Eu vou ser sincero com vocês, o único motivo que Pro Cycling Manager 2018 (Steam) não é um completo desastre vem do fato que a Cyanide tem uma estrutura para o modo carreira e o modo de gerenciamento de equipes competente, e diferente de quase tudo que já vi em questão de jogos de gerenciamento e por ser apaixonado pelo gênero; ou subgênero, se preferir.
Ainda sei que ciclismo é um conceito muitas vezes desconhecido em território Brasileiro, portanto um manager como esse raramente tem a atenção que merece. Nos últimos treze anos a Cyanide dominou a capacidade de criar um gerenciador de ciclismo que consegue ser ao mesmo tempo complexo e cativante. Ao menos era essa a imagem que deixou Pro Cycling Manager 2017.
Quando escrevi sobre a versão 2017, a enalteci pela inclusão do modo carreira e as melhorias na inteligência artificial durante as corridas; como, por exemplo, deixar de ver a IA dos meus ciclistas saírem do pelotão – que é o grupo principal de uma corrida de ciclismo – em uma subida sem que eu os tenha ordenado para isso (o que ocorria bastante na versão 2014).
A promessa da Cyanide dessa vez era um modo carreira mais aprofundado, com mais detalhes, isso e aquilo. Já parti para ele disposto para encontrar as novidades. Bom… a interface foi melhorada, isso já é um avanço em comparação ao ano anterior. As datas ainda são “simuladas” dia após dia sem a opção de pular para uma data específica (funcionalidade presente em outros jogos que vão do famoso Football Manager ao Out of The Park Baseball e o Motorsport Manager), muitos menus continuam mais confusos, pedem mais cliques para acessar tarefas básicas — como expectativas de equipe ou tabela de condicionamento físico — do que precisam ser.
Mas, por ora, eu estava contente com o meu ciclista virtual; o criei para ser focado em subidas e aproveitar das possíveis escapadas do pelotão para que ele brilhasse no final das corridas, planejava os treinos dele como fiz na versão 2017, garantia que ele estava preparado fisicamente e que ele atenderia as expectativas da equipe e de seus companheiros de equipe.
Quase vinte horas de jogo depois e comecei a notar algo estranho, meu ciclista estava bom. Bom até demais para ser verdade. Na realidade, ele tinha se tornado um deus do ciclismo, coisa que eu — um completo inapto em ciclismo — não teria capacidade de gerenciar. Acontece que Pro Cycling Manager 2018 foi lançado com um terrível bug onde os outros ciclistas não faziam nenhum treinamento físico entre as corridas, o que os deixavam completamente inaptos para subidas, descidas. Bem, para qualquer coisa que envolvesse ciclismo. Mal sabia que esse seria um dos inúmeros bugs que iria encontrar.
O próprio modo de gerenciamento de equipes, o qual me apaixonei no ano passado, não é poupado. As tabelas de projeção são listadas de maneira errada (quando são listadas); clicava em ciclistas da minha equipe e apareciam os ciclistas de outras equipes. Ao menos os ciclistas desse modo treinam corretamente.
Quando era hora de partir para o tudo ou nada — as corridas — onde gosto de manter os olhos grudados na tela e torcer para que o planejamento físico foi determinado corretamente, as coisas complicaram ainda mais. O sistema de automação — um que eu usava ocasionalmente na versão 2017 — se torna inviável. Uma subida? Vamos colocar os cinco ciclistas para se esforçar em dobro! Perto da linha de chegada estavam todos exaustos de tanto pedalar. Ao menos a questão de se afastar do pelotão em uma subida não voltou, ufa.
Eu sei que o sistema de automação serve como uma ajuda e não deveria ser usado como “padrão”, mas e para aqueles que não tem experiência? É um ponto de partida importantíssimo para quem está “molhando o pé” com o gênero, e o fato que a Cyanide o fez ele ficar pior do que a versão 2017 me desaponta. Partidas depois e mais uma leva de bugs me atacaram como um enxame de mosquitos em pleno verão brasileiro. Ciclistas que pedalavam em bicicletas invisíveis, crashes para a área de trabalho sem motivo aparente, e dificuldade de clicar nos menus de ciclistas e opções como “manter o ritmo” serem totalmente inúteis.
Novamente, mesmo que os bugs não fossem tão presentes, as corridas em si são praticamente idênticas as de Pro Cycling Manager 2017, não senti que precisava alterar tanto a minha tática, tampouco fui pego de surpresa por uma corrida que não estava no campeonato que eu não soubesse o que fazer de cor e salteado. A sensação era de jogar o mesmo jogo com uma nova roupagem. Minha apreciação por elas vem de gostar de gerenciar ciclistas, de garantir que eles estão prontos para a corrida, e não pela inclusão de novas mecânicas.
O contraste entre esses pequenos e grandes defeitos, e o desejo da Cyanide de produzir um jogo ainda melhor que a versão anterior aparece quando olho para o tutorial, o único ponto que foi claramente melhorado o ano passado e esse ano. Bastaria uma única corrida, ao contrário das dezenas que fiz na versão 2011, para entender o conceito do que é gerenciar um pelotão, como entender a oportunidade para atacar e escapar do pelotão, de entender que é preciso manter um equilíbrio entre diferentes ciclistas e também usá-los como barreira para impedir que o ciclista mais importante da equipe seja afetado pelo vento — elemento que nunca havia sido explicado pelo game.
Para quem então, é Pro Cycling Manager 2018? Essa é uma questão que martelou na minha cabeça durante dias, e a única resposta que consegui foi: para os mais extremos entusiastas do esporte que precisam ter a versão mais recente, independentemente de ter problemas ou não.
Isso não quer dizer que a Cyanide não está ciente deles, na data da publicação dessa análise (10 de julho) a desenvolvedora já disponibilizou duas grandes atualizações para correção de bugs incluindo o bizarro caso das bicicletas invisíveis, e os citados aqui possivelmente serão corrigidos nas próximas semanas.
Mas no fundo, não há muito o que fazer. Pro Cycling Manager 2018 é a versão 2017 com o número modificado. Os tutoriais podem ser um atrativo para novatos, mas sinceramente? É melhor aproveitar a versão 2017, instalar um dos mods no Steam Workshop para incluir equipes desse ano (e com nomes reais) e investir um tempo extra para aprender os nuances com o antigo tutorial. É um gênero que merece a atenção e o investimento, mas Pro Cycling Manager 2018 — na atual conjuntura — me decepciona muito.
Pro Cycling Manager 2018
Total - 6.5
6.5
Ainda que ofereça um tutorial mais direto ao ponto, e ao mesmo tempo mais detalhado para novatos, a quantidade de bugs presentes tanto no modo carreira como no modo de gerenciamento de equipe, e as melhorias insignificativas em relação a versão 2017 fazem de Pro Cycling Manager 2018 uma das edições mais fracas da franquia da Cyanide