Não é de hoje que vejo um constante aumento de jogos, ou fãs até, que jogam apenas o que deve ser considerado o mais difícil possível. Jogos que tenham as mecânicas mais profundas e maior quantidade de elementos para deixá-los engajados. Song of The Deep, disponível por R$99,99 no PC e R$ 120,00 para PlayStation 4 e Xbox One, nada totalmente contra esta a maré.
Apesar de considerado um metroidvania, não é um jogo que eu quero colocar debaixo da mesma luz do que Axiom Verge, Super Metroid, dentre muitos outros. Estes se apoiam principalmente nas mecânicas para evoluir junto com o jogador, enquanto o game desenvolvido pela Insomniac Games usa os sistemas para contar uma história, e uma bonita e sem pretensões.
Merryn é a filha de um pescador, que antes de dormir sempre lhe contava histórias sobre estranhos seres no fundo do mar. Um dia, seu pai desaparece e ela decide, com a ajuda de um pequeno submarino, descobrir o que aconteceu.
Os principais atrativos estão na maneira que a narrativa se desenrola, além da maravilhosa e variada ambientação subaquática desenvolvida pela Insomniac. Um ótimo narrador para contar as partes importantes ao invés de cinemáticas constantes também colabora para não quebrar a imersão.
Não me sinto intensamente desafiado, mas sim relaxado e consequentemente mais motivado a explorar. As vezes encontrava uma fenda que não podia acessar naquele momento devido a uma falta de um objeto, não me preocupava. Sabia que não tinha de passar por uma meia dúzia de inimigos ou ser forçado em uma situação “sobreviva o máximo possível” que ia me incomodar mais do que me divertir.
Falar que o combate de Song of The Deep é imaginativo seria um exagero, apenas cumpre o propósito o qual foi criado e estabelece situações interessantes. O submarino de Merryn não é uma máquina de guerra; armado com um gancho o máximo de dano que pode causar é ao agarrar objetos espalhados pelo cenário e arremessa-los aos inimigos. É uma interessante visão como o veículo é uma extensão do personagem, que diante de todos os empecilhos, segue em frente com uma coragem única em busca de seu pai.
Ao remover o véu que justifica a forma que o combate se apresenta, a suposta fragilidade e coragem demonstram a necessidade de posicionamento sem que o jogo te segure pela mão ou sofra de um tutorial massivo. As primeiras tentativas serão desastrosas, assim que pegar o jeito você estará navegando pelo fundo do mar tranquilamente.
O uso do gancho e outros apetrechos como um “boost” para o motor do submarino também são a base para dos puzzles de Song of The Deep. Se é que posso chamá-los de puzzles. Minhas expectativas não estavam muito altas para este aspecto e nem assim elas foram supridas.
Os momentos onde o jogador se vê diante de um puzzle falham em estimular qualquer pensamento. Sempre constituem de um local impassível junto com uma possível chave ou algum elemento onde você tem de usar o gancho. Empecilhos ao invés de quebra-cabeças, divertido nos primeiros minutos e maçantes no restante da jornada.
Toda vez que eu via mais uma porta fechada era a sentença que levemente diminuía a minha vontade de explorar. Áreas inacessíveis por não ter um item específico são interessantes pois me dão motivos para voltar e ver o que tinha. O jogo ativamente bloquear o meu progresso por um tão chamado “puzzle”, é irritante. Entendo a necessidade destes artifícios para grande maioria dos jogadores, pois afinal sem eles alguns poderiam achar a progressão “básica” demais. Em mim, causa um efeito contrário.
A viagem de Merryn em busca de seu pai me manteve entretido e maravilhado ao longo das sete e tantas horas. Talvez ela pudesse ser contada sobre outro aspecto, com outras mecânicas que a tornassem ainda mais interessante, ou com menos foco em ter de provar que é um “jogo” pela inclusão de elementos como os puzzles.
A Insomniac ao longo de sua trajetória como desenvolvedora sempre foi capaz de criar personagens com os quais os jogadores se sentem ligados e Song of The Deep é mais uma prova disto. É longe de ser perfeito, como todo jogo, mas cativante o suficiente para você se deixar levar por aquele mundo subaquático. Algumas pedras no caminho podem desagradar mais alguns do que outros.
Para quem consome constantemente jogos onde o jogador é a “única salvação”, a mudança de ritmo para o intimismo de Song of The Deep é ótimo. Uma das poucas oportunidades neste ano — junto com Inside e outros games— que pude sentar, apreciar a paisagem, a belíssima trilha sonora e ambientação que me foram providas.
Song of The Deep
Total - 7.5
7.5
Mesmo que não consiga acertar a mão quando o assunto é puzzles, Song of The Deep é uma fantástica história de uma corajosa garota aliada com alguns dos cenários mais belos que já vimos este ano. Não é feito para quem quer desafio, mas sim, apreciar um game sem grandes pretensões e ter a possibilidade de explorar no seu ritmo.