“Para que servem todos esses números?”, “Ah, são as estatísticas dos meus jogadores”, respondi. “Mas… parece uma planilha”. Bom, a pessoa não estava errada, eu olhava para a minha equipe em “Super Mega Baseball 4” (PC / PlayStation / Xbox / Switch) e tentava descobrir se valia a pena ou não mexer nela ou esperar a próxima temporada. Baseball tende a ser um esporte assustador para se aprender, mas não precisa ser. Ao menos não com o game da Metalhead.
Desde o primeiro jogo da franquia a desenvolvedora tem uma mentalidade bem clara: Baseball deve ser acessível para todos, oferecer altíssimos graus de personalização e modos de jogo distintos o suficiente para que você possa jogar uma partida rápida de 15 minutos ou se aventurar em mais de 4h seguidas em uma liga — seja online ou não — sem previsão de terminar.
O quarto game não se diferencia muito nesse aspecto de “Super Mega Baseball 3”; a fundação do sistema de pitching e rebatimento permanece inalterado. Use um dos botões do controle ou o analógico para acertar a bola na hora de rebater, escolha um dos diferentes arremessos e aperte um botão para arremessar a bola. Ao contrário de outras franquias como MLB: The Show, a curva de aprendizado é bem mais leve e em boa parte do tempo o jogo “ajusta” a dificuldade ou te dá um empurrãozinho na direção certa para você acertar a bola.
Essa proposta foi que me manteve por horas, dias, semanas investido em “Super Mega Baseball 3”. Quando eu não jogava uma partida rápida com um dos times padrões, eu criava o meu próprio time e o colocava na rotação em uma liga “imaginária” com os meus próprios parâmetros. As ligas, a meu ver, são o ponto mais forte de “Super Mega Baseball 4”, e essa quarta versão mostra de forma bem clara o motivo disso.
A principal adição para as ligas e as equipes “Super Mega Baseball 4” é um sistema de “química”, não tão diferente do que se vê em jogos de gerenciamento esportivos. Agora, além de traços específicos para cada jogador, ele agora tem uma habilidade passiva de “química”. O jogo conta com cinco tipos de “químicas” diferentes: Spirited, Crafty, Disciplined, Competitive, Scholarly. Tais “químicas” andam de mão dadas com os traços específicos de cada jogador, aumentando a potência deles ou reduzindo-os consideravelmente.
Vamos pegar o seguinte exemplo: Você tem um jogador que tem mais proficiência em rebater contra arremessadores canhotos, mas por conta de ele ter a química “Disciplined” e contar com outros dois jogadores na equipe que também são “Disciplined”, essa proficiência pode ser aumentada em 50% ou dobrada dependendo da partida.
O que faz o sistema ainda mais interessante é que ter uma “química” alta nem sempre é algo positivo. Jogadores que possuem menos chances de pegar uma bola vão ter essas chances reduzidas quando o seu time for composto de apenas um ou dois tipos de jogadores com “químicas” específicas.
O sistema de pressão – que ocorre quando você está prestes a ganhar ou perder uma partida – também se entrelaça com a “química” e impacta ainda mais as chances de errar ou acertar. Nem sei quantas partidas eu ganhei no último inning e ergui os braços em um misto de felicidade e alívio depois de ver que meu rebatedor estava com -25 pontos de precisão devido a junção de um alto nível de pressão, uma “química” baixa na minha equipe, e um traço de já não ser muito bom em rebater.
Eu aprecio muito que a Metalhead não decidiu seguir o caminho de tantos outros jogos de gerenciamento onde os bônus ou prejuízos são pífios — porque aqui eles são impactantes. Não preste atenção na química de seus jogadores e você pode ter a mais absoluta certeza de que aquela partida crucial para a sua vitória poderá escapar das suas mãos por conta de um ou mais jogadores desajeitados.
Não é à toa que eu pulei de cabeça para criar a minha liga especial e começar a montar o time dos meus sonhos em “Super Mega Baseball 4”; todos os componentes que um fã de Baseball e alguém que gosta muito de gerenciamento quer agora estão presentes no título da Metalhead.
Horas e mais horas se passaram vendo planilhas, estatísticas, verificando a posição dos outros times, quais eram os seus melhores jogadores e se eu poderia abocanhá-los para o meu time na próxima temporada. Se não fosse pela parte de jogar a partida em si, poderia muito bem falar que “Super Mega Baseball 4” é uma versão bastante simplificada de um gerenciador como “Out of the Park Baseball” – o que deve soar como um sonho para os fãs mais dedicados do esporte.
Entretanto, fãs de Baseball vêm nos mais diferentes tipos e formatos, e aqueles que não se interessam muito pelas ligas ou esperavam algo a mais além da introdução de uma única mecânica – por mais fascinante que ela seja – vão ficar decepcionados.
