Abria a tabela de liderança, via a minha pontuação e a pontuação da pessoa acima de mim. “Como essa pessoa conseguiu chegar nessa dimensão enquanto eu continuo preso na sexta?!”. Bem, a resposta mais óbvia é falta de habilidade da minha parte. A segunda é que eu, por muito tempo, subestimei os sistemas de “Teeenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge” até pôr as mãos em “Dimension Shellshock” (Steam / PlayStation / Xbox / Switch)
Tal como outro jogo publicado DotEmu — “Streets of Rage 4”, “Dimension Shellshock” chega para arredondar um Beat ‘Em Up que por si só já é excelente. Porém, onde o DLC “Nightmare of Mr X” trouxe novos elementos que se tornaram cruciais para eu apreciar ainda mais “Streets of Rage 4”, “Dimension Shellshock” se volta para elevar conceitos de combate que até então via como supérfluo.
Eu não sou o tipo de pessoa que tende a realizar partidas em modo coop e a campanha base de “Shredder’s Revenge” é o playground perfeito para quem curte. A desenvolvedora Tribute Games compensa a ausência de táticas e movimentos mais elaborados com um bom “arroz com feijão” que qualquer um pode pegar o controle e jogar sem muito esforço. É perfeito para um jogo das Tartarugas Ninja, mas não se encaixa nas minhas preferências quando se trata de Beat ‘Em Ups.
“Dimension Shellshock” pega parte dessa receita e leva para um modo “arena” onde diferentes tipos de inimigos aparecem de todos os cantos. O modo sobrevivência é separado em “dimensões”. Para completá-las, é preciso coletar uma determinada quantidade de cristais. Quanto mais longe você chegar, mais cristais são necessários e mais variados são os inimigos e os modificadores (mais sobre eles em breve).
“Mas Lucas, é assim que modos de sobrevivência / arena tendem a funcionar!”. Sim, eu sei caro leitor, mas o que a maioria deles não faz é elevar mecânicas que podem muito bem passar despercebidas pelo jogador na campanha principal.
Quando comecei a jogar o DLC, fui com o meu personagem favorito — Casey Jones —, e comecei a notar que eu não estava mais tão… entusiasmado em jogá-lo. O seu combate fluía muito bem na campanha, mas não muito para “arenas apertadas”. Claro que eu poderia ter “forçado a barra” e visto até onde chegar com ele, mas preferi trocar para um dos novos personagens inclusos no DLC, Usagi.
Falar que caí de amores por ele na minha primeira rodada do modo sobrevivência é pouco. Esse era o tipo de personagem que eu esperava na primeira leva de “Shredder’s Revenge”. É ágil, tem um alcance fantástico e ainda equilibra dano com ataques versáteis e bastante movimentos aéreos. Eu, que até então jogava apenas com Casey Jones depois que completei a campanha, tinha acabado de ganhar um novo favorito.
Foi com esse novo favorito que eu lentamente comecei a enxergar as minhas lacunas no conhecimento do combate de “Shredder’s Revenge”. O modo de sobrevivência não era mais “aperte alguns botões, detone todo mundo e faça o maior combo possível”. Entender como equilibrar ataques aéreos e juntar inimigos em uma região da arena para soltar um especial, usar modificadores de golpes e atravessar distâncias de forma rápida saíram de um “Você pode se preocupar com isso em dificuldades mais altas da campanha” para “Aprenda ou você não passa da segunda dimensão”.
Tanto Usagi quanto o outro personagem extra, Karai, parecem ter sido desenvolvidos com esse modo em mente ao ponto de tornarem partes do modo arcade trivial. Karai em específico é capaz de destruir chefões muito mais rápido do que Usagi no modo arcade, mas só não entrou na minha lista de personagens favoritos pois os ataques dela não combinam com o meu estilo.
Mas, como disse antes, você sempre tem a opção de aumentar a dificuldade do jogo caso sinta que ele está fácil demais. Creio, entretanto, que o meu período com o modo campanha ou arcade tenha terminado por dois motivos: metaprogressão e a já mencionada tabela de liderança.
