Porém, isto nunca afeta a posição da população em relação a polícia.
No dia seguinte ao protesto, o qual eu me neguei a enviar um esquadrão, o prefeito cortou parte da verba que tinha disponível, o que já não era muita. A quantidade de crimes que podia atender reduzia, mas a população ficou em grande maioria indiferente a isto. Os crimes continuavam a ser relatados e por mais que eu respondesse com força bruta a protestos de minorias — algo que eu não apoio na vida real — a população ficava indiferente. O prefeito, no entanto, ficava contente.
Isto é, quando a máfia não se envolvia em alguns dos problemas. A máfia é o “desafio” de Boyd nesta jornada toda. Juntar um dinheiro, obviamente ilegal, para sua aposentadoria e se manter vivo. Não ajudar a máfia resulta em um término trágico para Boyd, enquanto ajuda-la, bem… não causa em nenhuma penalidade.
Você vive em um pequeno mundo onde a esfera de influência está apenas entre você, o prefeito e a máfia. Onde, no mundo real não é bem assim. O ecossistema de This is The Police é pequeno demais ao ponto de parecer ser uma sátira do mundo real.
Eu não culpo a Weappy Studio por evitar ao máximo fazer um posicionamento sobre os assuntos discutidos em 2016. Entretanto, o evitar já é um posicionamento. “Não temos nada a ver com isso, então toma um jogo que se passa em uma cidade fictícia onde problemas vividos na polícia são descritos, mas não queremos assunto, ok? ”, é assim que leio This is The Police.
Boyd se constrói como um policial bom e ruim, que é feito de idiotas por todos a sua volta, pois o jogo não te dá grande variedade de escolhas. Siga o caminho da corrupção ou siga o caminho da corrupção. Ao mesmo tempo que ele te empurra a isto, ele nunca define um bom argumento para você agir assim a não ser “falhar” na missão de conseguir o dinheiro, de ter boa uma relação com o prefeito ou com a máfia.
Em um jogo sobre “escolhas”, o que menos importa é a do jogador, mas aquela que o jogo decide. É frustrante, pois eu quero tomar decisões melhores que a de Boyd e me sinto com as duas mãos atadas. Por isso a visão satírica da coisa, problemas no mundo real são bem maiores do que o mundinho de Boyd.
Você pode argumentar que o problema com a forma que a polícia trata os cidadãos, principalmente minorias, algo muito maior do que o que é apresentado em This is the Police e eu acredito nisto. Apontar para uma coisa e falar “aqui está a raiz do problema” não exatamente a melhor solução, assim como This is The Police me mostrar um caso, me dar duas opções e falar que estas são a causa do problema fazem com que eu tenha a mesma sensação.
Satírico ou não, inspirado por acontecimentos reais ou não, a Weappy Studios tentou trazer de alguma maneira bizarra o cotidiano de uma força policial. Falhou seriamente? Falhou, mas ao menos tentou. Nisto, ao menos ganha o meu respeito.
This is the Police
Total - 5
5
Uma história fraca mesclada com um sistema de escolhas que causam pouco impacto a não ser a personagens importantes para a trama e mecânicas de gerenciamento que são entediantes. This is the Police tenta criar uma ambientação, mas nunca acerta o ponto. A história de Boyd pode ser interessante para alguns, difícil mesmo é engolir o resto.