O restante de “Super Mega Baseball 4” permaneceu praticamente igual, ou piorou de uma forma ou outra — o que não é o que se espera de praticamente quatro anos desde seu antecessor. A interface recebeu uma boa e necessária repaginada, mas os times em si continuam os mesmos, assim como as suas opções de personalização. Sei que nem todo mundo tem tempo ou paciência para “criar” um time do zero, mas não custava nada adicionar novos tipos de equipamentos, novos padrões para as vestimentas ou novos rostos.
A Metalhead até tenta compensar com a adição de 200 ex-jogadores da MLB, o que é de fato uma incrível adição… se você gosta de Baseball. Pois, se você é um novato no gênero, a maioria dos nomes vão ser desconhecidos para você. Quem foi Babe Ruth ou qual a importância de David Ortiz? “Super Mega Baseball 4” não é o tipo de jogo que vai te dar essa resposta.
Essa carência de “novidades” fica ainda mais aparente para aqueles que aproveitam “Super Mega Baseball 4” por meio das partidas rápidas ou torneios. Se não fosse pelas mudanças visuais e os novos estádios, a maioria das pessoas iriam achar que é “Super Mega Baseball 3” num relance. De novo, não que a jogabilidade em si dele esteja ruim, mas depois de quatro anos, a falta de ênfase nessas categorias de jogo de fato começa a incomodar. Sei que é aquela história de “não mexa no time que está ganhando”, mas a Metalhead não poderia ter colocado uma ou outra novidade — como um ciclo de dia e noite, ou ao menos novos tipos de machucados?
A própria IA em si aparenta ter recebido pouquíssimas melhorias nesse meio tempo. A minha principal tática em “Super Mega Baseball 3” era lançar uma bola curva contra o primeiro rebatedor oponente e em 90% dos casos ele recebia um strike. Tentei a mesma tática em “Super Mega Baseball 4” e adivinha? O mesmo ocorreu. Decepcionante.
Eu sei que, no fundo, a maioria das críticas — ao menos em termos de IA — podem ser melhoradas com algumas atualizações e, se “Super Mega Baseball 3” foi algum parâmetro, esse jogo vai ser refinado por um bom tempo — o jogo anterior recebeu sete grandes atualizações que praticamente mudaram a cara dele e me fizeram voltar a jogá-lo. Ao menos todas as adições do terceiro já estão presentes no quarto e nada foi cortado, o que já é meio caminho andado, e agora a Metalhead pode se focar em aparar as arestas.
“Super Mega Baseball 4” ainda mantém uma posição “única” no cenário de esportes. É um dos poucos jogos que não é recheado de microtransações, que pode ser jogado tanto por quem é novato ou sequer entende de baseball quanto pelos veteranos mais ferrenhos. Ele engloba uma comunidade gigante (embora de nicho) como nenhum outro.
Também sei muito bem que eu sou um gigantesco fã do sistema de ligas e não tenho a menor sombra de dúvidas de que eu vou criar uma, duas, dez ligas diferentes ao longo do ano. O novo sistema de química e sua interligação com os traços de cada jogador já são motivos suficientes para que eu faça isso. Mas também sei muito bem que eu sou um ponto fora da curva, o tipo de fã de “Super Mega Baseball 4” que vai ficar aficionado pelas tabelas, que vai pensar e repensar por horas antes de contratar um novo jogador, estabelecer a melhor equipe possível e vê-la evoluir ao longo dos anos.
Para o restante dos jogadores, a sensação de que “Super Mega Baseball 4” não é nada mais do que “Super Mega Baseball 3.5” é difícil de ignorar. Por um lado, a Metalhead fez muito bem em ter um excelente suporte pós-lançamento para o seu título antecessor; por outro, o foco demasiado nas ligas e em jogadores reais de “Super Mega Baseball 4” aparentam tentar atrair uma comunidade que já está muito bem servida com jogos como MLB: The Show.
Pode ser que um dia conte as minhas presepadas com as ligas que criei em “Super Mega Baseball 4”, mas até lá, eu acredito que boa parte dos jogadores permaneça em “Super Mega Baseball 3”, e por um bom motivo. É mais barato, ainda mais no Brasil, e as adições não fazem muito sentido se você já não curte Baseball. A não ser que você esteja sedento para criar uma nova liga ou tenha amigos e dinheiro sobrando para criar uma liga online, eu recomendo o mesmo.
Super Mega Baseball 4
Total - 8
8
“Super Mega Baseball 4” ainda preenche uma lacuna nos jogos esportivos em que poucas empresas estão dispostas a investir: um jogo que abrange tanto novatos quanto veteranos, não está atolado de micro transações, e não requer horas de investimento para começar a jogar. Entretanto, o foco excessivo nas ligas, a carência de novas opções de personalização, e problemas recorrentes com a IA fazem com que ele pareça mais uma pequena evolução do que a sequência que eu imaginei.