Quem acompanha os meus textos de perto sabe que eu tenho um forte amor e ódio por sistemas de metaprogressão. Assim que um deles me faz sentir que eu estou gastando mais tempo “liberando” elementos para mim de fato sobreviver às batalhas mais intensas, eu largo o jogo. Felizmente, a Tribute Games encontrou o equilíbrio entre incentivo e necessidade.
Aqueles que dominam o sistema de combate de Shredder’s Revenge vão ter muito mais facilidade de chegar mais longe — e por consequência com mais desafio — do que aqueles que não. A metaprogressão adiciona uma vida extra, aumenta seus pontos de vida, mas não é estritamente necessária para se sair bem. O maior “empecilho” vai ser os gigantescos modificadores de área que podem aumentar seu dano, mas também dobrar a quantidade de dano recebida. Quanto mais difícil a dimensão, mais modificadores negativos vão aparecer.
Esta era uma parte onde a Tribute Games poderia ter seguido o caminho “Tá bom, toma esses bônus de dano” e ponto final. Fiquei muito feliz, por incrível que pareça, me deparar com um modificador onde eu recebia o dobro do dano, mas se sobrevivesse por três arenas, ia recuperar toda a minha vida. Claro que eu falhei no final da terceira, mas já foi mais do que o suficiente para mostrar que a desenvolvedora não ia deixar fácil chegar no topo da tabela de liderança.
Mas, para todas as adições trazidas com “Dimension Shellshock”, ainda fico com um gostinho de “quero mais”. Não quero minimizar o esforço da Tribute Games em criar um modo sobrevivência que inclui metaprogressão e que finalmente ressoou comigo, muito menos os dois novos personagens – que imagino ser uma trabalheira absurda em termos de animação. O que eu queria era uma maior variedade de inimigos ou até inimigos exclusivos para o modo sobrevivência.
Assim que eu comecei a avançar nas dimensões, uma leve sensação de “eu já vi isso antes” começou a surgir. Quando não era o mesmo layout – o que não é grandes problemas – é a forma que os inimigos surgiam no mapa. Os modificadores, é claro, seguraram a barra bastante e garantiam o “frescor” de uma nova run. Mas, sempre que eu fechava o jogo, pensava: “bem que uns inimigos ao invés de outra dupla de chefões teria caído bem”.
Essa é a maior diferença fundamental entre “Streets of Rage 4: Nightmare of Mr X.” e “Shredder’s Revenge: Dimension Shellshock”. Um não hesitou em abrir as asas e colocar desafios absurdos, outro joga seguro e quer ser acima de tudo um jogo coop para todos. Como apontei antes, a própria Tribute Games se “arriscou” com modificadores difíceis – algo que eu não pensei que fosse acontecer.
Eu vou ainda gastar mais umas boas horas batalhando na tabela de liderança e tentando acumular a maior pontuação, ou pelo menos ultrapassar a pessoa que está na minha frente. Mas, como ocorreu no jogo base, a minha jornada com “Dimension Shellshock” pode ser mais curta do que eu imagino.
Uma coisa é certa: Produzir Beat ‘em Ups competentes não é uma tarefa fácil, e tanto a Tribute Games quanto a DotEmu se mostraram exemplares nos últimos anos. Quando eu não estiver espancando inimigos em “Streets of Rage 4”, você vai me encontrar em “Dimension Shellshock”. Depois de uma década “parada”, ter dois jogos deste calibre e com expansões boas é uma dádiva.
Aproveite o máximo de “Dimension Shellshock”, mesmo com as limitações dele, e se possível junte outras pessoas para jogar. Ah, e coma pizzas por mim já que sou intolerante a lactose.
Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder's Revenge - Dimension Shellshock
Total - 8.5
8.5
Asagi e Karai roubam a cena de “Dimension Shellshock” com suas animações e ataques espetaculares, enquanto o modo “sobrevivência” é uma ótima adição para quem quer jogar mais com as tartarugas e causar o caos com amigos. Gostaria que ele tivesse maior variedade de inimigos, mas, dentro do escopo de “Shredder’s Revenge”, é uma boa maneira de fechar um ótimo beat ‘em up.