Você já parou e pensou naqueles momentos onde parece que tudo dá errado? Ah, sem dúvida já sim. Agora, a quantidade de coisas que davam erradas na minha partida de Tharsis eram quase inimagináveis. O game que mistura estratégia, permadeath e jogos de tabuleiro está disponível no Steam a partir de R$ 27,99.
Tharsis é a exemplificação onde tudo que pode dar errado em um dia, deu. Um grupo de astronautas em viagem para investigar um misterioso sinal em Marte é atacado com uma chuva de meteoros, perde um de seus pilotos e então precisa lutar contra as adversidades do espaço. Não pegue esperando uma viagem tranquila, ele te coloca a cada turno com mais e mais problemas.
Com um sistema por turnos, ele gera tensão das maneiras mais simples e ao mesmo tempo mais eficazes. Sua nave espacial tem um limite de vida, reduzido a cada evento — problemas a serem solucionados — que estiver ativo naquele turno. Como já era de se esperar, você já começa completamente ferrado, com a nave em um péssimo estado, falhas na alimentação de oxigênio ou módulos que deixaram de funcionar.
Para resolver isso é preciso utilizar os inúteis, digo, os tripulantes da nave. Você começa com cinco tripulantes, cada um deles com uma especialidade. O médico pode aumentar a vida de quem estiver no mesmo ambiente que ele, o mecânico pode aumentar a quantidade de pontos de vida, etc. Chegar em Marte com todos os tripulantes vivos? Boa sorte, você precisará de muita.
Tharsis se assemelha a um jogo de tabuleiro na hora de resolver esses pequenos quebra cabeças, cada um dos tripulantes possui uma quantidade variável de dados a serem jogadas naquele turno. Estes, que podem ser alocados em três categorias: Reduzir os pontos para terminar o evento, armazená-los para pesquisa ou usá-los para ativar habilidades especiais do módulo onde o personagem se encontra. Por exemplo, usar dois dados em um módulo de engenharia recupera pontos de vidas da nave, em módulo de comida produz comida e por aí vai.
Jamais pense que será capaz de fazer isso em um turno só, Tharis é sobre abrir mão de certas coisas, sempre. Na minha primeira partida, me foquei demais em consertar um módulo que precisava de um total de 31 pontos. Quando cheguei no terceiro turno, lá estava eu com dois outros eventos que removiam dois dados e um ponto de vida de cada tripulante. Não deu outra a não ser uma vergonhosa derrota. Não tem essa história de que no próximo turno tudo vai se consertar ou que as coisas vão ficar melhores. Cada turno o jogo joga mais coisas na sua cara, mais problemas, menos chances de viver e por aí vai.
Minha vitória se deu após 60 partidas, uma boa dose de sorte e um pouco de canibalismo. Sim, canibalismo é uma mecânica, e essencial, para vencer. Quanto mais stress a sua equipe receber — baseado na quantidade de eventos que ocorrem ao mesmo tempo em uma nave — mais chances de enlouquecerem e comer uns aos outros. Já que estamos no mundo dos videogames, o canibalismo é visto como algo vantajoso, pois comer a carne dos amiguinhos recupera a quantidade de dados antes do início de um novo turno.
Eles foram os responsáveis por metade dos tapas na mesa que dei. Nem mesmo uma pontuação alta no dado significa sucesso, em cada evento três números são escolhidos para receberem um status especial e infernizar a sua vida. Stasis faz com que o dado não possa ser rolado novamente, enquanto void faz com que ele suma e por fim Injury machuca o personagem. Imagina que agradável você jogar seis dados, três deles darem o valor equivalente a uma Injury. E lá se foi a minha médica, uma pena pois a ia usar para recuperar alguns pontos de vida dos outros tripulantes.
Cada jogada do dado quase me fazia acender umas velas, rezar para alguns santos apesar de não ser religioso, qualquer coisa para que não caísse o maldito número que ia acabar com a minha partida. Quase todas as vezes caía.
Em cima disso tudo ainda tinha de planejar as minhas prioridades, já que há um limite de movimentação dos personagens, onde módulos mais distantes da sua posição atual fazem com que recebam um ou dois pontos de dano. É interessantíssimo ver como em cada derrota era capaz de aprender um pouco mais sobre o que deve ou não ser feito, mas fica o aviso que não tem uma fórmula pré-definida para vencer. O destino está sempre nas mãos dos dados.
Entre turnos, Tharsis tenta integrar o jogador com uma narrativa sobre a equipe, sua missão em marte e os acontecimentos após a catástrofe. Tudo isso apresentado com painéis animados e uma boa dublagem. A ideia é boa, mas se torna repetitiva devido as constantes derrotas turno após turno. Já estava desgastado de ver a mesma história pela milésima vez porque um dado não foi com a minha cara e jogou o número errado.
Foi depois da minha primeira grande vitória contra todos esses empecilhos que pude perceber que Tharsis na verdade tem perna curta. Por mais que tenha sido inspirado em jogos de tabuleiro, não há uma longevidade propriamente dita. Você pode liberar novos personagens — que no fim pouco adicionam a experiência de maneira geral — os eventos aparecem em locais aleatórios, assim como o posicionamento dos tripulantes, no início de cada partida. No fim das contas você apenas tem uma quantidade limitada de ferramentas para poder interagir.
Não que as atuais sejam ruins, muito pelo contrário, elas são extremamente divertidas, apenas que depois que uma partida é completada há poucos motivos para você voltar. Uma nave adicional, outras formas de lidar com o stress ou modificadores poderiam ajudar nessa tão querida longevidade.
Do mesmo modo que a minha viagem para Marte era apenas de ida, assim foi a minha experiência com Tharsis. É polido, divertido e com sistemas bem elaborados, mas no final do dia deixa aquele gosto de quero mais. Se gosta de passar raiva ou roer as unhas de nervoso a cada jogada do dado, não há nada melhor nesse começo de 2016 para suprir essa necessidade.