Eu vario entre dois tipos de humor: “Quero testar algo novo” ou “Quero voltar para o que é confortável”. Acredito que a maioria das pessoas sejam assim, mas quando o assunto tange jogos, testar algo “novo” é um conceito complicado. Às vezes pode ser um jogo de estratégia com um sistema de construção singular, outras vezes uma pequena reimaginação de um conceito. Foi o que me atraiu a cobrir “Synduality Echo of Ada” (Steam / PlayStation 5 / Xbox Series S/X), o extraction shooter da Game Studio. PvPvE e mechas? Estou dentro! Depois de algumas horas, não sabia se estava tão “dentro” assim.
Eu não tinha a menor ideia sobre o título até poucos dias antes do lançamento; e descobrir que ele faz parte de um projeto maior que envolve um anime e um mangá me pegou de surpresa. E, se você está no mesmo barco que eu, “Synduality Echo of Ada” pode ou não te ajudar a se situar no universo.
A trama do jogo é a que você espera de um jogo do gênero. A humanidade quase foi aniquilada por uma chuva chamada “Lágrimas da Lua Nova” e agora a superfície está repleta de “Enders” – nome dado aos monstros que tomaram conta da Terra. Algumas facções se arriscam para coletar recursos e para isso utilizam os “caixões-cesto” – de longe um dos nomes mais criativos que já vi para mechs – para explorar a superfície. Você é, obviamente, um deles.
Ainda que utilize a base de um extraction shooter, a equipe da Game Studio tenta dar uma sacudida com missões para um jogador inseridas entre as dezenas ou centenas de missões de reconhecimento, ou objetivos secundários que você tem que completar. O termo “inseridas” é até um pouco exagerado, já que seria melhor defini-las como “pontualmente espaçadas ao ponto de eu esquecer que elas existem”.
Ao invés do jogo dar ênfase a esses momentos durante as horas iniciais, ele prefere te colocar em um longuíssimo “tutorial” que mais atrapalha do que ajuda. Você vai aprender a como se movimentar pelo mapa, quais as possíveis ameaças, como coletar recursos especiais como os cristais AL, as diferentes armas que você possui, como colaborar com outros jogadores (mais sobre isso em breve).
Seria um ótimo tutorial se ele fosse um pouco mais compartimentalizado – especialmente para quem é novato no gênero. Mas o que ele faz é te jogar em um dos dois mapas disponíveis e falar “Então, aqui está a lista de itens que você precisa, boa sorte em encontrá-los”.
Antes que alguém me corrija, eu sei muito bem que essa é a “experiência” de um extraction shooter, mas “Synduality Echo of Ada” não se encaixa nos moldes tradicionais. Ele utiliza mechs, usa uma visão em terceira pessoa, e possui elementos como chuva corrosiva que outros jogos do gênero sequer cogitam em implementar. A ideia é justamente criar um ambiente onde novatos possam se sentir à vontade para explorar e aprenderem o “loop”.
Supostamente a visão em terceira pessoa iria “facilitar” a identificação de objetos, mas se não fosse pela minha Magus – uma IA que “controla” o seu robô – e que praticamente identifica todos os itens nas proximidades, eu jamais iria notar o que é um recurso “incomum” ou “raro”, já que ambos se mesclam com o ambiente com muitíssima facilidade.
Chego a dizer que a Magus faz mais o trabalho de identificação e obtenção de objetos do que eu mesmo. Ela é responsável por identificar locais de cristais AL – que é a sua principal fonte de renda –, avisa quase que constantemente sobre possíveis ameaças, alerta quando ouve motores de outros mechs na região e ainda tem uma habilidade especial que pode te proteger de ataques ou infligir um dano quase mortal no oponente.
Alguns podem torcer o nariz para a ideia de um personagem te ajudando na identificação de recursos, mas essa é – de longe – uma das melhores adições que “Synduality Echo of Ada” traz ao gênero. Eu raramente tenho com quem jogar extraction shooters, e muitos poucos jogos fazem uso de IA para completar uma equipe. A Magus é uma boa companheira de campo e ajuda muito a sedimentar a proposta de que “Synduality Echo of Ada” é um extraction shooter para novatos.
Notou a contradição entre o momento que você explora o mapa, tem dificuldade para aprender as mecânicas básicas que muito bem poderiam ter sido melhor explicadas via tutoriais compartimentalizados, e a boa presença da Magus? Pois é, essa é só uma das tantas contradições presentes em “Synduality Echo of Ada”.
