Durante um final de semana inteiro passei boa parte do meu dia em uma reflexão sobre Tastee: Lethal Tactics, o jogo por turnos da Skybox Labs e disponível no Steam por R$ 27,99. Não por me divertir exatamente, mas para entender como ele não foi capaz de perceber o quão mais divertido poderia ser quando todos os elementos necessários estavam à sua frente.
Com basicamente nenhuma ênfase na história, você controla uma equipe de mercenários em 30 missões ao redor do “mundo” para completar objetivos. Não vou entrar em méritos sobre a existência ou não de uma motivação já que o forte mesmo está na jogabilidade.
Tastee utiliza um sistema de turnos simultâneos, pouco explorado e que tem como maior exemplo Frozen Synapse, da Mode 7 Games. Cada jogador deve decidir o seu turno com base em um conjunto de informações tecnicamente incompletas e o resultado é mostrado na tela após ambas as partes completarem o turno.
É um sistema não apenas divertido, mas que recompensa planejamento e a capacidade de prever movimentos do jogador a partir de uma série de possíveis variáveis. Para adicionar uma dose a mais de complexidade, Tastee coloca um limite de personagens e um peculiar sistema de classes.
Dividido em quatro categorias principais: Shotgunner, Gunman, Bomber e Sniper; cada um oferece três variáveis com habilidade especiais. Zeke, por exemplo, é um Gunman com um sensor que revela a posição do inimigo pelos próximos cinco segundos. O Baron é um bomber que pode usar granadas de impacto ou o Augustus, um Shotgunner capaz de sentir a “presença de inimigos” nas proximidades ou por trás das paredes.
Em suma, cada classe oferece uma habilidade para facilitar o aprendizado e tornar o jogo mais atraente para quem não é acostumado com o estilo. Por ser totalmente dependente de planejamento, um sensor ajuda a tomada de decisões em cada turno. O que em tese se exemplifica como um sistema desbalanceado, não é. Algumas classes, porém, são ou extremamente situacionais ou inúteis.
Salvo as missões que eu era obrigado a levar um sniper, eles serviam puramente para habilidades secundárias do que para eliminar os inimigos. Por si só é uma unidade extremamente forte, porém o tempo de mirar e disparar no inimigo é tão alto que eles se tornam um alvo fácil em uma missão onde você não é capaz de proteger os flancos ou uma que te impulsiona a movimentar-se constantemente.
Por falar em missões, as 30 e poucas missões da campanha são, para a minha surpresa, divertidas. Objetivos podem não variar muito, porém o layout dos mapas são o suficiente para que você tenha uma curva de aprendizado suave em relação a como controlar uma equipe e fazer melhor uso das habilidades.
Boa parte do meu tempo foi gasto entre partidas multiplayer e o modo prática. Tastee usa o mesmo sistema assíncrono de Frozen Synpase em seu modo online. É possível ter mais de uma partida em andamento, enviar o planejamento do turno e aguardar os resultados.
Já o modo prática é o mais próximo do que julgo “perfeito” para esse tipo de jogo. Inúmeras fases — cujos layouts são gerados aleatoriamente — seleção de quantidade de inimigos e objetivos. Foi durante uma destas partidas que percebi como um Bomber pode ser utilizado para forçar um jogador para um “chokepoint” ao colocar pressão em um lado do mapa. Epifania que não deve ser levada como algo simplório, já que prever a ação do inimigo é meio caminho andado para o sucesso.
Se em uma mão temos um sistema bem trabalhado, na outra temos uma interface extremamente irritante. Tastee: Lethal Tactis não possui um problema estético, tudo é muito bem trabalhado, dos menus a interface de comando para designar ações aos personagens. A usabilidade, porém, aí já é outra história.
O problema começou a aparecer de maneira pouco suspeita após completar as primeiras fases. Uma tática que opto por usar é posicionar os personagens nos flancos de uma área central e fazer com que eles olhem para ela enquanto se movimentam do ponto A ao ponto B. Com isso eu tenho uma noção de uma possível posição do inimigo e posso planejar o meu turno seguinte com um pouco mais de informação.
Esta tarefa é feita por meio da ferramenta “Look”, onde você define em um waypoint onde o personagem irá olhar enquanto se movimenta. Até aí eu não vejo problema, porém o jogo trata como uma ação contínua e no próximo waypoint eu tinha de definir que ele parasse de “rodar” para observar o ponto que designei.
Isso resultou em minutos de frustração e grunhidos entre frases como: “Por que você olha para esse lado se eu não mandei? ”. Levantei meus braços por ar praticamente incrédulo após descobrir que a Skybox Labs optou por colocar um ícone minúsculo, visível apenas ao clicar sobre um waypoint para ver qual ação designada para o mesmo. Consequentemente, tinha de usar a opção “Clear Look” no próximo waypoint para que o meu personagem olhasse para a frente.
Posso soar extremamente crítico, mas clareza em um jogo tático / de estratégia é de suma importância e Tastee não consegue trazer isso para o jogador. É como jogar Company of Heroes 2 sem a informação sobre qual unidade está em fase de recrutamento, ou StarCraft 2 sem a noção de quanto falta para terminar de construir uma edificação.
Grande parte do planejamento não foi usada para decisões estratégicas que fizeram a diferença no próximo turno. Na realidade, por uma luta para garantir que os waypoints estivessem organizados corretos. Como alguém que passa mais tempo da vida em jogos de estratégia do que praticamente outra coisa, é um problema que não afeta tanto. Mas, e para a grande maioria dos jogadores?
Eu penso em Tastee: Lethal Tactics como uma oportunidade de ampliar o mercado, trazer mecânicas pouco vistas, para um público que não está acostumado a elas. E de todas as coisas mais óbvias que podiam errar, como posicionamento ou um tutorial fraco, eles erraram na inserção de comandos.
Entre a longa campanha, um multiplayer que pode ser jogado no seu próprio ritmo e um modo de treino com uma IA que é realmente desafiadora, Tastee me agradou demais. Afinal, eu tomei o meu tempo para finalmente entender as peculiaridades da interface. Por mais que seja bom e polido de maneira geral, falha em cumprir o seu objetivo, fazer este tipo de jogo algo remotamente apreciável para quem não está acostumado.
Vou voltar a jogá-lo? Sem sombra de dúvidas, isso não vai sair do meu computador tão cedo. Uma pena que não vai ser dessa vez que vemos o sistema de turnos simultâneos atingir uma maior parcela da comunidade. É realmente divertido e eu espero que mais pessoas deem uma chance
Tastee: Lethal Tactics
Total - 7.5
7.5
Quando se olha além dos problemas seríssimos na usabilidade da interface, Tastee: Lethal Tactics se mostra como um competente jogo tático que adiciona variedade a uma fórmula já estabelecida. Perfeito para um fã de jogos táticos por turno, mas que carece das ferramentas necessárias para atingir um público mais abrangente.