A primeira impressão ao ver Seasons after Fall é de que ele é extremamente belo e isto não é nenhuma mentira, é quase um fato. O game de plataforma / puzzle desenvolvido pela Swing Swing Submarine e disponível no Steam por R$37,99 é certamente de uma beleza única, pena que não passa disso.
Os minutos iniciais com Seasons After Fall são um misto de “nossa, como tudo é fluído” misturado com “essa iluminação é sensacional” e continuados com “Que atuação agradável”. É um jogo bastante relaxante, bastante fora da zona de conforto do que eu consumo tipicamente.
A história começa com um pequeno ser tomando a forma de uma raposa, este ser então é enviado pelo digamos que “o espírito da floresta” para acordar o senhor das temporadas. No ritmo que seguia de cenário em cenário, ficava ainda mais boquiaberto com o espetacular trabalho que a Swing Swing Sumbarine fez da animação, aos minuciosos toques na trilha sonora e detalhes do ambiente.
Meio que fica por isso e fim. Você não vê uma evolução. A história não se expande (não que toda trama precise disso), as mecânicas se retêm as mesmas por, bem, basicamente quase todo o jogo. Os controles simples dão grande espaço para experimentação e variedade, mas isso nunca aparece.
Seasons After fall atinge um ponto de tédio por volta de duas ou três horas de duração e não consegue sair dele. A movimentação e apreciação dos cenários continua tão bela quanto antes, entretanto era incapaz de me sentir motivado a completar mais um puzzle para prosseguir na história.
Diria que boa parte dos quebra cabeças seguem uma estrutura relativamente rígida. Sempre usar os poderes do clima para alterar o ambiente e criar uma passagem ou desbloquear uma área previamente inacessível. Não é complicado de modo algum, mas não força o jogador a pensar além do que está fora da tela. A solução é dada de bandeja, eu tive o mesmo problema recentemente com Song of The Deep, mas este ao menos tinha outros elementos — como o combate e exploração — que foram capazes de segurá-lo até o fim.
O problema é que eles parecem conviver dentro de uma caixa e não se comunicarem entre si. Raramente uma regra é subvertida ou um novo elemento é adicionado para torna-lo não mais difícil, mas mais interessante de interagir. A melhor forma de colocar isso é usar como exemplo aqueles puzzles games para smartphones. Com certeza você jogou um deles na fila do banco ou enquanto esperava atendimento em um caixa ou no médico.
Cada um deles tem um conjunto de mundos com mecânicas bem definidas e até ali eu vejo uma variação maior do que vi em Seasons after Fall. A diferença é que eles foram feitos para serem jogados em partidas de menor duração, enquanto Seasons quer te prender por mais tempo e extrair alguma reação emocional do jogador.
Os desenvolvedores se esforçaram de tamanha forma para criar um mundo bonito de se ver que se esqueceram que o contexto dele é tão relevante quanto. Como a história não ganha tração à medida em que se desenrola, você acaba com uma estética sem um uso propriamente aplicado e uma jogabilidade que não te encoraja a absolutamente nada.
A esta altura você já deve imaginar que eu detesto Seasons after Fall, não é bem isso. É apenas um daqueles jogos que vai, vem e não deixa nenhuma marca em você. Existem inúmeros desses a cada ano, é só que eu não esperava que esse fosse se tornar um desses.
Uma qualidade que devo apontar é o quão relaxante é observar o cenário e resolver os quebra cabeças, mas não sei se era bem esse o intuito dos desenvolvedores. Eu mesmo, em ABZU, achei o jogo perfeito para “relaxamento”, enquanto aqui o ritmo não aponta para querer seguir o mesmo estilo da criação da Giant Squid.
Seasons after Fall pode passar por uma crise existencial, uma hora quer ser relaxante, um puzzle game, um jogo de plataforma e ser ótimo nisso em tudo ao mesmo tempo. Sabe aquelas crianças que tentam fazer tudo ao mesmo tempo para tentar acharem algo que “gostem” e acabam mais perdidas do que nunca? Pois então.
Creio que teria o aproveitado mais se pudesse navegar pelos cenários apenas para observá-los sem nenhuma interrupção. Sim, remova todos os elementos de jogabilidade, todas as mecânicas e a história. Soa completamente maluco? Eu sei, mas ao menos eu teria acesso a única área que ele se eleva a um patamar mais alto do que o que se vê por aí sem ter de lidar com todos os outros problemas.
Gosto de coisas bonitas, ora, quem não gosta? Seasons after Fall é bonito, sim, tão bonito que tenta virar seu rosto sempre que você começa a ver as falhas ao ponto de sentir dor no pescoço. Não soube lidar com elas, talvez você consiga. Queria que a simpática raposinha tivesse um final mais feliz do que ser presa a um jogo tão fraco, mas o mundo é injusto.
Seasons after Fall
Total
Belo de se ver, entediante de jogar. Seasons after Fall parece não saber bem o que quer ser, é incapaz de aproveitar as qualidades e oportunidades apresentadas. Uma pena, queria ter gostado mais dele. Bom, ao menos posso continuar a apreciar sua arte.