Quem me conhece e acompanha o site não vai ficar surpreso com meu amor por Steel Division: Normandy 44. O game da Eugen Systems entrou na minha lista de favoritos de 2017 com seu sistema de “fases”, a variedade no multiplayer e a temática da Segunda Guerra Mundial. Mas sempre faltou um elogio importante: conteúdo para um jogador. Back to Hell (Steam), seu segundo DLC, resolve em parte o problema.
Como apontei na minha análise original, as missões de Steel Division serviam para treinar o jogador para o modo multiplayer, carro chefe dos games da Eugen desde R.U.S.E. A inteligência artificial não provia desafio, um timer desnecessário trazia uma falsa sensação de emergência e o “Dynamic Front Line”, mecânica usada para demonstrar tanto o avanço como o recuo das tropas (além de qual porcentagem de território o jogador controla) deixava tudo ainda mais insalubre. Foi com essa mentalidade que selecionei a minha primeira missão de Back To Hell, “Operation Bluecoat”, e com essa que quebrei a cara de forma majestosa.
A ofensiva final britânica, ocorrida de 30 de julho a 7 de agosto de 1944, tinha como objetivo capturar a encruzilhada da cidade de Vire e avançar o front; em Steel Division, isto se reflete em uma batalha de menor escopo próxima às cidades de Cahagnes e Le Londe. Jogável tanto solo como em modo cooperativo – um dos atrativos de Back to Hell — decidi comandar a 6th guards Tank Brigade e seu impressionante arsenal de tanques Churchill VI, VII e Churchil OP – o último, usado como artilharia. Os primeiros cinco minutos da missão já me mostraram que, dessa vez, Steel Division não estava para brincadeira.
Se meu regimento se sobressaía em tanques, ele pecava em unidades de suporte e reconhecimento; dependia de outro jogador para vasculhar a área por possíveis ameaças. Não dei muita importância para isso de início, pois estava acostumado com a inteligência artificial de Steel Division e sabia que não eram muito bons em estabelecer defesas.
Até o primeiro tiro de uma defesa antitanque fixa penetrar um dos meus Churchill VI e deixar os outros em pânico.
Em instantes requisitei apoio com cortinas de fumaça enquanto desesperadamente recuava os meus tanques, já que não tinha pontos para repô-los até o início da segunda fase – que me daria acesso a novos e mais poderosos tanques. Estava preso em um inferno de cercas vivas e atrás das linhas inimigas sem saber o que exatamente me esperava.
“Não senhor, não é assim que Steel Division funciona, era para eu ter controlado Le Londe a esta altura!”, vociferei, incrédulo com a perspicácia da inteligência artificial em remanejar as unidades e rapidamente cobrir possíveis brechas na frente de batalha.
O timer para controlar as cidades pode não estar presente, mas a pressão, ah, esta chegou em dobro. Aviões de reconhecimento e infantaria começaram a abrir caminho para a minha coluna de tanques; em poucos minutos já tinha demarcado alvos de interesse e começava a real ofensiva no primeiro objetivo, que depois de dura luta foi tomado. Agora era questão de reorganizar os tanques, requisitar aviões de bombardeio, comboios com munição e partir para Cahagnes. Mal sabia eu que era tarde demais.
Surpreendido mais uma vez pela excelente movimentação da inteligência artificial, descobri que a cidade tinha se tornado uma pequena fortaleza. Defesas fixas antitanque bem posicionadas tinham um campo de visão de mais de 500 metros, e meus tanques – por mais espessa que fossem as suas proteções – teriam dificuldade não só em avançar, mas em conseguir avançar sem entrar em pânico e tomar alguma decisão arriscada.
Com dura luta, e 40 minutos depois, a cidade de Cahagnes caiu; estava nas mãos dos aliados. Agora era só defendê-la por dez minutos e a vitória seria minha. Vi no horizonte novos ícones de tropas inimigas ainda não identificadas, e para o meu desespero era uma coluna de Stug IIIs, excelentes para transformar meus terrivelmente posicionados Churchills em picadinhos. Dez minutos foi tudo o que demorou para os reforços alemães desfizessem todo o meu plano. Dez minutos e uma operação moderadamente executada foi por água abaixo.
O pior de tudo? Estava no Very Easy.
Prefiro evitar constrangimentos e não comentar como foram as minhas desastrosas tentativas de completar as missões de Caumont’s Gap ou a batalha de Mont Ormel (Hill 262), em ambas das quais gastei horas e mais horas repensando as minhas táticas para gradualmente elevar a dificuldade e vencer todas as batalhas.
Já não sabia mais se o que jogava ainda era Steel Division; mais parecia uma partida de Graviteam Tactics: Mius Front ou de Close Combat. Jamais havia sentido tanta tensão em um modo para um jogador criado pela Eugen Systems. Os detalhes das missões históricas davam um novo peso às minhas ações. Era esse o motivo pelo qual eu tinha tanta preferência pelas campanhas dos ucranianos da Graviteam, a sensação de risco – de que vidas estavam em jogo.
Outro fator que colaborou consideravelmente para essa sensação foi a redução gradativa do sistema de atrito nas missões de Back to Hell. As missões do jogo base acabavam em uma constante batalha de “quem lentamente tomava mais território”, o que funciona perfeitamente bem no multiplayer; no single player, no entanto, tudo desmoronava por conta da IA que praticamente “estacionava” as tropas no mapa. Fui cercado, aniquilado, pego de surpresa. Era isso que tanto almejava desde o começo da série Wargame: que o dinamismo ficasse para as batalhas em si, não em um mapa de campanha (no caso de Wargame: Red Dragon) ou em ficar otimizando o seu deck de cartas. O importante era no momento em que o primeiro disparo fosse deflagrado.
Perceba que nem mencionei ainda as quatro novas divisões – 7th Armoured (Desert Rats), Festung Gross-Paris, Demi Brigade SAS e 2.Panzerdivision – adicionadas para o modo multiplayer, sendo os Desert Rats a minha favorita. Munida de uma variedade espetacular de tanques na fase B, ela tem sido o meu deck principal para partidas 2vs2. Tanques Cromwell para reconhecimento ou artilharia e Wasp Mk.IIc carregado com lança-chamas e um esquadrão fazem dessa divisão versátil uma escolha capaz de tomar rápido controle do mapa e mantê-lo assim durante as fases A e B. Com sorte, os mais experientes saberão usar melhor o deck na fase C.
Steel Division: Normandy 44, mesmo com sua comunidade pequena, continua como um excelentíssimo jogo multiplayer e agora também com um ótimo componente single-player graças ao Back to Hell. Queria que não viesse na forma de um DLC? Sem dúvida, mas ele me dá esperança de que, quem sabe, a Eugen faça mais missões históricas e aprimore futuras campanhas. Steel Division: Market Garden? Não custa nada sonhar.
Steel Division: Normandy 44 - Back to Hell
Total - 9
9
Missões históricas roubam a cena de Back to Hell de Steel Division: Normandy 44, um conteúdo excelente para um jogo que carecia de mais atenção àqueles que preferem partidas contra a IA. Se a Eugen Systems já havia se provado no multiplayer, agora ela acerta a mão no single-player. Que isso se reflita em suas futuras produções.