Se Borderlands e um simulador de naves tivessem um filho, ele se chamaria Rebel Galaxy. Isto é, se esse filho fosse pouco ambicioso e um desengonçado como aquela criança que ainda aprende a caminhar. Ele está à venda no Steam e GOG a partir de R$ 36,99.
Rebel Galaxy apresenta uma história, simples, pouco pretensiosa e que claramente não era o foco da desenvolvedora Double Damage. Ela serve como um pontapé inicial para aprender a jogabilidade e permitir que o jogador crie a sua própria história.Assim como Elite Dangerous, ele permite que você faça o que bem entender dentro de uma galáxia gerada proceduralmente. Quer ser um caçador de recompensas? Sem problemas. Se focar em mineração? Também é possível. Alguns desses sistemas são interessantes, enquanto outros são rasos demais.
As missões seguem o tradicional de MMOs. Vá até tal lugar, obtenha um recurso, destrua uma quantidade específica de inimigos, recupere uma nave, destrua informações importantes. Sendo a pior delas as missões de escolta, um dos piores problemas em games e que Rebel Galaxy teima em adicionar. Afinal de contas, não há nada mais divertido do que escoltar um cargueiro por metade do universo apenas para vê-lo se transformar em uma nuvem de destroços após ser atacado do nada por um grupo de piratas, não é mesmo?
Nas mais de 20 horas de jogo segui a linha do caçador de recompensas, intercalada com algumas missões de mineração e troca de mercadorias entre estações. O combate de Rebel Galaxy foge do tradicional do gênero, enquanto muitos optam pela liberdade, o game desenvolve suas mecânicas com base no combate naval. Toda a movimentação é feita no plano horizontal e não é possível subir ou descer a nave.
O conceito soa e é implementado de maneira estranha. Ele passa uma sensação de que – salvo raras exceções onde é preciso controlar torres superiores ou inferiores da nave – não é possível influenciar diretamente no resultado de uma batalha.
Em virtude disso, Rebel Galaxy carece em criar situações emocionantes ou batalhas realmente divertidas. As batalhas se resumiam em alinhar a nave em paralelo ao oponente, disparar alguns tiros, destruí-la e coletar a recompensa. O nível de dificuldade varia de acordo com o poder operacional de cada oponente, mas nunca em um ponto onde me sentia seguro.
Tal limitação não seria um problema se as batalhas fossem esparsas ou bem espaçadas entre os outros elementos de Rebel Galaxy, o que ocorre é justamente o contrário. A cada cinco minutos você tromba com um grupo de piratas, uma embarcação em apuros ou uma emboscada preparada pelo inimigo para roubar suas riquezas. Passa a ideia de que o espaço é uma terra sem lei, uma terra sem lei na qual eu já estava cansado de ter minha exploração interrompida por mais um combate.
A situação não é nada agradável para quem decidir jogar com mouse / teclado. É um daqueles jogos pensados primariamente para controles e traz a sensação de que uma versão PC foi pensada posteriormente. Comandos que não se encaixam bem com o teclado – como manter uma tecla pressionada por alguns segundos para ativar a velocidade da luz – a troca de torres de disparo com a roda do mouse. Eu recomendo usar um controle se possível.
Para missões posteriores, optei por melhorar e personalizar minha nave, o que é feita em uma das várias estações espalhadas pelos sistemas solares. Personalização é um dos pontos fortes de Rebel Galaxy. Você pode escolher um entre seis chassis básicos e mudar praticamente o que quiser.
Os armamentos vão de torres de laser, mísseis, sistemas de proteção – como escudos ou armadura reforçada – e ferramentas como raios de tração para obter itens espalhados no espaço. Obter o melhor equipamento será uma tarefa árdua, porém. As maiores naves custam na casa dos milhões e as recompensas das missões não eram o suficiente para cobrir o custo de uma simples proteção energética.
Quando decidi mudar o enfoque para outras mecânicas para obter mais dinheiro, percebi que elas eram tão ou mais rasas que o combate. Minerar asteroides se resume a mirar um canhão, disparar e usar o raio de tração para trazer a matéria-prima para nave. O mercado de compra-e-venda de matérias-primas ao menos tenta ser um pouco mais “complexo”, onde você precisa ir de estação em estação, estudar os preços e ver qual delas oferece a melhor margem de lucro.
Entre sistemas rasos ou um combate desengonçado, encontro um pouco de diversão ao explorar as 15 regiões de Rebel Galaxy. Quando não está na 500ª luta, o jogo oferece uma ótima trilha sonora e uma sensação de “paz” enquanto viaja entre planetas e estações. Não é o jogo mais bonito por aí, mas é suficientemente diversificado para sentir que era real, ainda que com uma interação severamente limitada. Confesso que parte do interesse vem da trilha sonora feita pelo artista Blues Saraceno. Cativante e empolgante, é um dos melhores aspectos de Rebel Galaxy.
Rebel Galaxy tarda, mas acaba por cair no mesmo problema que tantos outros games do gênero caíram, a falta de foco. Na ânsia de mostrar algo de interessante para cada estilo de jogador, ele acaba com sistemas rasos, mecânicas pouco recompensadoras e uma progressão desinteressante.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Double Damage Games