Acompanhar franquias anuais, para mim, é algo desgastante. Melhorias significativas são menos aparentes e a interação constante com os seus sistemas os tornam menos atrativos. Passados quase três anos de que eu gastei minhas tardes e noites em Pro Cycling Manager, é bom ver que a Cyanide Studio conseguiu melhorar, sem trocadilhos, o andar das coisas em Pro Cycling Manager 2017.
Seria eu um dos poucos fãs de ciclismo no Brasil? Pouco provável. Entretanto, meu interesse pela franquia sempre veio do aspecto gerencial acima de tudo, o que era relativamente fraco. Claro, você tem alguns nomes licenciados (que eu raramente escuto falar sobre), certas pistas oficiais, o pacotinho para você aproveitar se é fã. Quando chegava na hora dos ajustes, era tudo ou nada, táticas consideradas padrão venciam aqueles que buscavam detalhes. A versão 2017 leva parte dos meus problemas embora.
Embora visualmente agradável quando o assunto era as corridas em si, navegar pelos menus de Pro Cycling Manager era o equivalente a sofrer com um mockup de uma interface feita por alguém que não tem experiência na área. Ou ao menos era isso que aparentava. A nova edição não traz uma mudança de outro mundo — como visto em managers como Out of The Park Baseball — mas também reduz a quantidade de cliques que você precisa para descobrir o maldito atributo de um dos ciclistas da equipe.
A apresentação é mais amigável, as principais informações, mensagens e elementos que considero cruciais para o desenvolvimento de táticas ou planejamentos estão todos dispostos em um único menu que depois se ramifica para outros tantos. A navegação é um pouco confusa e não tão intuitiva quanto eu esperava, mas a esta altura qualquer avanço é digno de comemoração. Ainda falta perder o aspecto “quadradão”, marca registrada desde que eu conheço Pro Cycling Manager como franquia. Convenhamos, não dá para jogar um manager em 2017 com menus vindos direto de um jogo de estratégia de 1999.
No que ele peca em gratificação visual nos menus, recompensa durante as corridas em 3D com a tão melhorada inteligência artificial. Foi-se embora a minha agonia de ver meus ciclistas saírem do pelotão — grupo principal de uma corrida de ciclismo — no meio de uma subida por motivos absurdos. O grau de autonomia dos pilotos é melhor equilibrado com as vontades do jogador, redobrando os esforços de criar uma “simulação” autêntica dos eventos.
Minha paciência para corridas em 3D, seja elas em Pro Cycling Manager ou em qualquer outro do estilo estende até o ponto onde eu vejo a “imersão” — sei que é uma palavra vazia sem contexto — é quebrada. Quando via minha equipe tomar decisões ridículas eu ia direto para simular automaticamente os eventos do que esperar sentado 20, 30 minutos de corrida. Este é o primeiro jogo depois de Motorsport Manager a me fazer acompanhar com os olhos grudados na tela cada etapa do percurso.
O trunfo de Pro Cycling Manager 2017 não se limita ao esporte, mas sim algo que deveria ser existente no gênero de maneira geral — o uso efetivo de tabelas de projeção. É absolutamente insalubre ter de lidar com um manager que gera perspectivas de longo prazo a partir de uma seta para cima, uma para baixo ou um ícone de positivo ou negativo. Que retorno um jogo desses espera de mim? Que eu ajuste os planos para uma ou duas semanas e lide com possibilidades sem o mínimo de informação básica? O conceito aplicado em Pro Cycling Manager 2017 é tão simples, mas tão importante que deveria ser copiado, sim, literalmente copiado, por muitas empresas.
Cada ciclista tem uma tabela de projeção de desempenho estabelecida pelo ritmo e intensidade de treinamento. Assim o jogador pode ajustar os treinos de acordo com as principais competições da temporada. Elementos como intensidade usada nas corridas anteriores, possíveis machucados ou mudanças de sinergia na equipe trazem variações, até mesmo drásticas, para a tabela.
