Ao começar a jogar STASIS é difícil não traçar paralelos com jogos como Sanitarium ou a influência de filmes como o Enigma do Horizonte. O que poderia ser limitado apenas a uma mera homenagem, na realidade consegue se desprender de suas influências e fazer o seu próprio caminho. Ele está disponível no Steam por R$ 45,99.
Você controla John, um homem que ia com sua esposa e filho a uma viagem de férias para um outro planeta. Ele agora se encontra em uma nave de pesquisas científicas, sem memória do que aconteceu e claramente algo deu muito errado na estação.
Não nego que irá dividir opiniões, a escolha de câmera por si só afastará muita gente por achar que em uma ambientação de terror não funcionaria, eu mesmo fui assim. Felizmente é justamente o contrário. Em todas às vezes eu fui pego completamente desprevenido, o que resultou em meu mouse ser tacado pela parede ao menos uma vez. Do momento em que comecei a descobrir mais sobe John e a nave de pesquisa, mais eu queria continuar a jogar.
Enquanto a trama principal se desenrola por meio de cinemáticas, o que interessa em STASIS são os data logs, relatórios encontrados em terminais, PDAs e outros itens espalhados pelo cenário. Com eles pude aprender o que aconteceu nas últimas horas antes do começo de STASIS e qual era o intuito dela.
A descrição de alguns acontecimentos é de dar calafrios. São estes relatórios detalhados, descritos pelos pontos de vista da tripulação, como uma enfermeira que ao se sentir desconfortável com alguns experimentos, decidiu trocar de cargo apenas para descobrir que as coisas eram piores do que imaginava.
Pelas mais de sete horas que dura a história, naveguei por áreas como laboratórios de pesquisa, centros médicos, todos alterados por aquilo ou aquele que havia tomado conta da nave. Corredores cheios de sangue, terminais destruídos e outras áreas ainda mais bizarras. Todos eles foram pré-renderizados e oferecem uma boa dose de realismo sem prejudicar aqueles com máquinas menos potentes. É um estilo pouco usado hoje em dia, um que eu gostaria que voltasse. Criados com a resolução de 1280×720, eles acabam borrados em monitores com resoluções maiores, o que é uma pena, mas não prejudica tanto na imersão.
Queria que o mesmo empenho tivesse sido dado aos modelos, que pecam tanto na modelagem quanto animação. Eu estou acostumado a jogar alguns games com umas animações estranhas, mas STASIS tem isso até mesmo ao usar um item ou abrir uma porta.
Após os primeiros minutos de jogo, já fiquei empacado no meu primeiro puzzle, um dos elementos chave para progredir em STASIS. Para quem viveu os últimos dez anos batendo a cabeça contra essa nova onda de “adventures” onde a história fica em primeiro plano e os quebra cabeças são deixados de lado, jogar STASIS foi refrescante.
Ainda que consiga fugir das soluções bizarras do passado, ele não facilita na hora da complexidade dos puzzles. Tirando dois ou três onde fiquei realmente empacado – entenda o “realmente” no sentido de horas – qualquer um com uma boa dose de bom senso e paciência conseguirá resolve-los sem problema.
Para alguns deles foi preciso uma dose de backtracking – voltar a áreas anteriores para pegar um item ou informação – o que tende a ser um pouco cansativo. Isso pode ser prevenido em grande maioria se prestar atenção no cenário já que alguns itens estão muito escondidos. Um botão dedicado a ressaltar locais que pudessem ser interagidos em cada mapa teria vindo a calhar.
Após ter feito alguns puzzles, chegou a hora de STASIS mostrar que não estava para brincadeira, esqueci de girar uma válvula e na hora de perfurar um tanque de ácido, ele espirrou em John e o transformou em uma massa que pouco lembra um humano. Essa é apenas algumas das mortes assustadoramente violentas que acontecem em consequência de falhar certos quebra cabeças.
No geral não concordo com punições, como a morte, em adventures. Boa parte delas são mal implementadas. Enquanto era o intuito dos desenvolvedores promover o aprendizado por meio delas, elas frustram mais do que ensinam. STASIS foge desses problemas de forma simples, após morrer você é colocado no começo do cenário, sem perder progresso e ainda com o conhecimento do que fez de errado e o que deverá ser feito para que não aconteça novamente.
Enquanto os créditos rolavam na tela, fiquei positivamente impressionado na marca que STASIS havia deixado em mim. Ele não levantou grandes questões, nem fugiu para alguma trama obscura e sem sentido. É o mais puro terror no espaço, é a ideia de estar preso em um ambiente que coisas assustadoras aconteceram e ter que de certa forma vivenciá-las novamente para sobreviver. Com sua jogabilidade pouco comum atualmente e sua ambição sem igual colocou muito jogo grande no bolso e mostrou que para um jogo de terror, o que precisamos as vezes é apenas uma boa história e imaginação.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela The Brotherhood