“Eu prometo que ele é bom, ele só é um pouco confuso no começo!”. Essa frase pode se aplicar a tantos jogos que eu gosto que vocês não teriam a menor noção do qual eu estaria me referenciando. Algum jogo de estratégia de nicho? Um jogo em turnos com controles pouco ortodoxos? No caso, “Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven” Bem, ao menos a sua versão original de 1993. O seu remake? (Steam / PlayStation / Switch). Aí a história é diferente.
O meu interesse pela série SaGa vem muito antes da Square Enix pensar em um remake, ou até mesmo trazer a maioria dos jogos para o ocidente com traduções oficiais. Comentários em fóruns explicavam a sua estrutura não linear, o sistema de níveis fora do tradicional e a forma “peculiar” de obter novas habilidades. Como alguém que não cresceu com consoles e a barreira de linguagem era gigante, minha primeira experiência com a franquia foi tão peculiar quanto os comentários.
Escolha de personagens, diferentes caminhos que convergiam ou não. Mapa não linear, tudo o que para mim representava o “anti-RPG oriental”. Ou, melhor, o que entendemos por aqui de RPG oriental. No outro lado do mundo, SaGa era só mais uma franquia que fazia as coisas diferente das outras em uma era que tínhamos Final Fantay, Dragon Quest, e uma lista ainda mais longa de RPGs.
A diferença no entanto, é que isso começou já estava presente em “Romancing SaGa 2” em 1993. Quem pensaria em um jogo onde, ao invés de controlar um personagem fixo, você controla uma geração de reis onde eles podem morrer, seus aliados podem morrer, quests podem dar errado pela ausência de um membro na sua party? Não era o tradicional para o Super Nintendo e até hoje ainda não é tão tradicional para o foco narrativo de tantos RPGs independente de onde foram produzidos.
O que o remake faz é pegar o conceito e dar a ele uma textura mais palpável para um público geral. Ao invés das horas iniciais serem “soltas” e meio sem ordem, a equipe da Xeen teve o cuidado de explicar com calma a história, trocar algumas cenas de lugar para aumentar o impacto das mesmas e de pouco em pouco começar a aclimatar o jogador no universo de “Romancing Saga 2”.
Ajuda, é claro, que da maioria dos jogos da série, ele é o que contém a história mais “simples”. Sete heróis uma vez salvaram o mundo e agora retornam como vilões. Um deles ataca a sua cidade, e a partir daí a história se desenrola como você bem desejar. Mas o foco final continua o mesmo: derrotar os sete heróis e por um fim em uma possível destruição do mundo.
Mas ir direto de encontro ao próximo chefão em “Romancing Saga 2” é quase que suicídio. Primeiro que a sua party não vai estar pronta para ele e você vai apanhar, feio, segundo que você vai deixar de aproveitar um gigantesco pedaço do jogo que não se apresenta tão bem quanto deveria: exploração.
Ainda que o remake venha com uma série de melhorias, falar com os habitantes das cidades — até aquelas que você já visitou mais de uma vez — abre uma série de quests secundárias cuja narrativa é tão intrigante quanto a trama principal. Às vezes dormir em um hotel local te dá acesso a um novo personagem, ou ouvir moradores comentarem sobre um ataque de monstros vai te levar até uma nova caverna repleta de inimigos para você melhorar a proficiência dos personagens e obter novos itens.
Notou como eu escrevi proficiência e não níveis? Pois bem, “Romancing SaGa 2” não usa um sistema de níveis tradicional. Ao invés de você subir de nível, você aumenta a sua proficiência com certas armas, seus pontos de vida e de batalha. Os pontos de batalha são usados para habilidades ativas e são um recurso tão escasso que usá-los requer ter sempre poções para recuperá-los em mãos e tais poções não são baratas.
Sendo alguém que é primariamente atraído pela jogabilidade acima de tudo, o remake de “Romancing SaGa 2” aprimora o combate de forma majestosa. Ele abraça um sistema de linha do tempo que, ainda que estivesse presente em jogos anteriores, agora é mais fácil de compreender. De quebra, ele adiciona uma mecânica vista nos jogos mais recentes da franquia: ataques unificados.
Cada batalha vira uma gigantesca manipulação da linha do tempo para que você elimine ou atordoe os oponentes que vão te atacar até que você consiga encher a barra de ataque unificado e soltar um combo devastador. Se eu me cansei de usá-lo? Que nada! As combinações de combo entre personagens são tão variadas que há alternativas de sobra. Houve momentos em que eu preferi segurar o ataque para usar um elemento ou armamento que era a fraqueza do inimigo, outras vezes preferi eliminar aquele inimigo “chato” que tem em todo RPG para dar conta do resto depois.
Não pense, porém, que isso signifique que “Romancing SaGa 2” é fácil. Você vai perder uma, duas, três, dez batalhas. Coloque no modo “Hard (Classic)” e garanto que o principal atributo que você vai correr atrás é sorte. Sorte para que o inimigo não solte um ataque que envenene toda a sua party ou a elimine completamente. Eu até tentei começar o jogo, e fiz bastante progresso neste modo, mas empaquei no terceiro chefão — praticamente uma muralha — que preferi voltar para o modo “Normal”.
O que muitos podem não gostar, entretanto, é o grind. Ainda que não seja tão essencial quanto outros RPGs do passado, o remake de “Romancing Saga 2” pede um tiquinho de grind para você avançar da metade para frente. Você não vai ficar horas repetindo a mesma dungeon para liberar um ataque básico, mas quanto mais preparado estiver para o próximo embate, melhor. Não foi um ponto que me incomodou tanto por eu ter amado o sistema de combate e se me pedissem para ficar mais três horas fazendo o mesmo, eu teria.
Teria até mesmo sabendo que o meu rei ia morrer — uma mecânica central de “Romancing SaGa 2”. Vários deles morreram, uma geração inteira faleceu no campo de batalha antes mesmo de eu conseguir derrotar o último herói.
E, mesmo vendo os créditos rolarem, eu penso que só arranhei a superfície de “Romancing SaGa 2”. Que deixei muitas quests secundárias para trás, que não fui tão ousado ao escolher que tipo de tática ou armamento usar, uma party menos ortodoxa, levar os sistemas do jogo ao seu limite.
Foi isso que me fez me apaixonar pela série SaGa de início, e ver, após anos, um remake de um jogo que até então era “impenetrável” para muitos virar algo palpável me deixa muito feliz. Torço, e muito, para que isso seja o pontapé inicial de uma nova era da franquia no ocidente e que mais pessoas tenham o interesse em jogar “Romancing SaGa” ou títulos similares.
Se você tem o menor, o mínimo interesse em RPGs, o remake de “Romancing SaGa 2” é essencial e está na lista dos meus favoritos de 2024.
Total - 9.5
9.5
“Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven” mais um exemplo excepcional de como fazer um remake e transformar um jogo que para muitos pode passar batido devido a elementos obtusos em algo mais palpável. Ele merecia a sua atenção em 1993 e mais do que merece em 2024.