“Que saco”, disse em uma mensagem para o meu amigo. “O que foi? ”, ele respondeu. “Não estou conseguindo ganhar do Van Gogh”. Só receberia uma reação quase dez horas depois com os dizeres: “…como assim? ”. É bem isso que acontece ao tentar descrever Rock of Ages 2 (PC, PlayStation 4) para qualquer um. É bizarro, insano, e genial ao mesmo tempo.
Diálogos como “perder para Van Gogh” ou “Vencer de Joanna D’arc” são somente pequenos trechos da campanha para um jogador do game. Contada no estilo similar aos sketches do programa britânico Monty Python’s Flying Circus, a chamar de sem pé nem cabeça é pouco.
O jogador controla o Titã Atlas, que acaba por ser o culpado da Terra não ser mais uma Pangeia. Como? Sem querer a deixou cair no chão. Olha, boa sorte tentando entender mais do que isso, pois o restante é apenas pretexto para viajar pelos principais movimentos artísticos e derrotar figuras históricas ao jogar pedregulhos imensos em seus castelos. A campanha ainda atua como um tutorial glorificado, não há muito o que se fazer nela além de tentar obter todas as estrelas nas fases. O gostoso mesmo é, e espero que continue sendo, o componente competitivo.
Parte uma versão 3D de Marble Madness / Super Monkey Ball, parte um jogo de estratégia, a desenvolvedora chilena ACE Team faz jus ao colocar o subtítulo do game como “Bigger and Boulder”. Enquanto o primeiro provia bons momentos de diversão, ele era mecanicamente falho em inúmeras áreas, muitas delas corrigidas na sequência.
A ideia central permanece a mesma, cada jogador controla uma pedra gigante, que deve ser navegada por um pequeno caminho com armadilhas até chegar em um castelo e destruir seu portão. Cada jogador tem o seu turno para preparar armadilhas, proteções e maneiras de impedir ou danificar a pedra adversária. Quanto mais lenta e mais fraca, menor o impacto causado ao portão.
O primeiro Rock of Ages, por mais que se esforçasse em trazer variedade com uma boa quantidade de mapas, tinha sérias falhas no seu design, tanto nos mapas em si como na escolha de táticas; dava muitas ferramentas e seus mapas eram largos demais para que uma armadilha fosse efetiva. Consequentemente, muitos jogadores de partidas online e local optavam por produzir torres e muralhas, que prolongavam a partida ao invés de causar dano na pedra. Ganhava quem conseguia prolongar a partida.
A sequência termina com essa técnica da melhor forma possível, estabelecendo limites. Cada jogador pode levar apenas quatro defesas para uma batalha e as minas — que geram o ouro para gastar nas defesas — também contam para o total. Junte isto a fases que melhor utilizam afunilamento, plataformas flutuantes e menos retilíneas – e tens o prato perfeito para partidas mais emocionantes.
Jogar Rock of Ages 2 foi passar por todo um novo processo de aprendizado. As mudanças foram ainda mais sentidas em partidas contra o personagem da pintura “O Grito” — onde Atlas sem querer trocou o protetor solar dele por cola — e Baba Yaga. Mais uma vez, não questione os protagonistas, só aceite.
Precisava ter maior noção do ritmo e do mapa na hora de rolar o pedregulho gigante, pontos de afunilamento servem para o posicionamento de canhões que jogam as pedras mais frágeis para fora do mapa, mini moinhos de vento também dificultam a navegação e podem fazer com que o oponente acerte outra armadilha, a lista é grande. Foi-se embora prolongar a partida, agora é preciso entender as fraquezas do mapa e usá-las para que o dano recebido seja o mínimo possível. Melhor ainda se a pedra for destruída antes mesmo de chegar aos portões.
Se eu larguei em pouco tempo o primeiro Rock of Ages por conta da facilidade de se achar “setups” para cada mapa, eu quero pular de novo no modo competitivo — que agora também tem suporte para partidas 2vs2 — e ver o que mais eu descubro.
Há vezes que me sentia dentro de um jogo de cartas — sem os terríveis elementos de free-to-play que atualmente prejudica o gênero. Cada unidade de Rock of Ages 2 equivalente a uma carta que devia ser jogada na hora certa para pegar o adversário de surpresa.
Minha partida favorita fica para o mapa de Baba Yaga. A pista, iniciada por um círculo central, se divide em duas zonas e depois se une em um imenso lago de gelo. Cada parte do lago é composta por um hexágono que, ao ser atingido pela pedra, é automaticamente destruído para o próximo round.
Meu oponente foi mais esperto do que eu e colocou leões amarrados a balões para agarrarem a minha pedra e a deixar mais lenta. O resultado foi cinco rounds de pura frustração pois não sabia como chegar em seus portões sem tomar um dano ridículo ao cair na água. A minha cartada de mestre, no entanto, foi ainda mais genial.
Antes mesmo de começar a partida eu havia escolhido o trampolim como uma das possíveis defesas sem perceber que o mapa não dava muitas oportunidades para isto. Olhei para o lago, olhei para o trampolim e disse “E se eu fizer uma muralha, forçar o inimigo cair no trampolim e fazer com que ele tenha de ser preciso nos pulos e desvios para atingir a porta?”. A estratégia perfeita para aquele momento, venci a acirradíssima partida quando, após cinco rounds de desviar de leões e ver meus trampolins em ação, detonei a porta do castelo e amassei um Van Gogh.
A essa altura você já espera uma pegadinha né? “O que então tem de errado em Rock of Ages 2?”. Poderia até dizer que a inteligência artificial não faz o melhor uso das armadilhas, mas também seria injusto dizer isto depois de jogar horas e mais horas contra oponentes humanos. O desafio está bem equilibrado na campanha e de quebra ainda um modo de corrida é perfeito para aprender o layout dos mapas e onde estão escondidos os pequenos atalhos.
Rock of Ages 2 é o equivalente da evolução da ACE Team durante o desenvolvimento do brawler Zeno Clash para Zeno Clash 2. Com o humor refinadíssimo, sabe equilibrar hora de fazer piada e oferecer a devida quantidade de opções táticas tanto na campanha como no modo online / tela dividida.
A análise foi feita com base na versão PC enviada pela Atlus.
Rock of Ages 2
Total - 9
9
Refinado e ampliado, Rock of Ages 2 volta com seu humor característico na campanha para um jogador, maior ênfase em montar estratégias e um melhor equilíbrio no uso de unidades no multiplayer. Não poderia pedir mais da ACE Team.