Sempre ouvi falar muito de Resident Evil 0, apesar de o ter para GameCube, nunca gastei mais do que cinco minutos com ele. Agora com Resident Evil 0 HD Remaster lançado pude descobrir finalmente do que se tratava. Não sei se estou muito feliz com isso. Ele está disponível no Steam, Xbox Live e PlayStation Store a partir de R$ 39,99.
Ele chega como aquele amigo que tenta te agradar de todas as formas quando você está triste, mas que acaba piorando as coisas. A história começa com Rebecca Chambers, um dos membros da Bravo Team instruídos a vasculharem os arredores de Raccoon City após surgirem relatos de estranhos acontecimentos na região. Após uma série de desventuras, ela se vê dentro de um trem cuja dona é ninguém mais ninguém menos que a Umbrella Corporation. E assim é dado o pontapé inicial para uma das histórias mais estranhas de Resident Evil.
O game foi um dos últimos da série a fazer uso da câmera clássica, algo que sempre me agradou muito. Por outro lado, o sistema de controle normalmente conhecido como “tanque” já não é muito mais intuitivo. Assim como o remaster de Resident Evil Remake, Resident Evil 0 traz o muito bem-vindo sistema de controle alternativo para quem não cresceu acostumado com a movimentação clássica da série. Algo que, pessoalmente, evito usar quando possível.
Resident Evil 0 HD Remaster é um apanhado de boas e péssimas ideias. Como o primeiro game da franquia a implementar com um modo de jogo “cooperativo” — onde você alterna entre os personagens — o sistema é um tanto quanto rudimentar e confuso. O analógico direito faz com que você controle Billy Coen, o novo protagonista, enquanto o esquerdo movimenta Rebecca. Esse sistema junto com a câmera fixa é a receita básica para o desastre. A IA pode ajudar em certas partes, como no combate, mas o trabalho que faz é péssimo. Sempre que possível indiquei para que o personagem secundário ficasse parado, menos dor de cabeça para mim. Ainda bem que nas primeiras horas, as quais considero o ápice do game, esses momentos são raros.
O trem tem tudo que você pode esperar de um Resident Evil clássico, a história segue um ritmo agradável, a cada momento você tem um novo desafio pela frente, um pequeno quebra-cabeça a resolver e os personagens são apresentados para o jogador de ótima maneira. Ah, se todo o restante do jogo fosse assim.
Passado a fase do trem pode se preparar para uma montanha russa de emoções. Não daquelas montanhas russas onde você se diverte, mais daquelas onde você dá tanto loop que enjoa. A história faz uma curva fechada, vai para a terra do “Eu nem sei mais o que está acontecendo” que simplesmente desisti de tentar acompanhar. Não que eu esperava uma história merecedoras de prêmios, mas a cada minuto que passa se supera pelo absurdo.
Poderia dizer que a jogabilidade clássica de Resident Evil já basta para me agradar, mas nem isso foi ele conseguiu acertar em cheio. Gerenciar o inventário é um pequeno inferno. A famosa e tão adorada caixa de inventário localizada nos pontos de save é removida sem que outro sistema seja colocado no lugar. No fim das contas você deixa os itens espalhados pelo cenário e retorna para buscar quando necessário. Um backtracking completamente desnecessário e entediante. Na parte do trem já era chato e nas áreas subsequentes o problema só aumenta devido a puzzles e uma maior complexidade no geral.
Para quem tiver coragem, ou quem sabe um pouco de paciência de jogar, o remaster traz algumas novidades como a opção de jogar com o Wesker, inclusive com suas habilidades sobrenaturais, após completar a campanha. Modo que é uma boa adição para quem é muito fã da série, mas que não me incentiva a aguentar toda a confusão que foi termina-lo mais uma vez.
Nem tudo é uma enormidade de problemas em Resident Evil 0, muito menos no que diz questão dos gráficos. Em comparação como remake lançado em 2015, este apresenta uma atenção muito maior aos detalhes do cenário, além de mudanças na modelagem dos personagens. Quando comecei a jogá-lo esperava gráficos melhorados, mas superou e muito minhas expectativas.
Por outro lado, a mudança na modelagem teve seus acertos e erros, Billy foi o que foi melhor adaptado, enquanto o novo rosto de Rebecca parece estranho e as expressões faciais de ambos deixam um pouco a desejar. Novamente, como foi com o Resident Evil 1 Remake e recentemente Dragon’s Dogma, a Capcom entrega mais uma conversão de ótima qualidade para o PC. Taxa de quadros de 60fps, suporte nativo a controle e nenhum problema visto.
Resident Evil 0 HD Remaster cumpremuito bem o que promete, trazer um game clássico de Resident Evil para os consoles da atual geração e para o PC. É um jogo mediano, com problemas de ritmo, trama fraca, e um sistema de inventário que me faz questionar toda vez quem achou uma boa ideia usá-lo. A história de Rebecca Chambers e Billy Coen não é uma que planejo voltar tão cedo, mas ao menos deu para matar a saudade daquela jogabilidade clássica da franquia.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Capcom