A minha primeira incursão aos derelitos espaciais conhecidos como Space Hulks em Space Hulk: Deathwing não foi muito bem proveitosa, para não dizer desastrosa. O game da Streum On Studio chegou repleto de pequenos problemas. Desempenho mediano, sistema de missões que pouco aproveitava os enormes e espetaculares mapas, e um sistema de progressão fraco. A versão Enhanced Edition, (PC / PlayStation 4) é o que o shooter em primeira pessoa deveria ter sido desde o lançamento.
Por ser uma “reavaliação” do game — algo que raramente faço — recomendo ler o nosso texto de 2016 para entender as principais mecânicas. Em suma, você é um esquadrão dos Deathwings, um dos “Chapters” dos Space Marines, especializado na incursão e eliminação de possíveis ameaças dos GeneStealers, uma raça alienígena que usa esses derelitos — tipicamente antigas espaçonaves do Império — como moradia.
A campanha em si não sofre muitas mudanças na progressão. Explore mapas que podem demorar até uma hora para serem completados, elimine uma meia dúzia de Genestealers, volte para receber novos objetivos, repita ad infinitum. Monótona da primeira vez e monótona da segunda vez. Parabenizo a Streum On Studios, porém, por aumentar a quantidade de pontos de salvamento automáticos entre as missões (nada pior do que ver todo o seu esforço ir por água abaixo porque o jogo decidiu te jogar de volta para o último save), e especialmente a variedade de inimigos.
Antes era uma festa de chatice com GeneStealers que variam entre “um modelo menor e mais ágil”, depois outro modelo “um pouquinho menos ágil e mais poderoso” e por fim o tradicional “Genestealer esponja de balas”. Fora estes, apenas inimigos munidos de metralhadoras ou lança-mísseis que raramente proviam alguma forma de desafio. Felizmente a Streum On corrige isso com duas novas variantes — um genestealer capaz de cuspir veneno e possivelmente incendiar regiões, e outro que explode ao contato. Parece pouco, mas adiciona um grau extraordinário de posicionamento tático – do qual Space Hulk: Deathwing tanto carecia.
Mencionei no meu artigo original o quanto eu gostava de ter de “criar o meu próprio plano” para navegar por essas espaçonaves, coisa que vi exclusivamente durante a terceira missão; fechava e bloqueava portas para que os Genestealers não me aniquilassem, analisava o mapa para outra rota mais segura. A inclusão dos novos Genestealers e sutis melhorias no seu comportamento de priorização de alvos e navegação pelo cenário na Enhanced Edition transformam o que era esporádico em algo essencial.
Até a campanha principal se tornou mais arriscada. Bloqueava portas na expectativa que um Genestealer não viesse ao meu encontro e explodisse o bloqueio que eu criei, meu radar piscava enlouquecidamente de tantos alvos que estavam ao meu redor. Respirava fundo, torcia para que não falhasse dessa vez, e seguia em frente.
O que rouba a cena — e o motivo pelo qual eu recomendo a todos que tenham Space Hulk: Deathwing que o revisitem se puderem – são as Special Missions. Deathwing tinha uma carência extrema de “replayability”. Terminou o single-player? Que pena, há poucos motivos para você jogá-lo novamente, ainda mais que o modo online era só a campanha com a dificuldade ajustada para mais jogadores. Agora, as Special Missions? Ah, senhoras e senhores, nessas eu gastei mais horas do que eu estou disposto a assumir.
A Streum On pega os incríveis cenários da campanha e o transforma em um imenso playground com múltiplos objetivos aleatórios. Podem carecer um pouco de originalidade — resumindo-se frequentemente a “vá até um lugar e elimine os Xenos” e depois ative um termina” — mas o fato de serem mais curtas e dinâmicas do que os objetivos vistos na campanha é suficiente para garantir a sobrevida que eu tanto desejava. Além disso, todos os pontos de “spawn” dos Genestealers também são aleatórios; pois é, acabou a festa de fazer uma missão e achar que é o “maioral”. Junto a isso, a Enhanced Edition traz um extenso sistema de personalização cosmética para quem gosta de eliminar Genestealers com estilo, e uma versão mais robusta da classe Chaplain. Não ligo muito para a classe ou para personalização. O primeiro por não ser uma classe que costumo jogar — mas tenho certeza que outros irão amá-la pela habilidade de ressuscitar uma equipe inteira — e o segundo porque renown (moeda usada para comprar vestimentas e banners para os personagens) requer um “grind” maior do que eu esperava. Por outro lado, todas as armas estão automaticamente liberadas no multiplayer.
Os problemas de desempenho? Sequer os vi. Nem parece o jogo que suava para não fazer a taxa de quadros ficar instável no momento que uma meia dúzia de inimigos aparecia na tela.
Essas novidades, particularmente as Special Missions, dão um tom muito mais próximo ao jogo de tabuleiro do qual ele tenta trazer alguma reminiscência, comparado à versão de 2016. Me peguei preso em corredores claustrofóbicos ao invés das áreas centrais das naves, fechei dezenas de portas para garantir que a única entrada para o local onde eu estava fosse o foco de atenção da minha equipe. Finalmente senti o que tanto queria em Space Hulk: Deathwing: a sensação de perigo.
Não creio que Space Hulk: Deathwing vai conquistar novos adeptos, ainda mais pela movimentação glacial dos seus personagens e os efeitos visuais exagerados, que ainda são um problema quando a coisa esquenta e você tem vinte, trinta ou mais Genestealers na sua frente e não consegue enxergar o que acontece na tela. Isso para mim faz parte do charme do game; a sensação de se movimentar com uma armadura imensa e pesada, calcular os seus passos e saber quando se deve correr ou quando se deve lutar pela sua vida. Além do que, nada melhor do que um tremendo exagero em, bem, absolutamente tudo, para encapsular o que é o universo Warhammer 40K.
Há de se dizer que o “timing” da Space Hulk: Enhanced Edition não é perfeito, ainda mais em um ano que temos Warhammer: Vermintide 2 e seu estilo Left 4 Dead, que não só é mais fácil de ser compreendido, como oferece uma campanha mais linear e arestas mais bem aparadas. Todavia, como um fã de Warhammer 40K que torce para que todos os (inúmeros) projetos que a Games Workshop trabalha em conjunto com as desenvolvedoras sejam positivos, fico feliz em ver que um dos mais promissores recebeu o tempo e a atenção que necessitava.
Space Hulk: Deathwing Enhanced Edition
Total - 8
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A Enhanced Edition de Space Hulk: Deathwing corrige os principais problemas do original, aumenta exponencialmente a variedade de missões e te dá razões mais do que suficientes para dar uma segunda chance a este ambicioso game.