“Até que enfim, Hatsune Miku no PC”, eu disse, quase um mês atrás. Publicar uma matéria sobre “Hatsune Miku: Project DIVA Mega Mix+” tanto tempo depois do seu lançamento no Steam — mesmo que parte desse tempo se deva a questões relacionadas à minha saúde — já diz bastante coisa sobre o tamanho desse monstro e a complexidade de tentar fazer jus a ele, tanto nas coisas boas quanto nas ruins.
Para a SEGA, “Project DIVA Mega Mix+” é a melhor compilação de músicas de Hatsune Miku de todos os tempos. Acho que qualquer um que gosta da Vocaloid e tem o menor interesse nas músicas dela concordaria. Mas, se os fãs de Project DIVA que tive a oportunidade (ou o desprazer) de conhecer ao longo dos anos forem algum indicador, ela não é. Faltam algumas músicas de “Project DIVA X” e duas ou três músicas de “Future Tone”.
Não é nada que vá destruir a sua “experiência”; você só não vai poder tocar Ievan Polkka pois ele está preso na versão “Future Tone”, disponível nos Arcades ou no PlayStation 4. Agora, o que provavelmente vai destruir a sua diversão com “Project DIVA Mega Mix+” é a imprecisão de certas músicas, quando comparadas com outras versões de “Project Diva”, como o já mencionado “Future Tone”.
Como o restante da franquia, “Project DIVA Mega Mix+” usa os botões e as setas do controle em conjunto com os gatilhos para tocar as músicas (ou os respectivos botões do teclado) e um sistema de pontuação baseado no quão preciso você foi ao “acertar” a nota. “Bad” significa que você perdeu o combo, “Safe” faz você manter o combo, mas não perder a pontuação da nota específica, “Good”, a pontuação “normal”, e finalmente “Cool”, que é a maior pontuação possível. Quem já jogou “Beatmania”, “Stepmania”, “DJ Max”, “Taiko no Tatsujin” ou “Beat Saber” sabe do que estou falando.
Este sistema permite que uma maior gama de jogadores possam aproveitar o jogo sem se sentirem pressionados a acertarem todas as notas com 100% de precisão, algo muito diferente do que foi visto pelos populares “Guitar Hero” e “Rock Band” — que dividiam espaço na época em que “Project DIVA” e Hatsune Miku eram mais populares.
Acontece que a maioria das músicas, quando jogadas no modo normal — com a exceção de “Catch the Wave”, que apresentava sérios problemas de dessincronização do áudio, tornando impossível de completá-la — não seriam lá uma grande dor de cabeça para um jogador semi-experiente nesses jogos, que facilmente poderia tirar ao menos uma nota “C” nelas.
A SEGA lançou uma atualização que corrigiu “Catch the Wave” e outras músicas que aparentemente também apresentavam dessincronização do áudio (me perdoem se eu não notei, o jogo tem 243 músicas, é muita coisa). Entretanto, uma notável “travadinha” ocorria entre as transições de cenas em músicas mais intensas como “Systematic Love”, “After Burner”, “Aikotoba”, ou cenas com múltiplos vocais.
A razão por trás deste problema continua um grande mistério para toda a comunidade e para mim. Replicá-lo é um absoluto inferno. A configuração do computador, monitor, tipo de controle, se o controle está conectado via cabo ou via bluetooth ou intervenção divina são só algumas das variantes que eu encontrei nos meus testes.
Aliás, perdão por tantos detalhes, mas se este é o primeiro artigo que você lê do site, saiba que eu sou uma pessoa bastante teimosa e que não para por nada para entender o porquê de algo estar acontecendo. Além disso, eu sei que há muitos que visam jogar “Project DIVA Mega Mix+” por bastante tempo, aumentar a dificuldade e completar desafios criados por eles próprios — e esta informação é extremamente pertinente para esse grupo.
Dito isso, eu peguei algumas “amostras” de “Systematic Love” — de longe uma das minhas músicas favoritas de toda a franquia — e vi o problema ocorrer em média 10 vezes a cada 20 tentativas de tocar a música na versão 1.0, e 5 vezes a cada 20 tentativas com a atualização 1.01.
O teste foi feito com múltiplas configurações. Um monitor 16:9 com 144hz, um monitor ultrawide 21:9 de 75hz e um terceiro monitor 16:9 de 60hz. Mudei a prioridade do jogo dentro do gerenciador de tarefas do Windows, alterei entre o meu computador principal (um i9 com uma 3080 e o jogo instalado em um SSD NVME) e o meu notebook (um i7 com uma placa de vídeo interna e um HDD). Por fim, desativei todo e qualquer processo que pudesse prejudicar o desempenho do jogo.