As horas iniciais – que podem variar de 5 a 10, de acordo com o quanto você quer se arriscar na exploração – é um misto de requisições genéricas para o jogo ter certeza que você aprendeu todas as mecânicas, e uma tentativa pífia de gerar tensão entre jogadores. Imagine a minha empolgação ao completar a quinta missão de eliminar uma quantidade “X” de inimigos usando um equipamento específico…
Eu deixaria passar batido se o combate não fosse tão sem sal. A variedade de armas é baixíssima e alterna entre rifles, submetralhadoras ou espingardas. Variantes só aumentam o dano e o visual, no qual você não vai prestar muita atenção quando estiver no meio do combate.
A mesma crítica vale para os inimigos, que seguem o mesmo padrão de: inimigo voador, inimigo que explode na sua cara caso chegue perto demais, ou inimigo que avança direto em você e tem a aparência de um lobo. Como saber o grau de dificuldade deles? As cores e o dano que eles causam em seu mech. Se você recebeu uma pancada enorme e perdeu quase metade da sua vida, com certeza é um inimigo de nível “alto”.
As maiores ameaças nos mapas são os monstros citados acima e bandidos, que também variam de dificuldade de acordo com a cor. Aqui a experiência de um extraction shooter – onde um golpe pode ser fatal e você pode perder todo o equipamento, incluindo o seu mech – está presente. Fiquei até surpreso que Game Studio decidiu manter essa mecânica, sendo que ela é uma das grandes fontes de frustração para quem não é fã do gênero. Você pode pagar um “seguro” para que o seu equipamento não seja completamente perdido, mas os valores são altíssimos, e por isso pode se preparar para um grind enorme caso queira proteger o seu mech mais valioso.
Agora, o que não é necessariamente uma real ameaça são outros jogadores. Em mais uma contradição, “Synduality Echo of Ada” tenta criar um clima de “amizade” e cooperação na comunidade. Nem todo jogador que você encontrar é o seu inimigo e há múltiplos tipos de gestos que você pode fazer para desescalar ou amenizar uma situação.
Para ser sincero, eu não encontrei nenhum jogador que sequer pensou em me atacar. O mapa tem uma abundância de recursos tão grande que atacar os outros jogadores, a não ser para ser inconveniente, não vale a pena — uma experiência muito distante dos outros títulos do gênero, em que a regra é “atire primeiro, pergunte depois”. Fico até aliviado, pois, considerando o combate sem sal, os inimigos do mapa são mais que suficientes.
“Tudo bem, Lucas, mas e o modo single-player?”. Pois é, né, caro leitor. Onde ele está? Depois de você completar dezenas de missões e requisições genéricas é que o jogo finalmente te dá acesso a uma ou mais missões solo. Esse seria o ponto alto de “Synduality Echo of Ada” se não fosse por um pequeno problema: elas não fazem muito sentido.
Quando eu falei no começo do texto que o game é parte de um projeto maior que envolve um mangá e um anime, ele presume que você tenha um conhecimento básico da trama. Boa parte das missões solo, que não são muitas até onde eu joguei (40h), são bastante desconectadas do resto do jogo, lineares, e normalmente se resumem a você entrar em uma caverna ou seguir um caminho específico, eliminar mechs inimigos, e coletar informações sobre quem está por trás da destruição da cidade de Amasia. Ah, e não precisa se preocupar caso morra em uma das missões solo, você não perde o seu mech ou equipamento.
Eu teria me importado mais com a cidade se ela tivesse algum peso no restante do jogo, mas quanto mais informações eu coletava, mais desinteressado eu ficava na trama em si. Boa parte dos detalhes cruciais estão escondidos em uma linha do tempo que precisa ser preenchida ao completar requisições no modo extraction shooter. Sentia que estava tentando resolver um quebra-cabeça sem fim e sem propósito.
Pode ser que alguém que tenha um conhecimento mais aprofundado do anime e do mangá aprecie o esforço da desenvolvedora, devore as informações da linha do tempo e fique feliz em pilotar os mechs. Essa pessoa não sou eu.
Em partes, eu creio que nem mesmo a Game Studio consegue resolver esse quebra-cabeça que ela própria criou. O mar de contrastes e experiências presentes em “Synduality Echo of Ada” é tão discrepante que seria melhor se eles fossem dois jogos separados.
Eu aprecio, e muito, a tentativa da desenvolvedora em tentar criar um extraction shooter mais amigável e, de todos o que eu joguei – e olha que não foram poucos – esse foi o que chegou mais perto de manter o loop principal e ter uma identidade própria. Mas o preço que ela paga em separar recursos para as missões solo é alto demais. Uma pena, ele me parecia tão promissor.
Synduality Echo of Ada
Total - 6
6
A tentativa de ser um extraction shooter e um jogo solo ao mesmo tempo é um preço altíssimo para “Synduality Echo of Ada”. Das experiências assustadoramente contrastantes à pouca variedade de inimigos, ele perde o fôlego e o potencial muito antes de seu final. Ainda acredito que o conceito possa sair do papel, mas não do jeito que a Game Studio fez.