Ao invés de o jogo te pedir para projetar apenas para curto prazo, ele faz o contrário, te dá a base para ter do que esperar para o futuro e joga elementos inesperados constantemente. Eu sou uma pessoa profundamente planejadora, então o uso da tabela é uma solução que funciona comigo muito mais do que um “pode ser que as coisas melhorem mais para frente”. Uma mudança dessas faz toda a diferença entre continuar a jogar ou abandonar um manager. Mas, por mais incrível que pareça, não foi o modo de equipes que me deixou ainda mais feliz com Pro Cycling Manager 2017, mas com a impressionante melhoria do modo carreira.
Antes visto como um modo “secundário”, o apreço da desenvolvedora francesa a estender o modo para algo mais substancial é visível na edição 2017. A inclusão de objetivos de equipe e relacionamentos com os outros ciclistas é uma importante adição para que eu não me sinta entediado de apertar “Enter” para pular de semana a cada dez segundos. A tabela de projeção de treinamentos tem sua importância redobrada no modo. Deixava de ganhar corrida para ter energia e vencer a próxima, mais importante do circuito.
Claro que nem tudo ia como eu planejava, tomava decisões estúpidas, gastava energia em descidas para tentar me separar do pelotão, acabava em penúltimo lugar, a lista vai longe. Nesse meio tempo, raramente me senti “fora” do jogo, graças a inteligência artificial se encaixar exatamente no meu parâmetro, onde existe pressão para melhorar e sem pender demais para o impossível. Um meio termo entre tornar o modo carreira atrativo para novos jogadores e ao mesmo tempo desafiante o suficiente ao ponto de ser necessário uma, duas, ou três temporadas para conseguir extrair o máximo.
A curva de aprendizado fica mais suave, eu aprendo com os erros e reflito sobre as minhas decisões enquanto ajusto o treino no modo carreira. Eu sou apaixonado por gastar muitos minutos, ou até horas com um robusto planejamento e o ver se materializar de pouco em pouco nos momentos cruciais da vida do meu ciclista virtual. Empresas que criam modo carreira em managers ou jogos esportivos, anotem o que a Cyanide aplica em seu game. Quanto mais granularidade e graus de decisões disponíveis, mais interessante a carreira fica.
Mas da mesma forma que Pro Cycling Manager 2017 acerta em cheio em melhorias, ele também é repleto de algumas decisões…peculiares para não as chamar de outros termos. Em um jogo onde uma comunidade online é quase uma constante, talvez até maior do que as ligas online de Out of The Park Baseball, a Cyandie faz um esforço ridículo para melhorar a conectividade e interação.
A adição de clãs é um degrau na imensa escada que a desenvolvedora francesa ainda tem a caminhar. Servidores com os mesmos problemas que eu vi em 2013 não ajudam o caso de ser apenas um “problema temporário”. Partidas online não são nada curtas e ser desconectado na metade delas é um singelo convite a nunca mais tenta-las.
Na mesma lista de ridículo cai o bizarro sistema de cartas, uma tentativa de extrair aquele “dinheirinho a mais” sem necessidade. Eu tento entender o motivo da existência, porém falho. A começar que os itens contidos nas cartas não são nada além de cosméticos, algo bom. Por outro lado, é um manager, quem diabos vai comprar cartas para um manager? Por que ainda insistem nisso? Se ao menos garantissem que todo o dinheiro fosse revertido para uma melhor infraestrutura online eu provavelmente compraria umas 100.
Como um manager para um jogador, o que era justamente o que procurava em Pro Cycling Manager 2017, é um importante passo à frente para a Cyanide. Os problemas que encontrei na versão 2014 foram sanados ou mitigados ao ponto de não me incomodarem mais. Sendo um fã ou não de ciclismo, diria que é o melhor momento para se aventurar em um novo manager.
Pro Cycling Manager 2017
Total - 8
8
Aprimoramentos na inteligência artificial, modo carreira e inclusão de mecânicas como tabela de projeção e objetivos fazem Pro Cycling Manager 2017 ser até então o mais refinado manager da Cyanide para quem prefere jogar sozinho. Só não espere o mesmo se decidir se aventurar no online.