Houve partidas em que eu joguei dezenas de músicas antes de selecionar “Systematic Love” e ela apresentou ligeiros travamentos. Em outras, nada. Nada fazia o menor sentido. Eu só não fiz uma nova lista para testar ou reinstalação completa do Windows como último recurso, pois isso seria exagerado até para mim.
A cereja no topo do bolo? A atualização 1.01 consertou o problema para algumas pessoas e exacerbou para outras! Deixo aqui a minha solidariedade com a equipe de QA, que deve estar arrancando os cabelos tentando decifrar onde está o problema. Eu já passei por isso em um âmbito profissional e digo com tranquilidade que não é nem um pouco divertido.
Por isso que eu hesito em apontar o dedo para a SEGA e falar “Olha, mais uma conversão ‘porca’ de um jogo para PC”, mas não é o caso ao menos nos meus olhos. Com exceção dos travamentos — que sei que é um problema imenso — “Project DIVA Mega Mix+” é um exemplo primoroso de como fazer uma versão PC. Ele identificou todos os meus controles e adequou os menus para eles — e mesmo se isso não ocorresse, ele oferece a opção para alternar internamente. As opções visuais são simples, mas competentes para que ele rode em qualquer tipo de computador, e tudo que você espera de um “Project DIVA” está presente. Muito melhor do que a primeira aparição de Miku no PC com um jogo VR intragável.
Quando tudo ocorre dentro dos conformes, “Project DIVA Mega Mix+” é maravilhoso, uma deliciosa viagem no túnel do tempo nestes mais de 10 anos desde que eu descobri Hatsune Miku pelo PSP e mais de 20 anos que eu sou um absoluto fã de jogos rítmicos. As minhas músicas favoritas estão no pacote, a seleção de roupa é maravilhosa e o sistema de treinamento ainda é a minha referência para outros jogos rítmicos; um absurdo que ninguém sequer se deu ao trabalho de tentar produzir algo similar nesses anos.
Aliás, esse foi o meu primeiro contato com o novo visual de Hatsune Miku — que até então era limitado ao Switch — e estou surpreso com a negatividade que vi por aí. Acho muito mais adequado para a Vocaloid do que o estilo “plástico” que a série usou em Future Tone, além de ser mais próximo da versão “Project DIVA F” para PlayStation 3. Aqueles que discordam podem me apedrejar nos comentários.
O mesmo vai para o novo sistema de “personalização de camisetas” para o qual eu tenho zero aptidão, a não ser se o assunto for criar camisetas com um humor de 5ª série. O sistema básico e a ausência de camadas é uma oportunidade perdida da SEGA. Ao menos na versão PC quem tem criatividade e um tablet pode fazer artes maravilhosas. Pena que não seja possível compartilhar com outros jogadores.
Mas eu não consigo, em boa fé, recomendar “Project DIVA Mega Mix+” no seu atual estado a não ser que você seja um gigantesco fã de Hatsune Miku (ou seja, você provavelmente já comprou o jogo) ou está com muito dinheiro sobrando, já que a SEGA decidiu enfiar a facada no preço regional brasileiro. R$299 pelo pacote completo? Me poupe.
E pensar que no anúncio eu estava tão empolgado pensando no quanto a comunidade de PC se beneficiaria de “Project DIVA Mega Mix+”. Era a porta de entrada perfeita para quem não acompanhou a trajetória da franquia desde 2009! Era para ser a porta perfeita, mas ainda não é.
Eu provavelmente vou continuar jogando-o até cansar. Até fazer todas as músicas no Expert — o que vai me levar anos e destruir o que resta da minha mão — resta aturar os problemas de desempenho e torcer para que a SEGA ou a comunidade consiga encontrar uma solução para que ele rode perfeitamente. Quanto mais rápido, melhor, a minha sanidade agradece.
Project DIVA Mega Mix+
Total - 7
7
O que era para ser a porta de entrada perfeita para que a comunidade de PC descobrisse “Project DIVA” acaba sendo um jogo rítmico que acerta em quase todas as áreas, menos na essencial: jogá-lo sem dores de cabeça. Travamentos inconsistentes me impedem de recomendá-lo, exceto para aqueles que já são fanáticos pela Hatsune Miku. Se você tem como jogar a versão console de Future Tone, opte por ela por ora.