Quer saber o que eu mais gosto de “Pepper Grinder” (Steam / Nintendo Switch)? A sua trilha sonora. As melodias que misturam um pouco de jazz com caos produzidas por XEECEE foram o que me manteve são durante os estágios mais irritantes que me davam a vontade de jogar o controle pela janela. Não por uma falha do jogo, bem, em partes. Mas pela minha incapacidade de ser bom em qualquer jogo de plataforma.
O jogo da Ahr Ech não quer perder tempo te contando uma história elaborada. Você é uma pirata que teve o seu tesouro roubado e o quer de volta a todo custo. Este custo envolve usar uma furadeira gigante capaz de quebrar todo tipo de pedra, inimigo e obstáculo pela frente.
Eu assumo que não tinha muito interesse em “Pepper Grinder” assim que a Ahr Ech e a Devolver o anunciaram, ele me aparentava ser um jogo arcade que girava em torno de uma única mecânica e que não elaboraria muito mais além disso. Em partes isso é verdade. O que você vai estar fazendo na primeira fase é bem similar aos momentos finais do jogo, mas é a forma que você usa essa ferramenta que muda tão drasticamente.
A palavra-chave que define “Pepper Grinder” para mim é: fases incrivelmente desafiadoras e bem elaboradas. Embora curto – o que eu vejo como um ponto positivo – cada “mundo” do jogo tem seu estilo tão bem definido que eu chegava na próxima área com um sorrisão na minha cara, ansioso para descobrir o que a Arh Ech tinha preparado para mim. Um novo inimigo? Novas formas de perfurar? Uma mecânica especial que vai ser usada em uma ou duas fases? Na maioria do tempo era frustração.
“Pepper Grinder” caminha na linha tênue entre um excelentíssimo e acessível jogo de “plataforma” e “opa, sem querer criamos ‘Super Meat Boy 2’”. Se isso foi proposital ou não, eu não sei, mas em um momento ele pode te entregar a fase mais fácil do mundo só para seguir com uma que requer tanta precisão e timing correto que eu cheguei a me perguntar se eu não tinha aberto o jogo errado no meu computador.
Como eu disse no começo do texto, eu não sou bom em jogos de plataforma, e as fases que requeriam um grau de precisão adicional eram a “morte” para mim. Não quero diminuir o incrível trabalho da Arh Ech, pelo contrário, variação entre dificuldades é uma ótima forma de cadenciar um jogo para que ele não fique exaustivo, e, levando em conta o quão frenético “Pepper Grinder” pode ser, uma ótima decisão.
Agora, quando eu digo um grau alto de precisão, é fazer um “combo” de perfurar quatro paredes seguidas no ângulo certo, usar o “boost” da sua furadeira gigante no momento certo e se jogar por cima de três caldeirões e ainda torcer para não cair na lava. Eu devo ter gastado pelo menos uma meia hora nessa etapa, e pode ser que você demore cinco minutos. Não leve tanto a minha experiência em conta.
Mas, por outro lado, eu teria preferido se alguns dos controles do game fossem ajustados para mais “precisão”. Ativar sua broca, por exemplo, utiliza os gatilhos do controle e eu os vejo como uma opção desnecessária já que toma muito mais tempo do que, por exemplo, os botões superiores do controle. Houve muitos momentos em que eu senti que não havia pressionado com tanta profundidade ou o jogo não detectou que eu pressionei o botão.
Isso é bastante visível nas lutas contra os chefões – o que eu considero o ponto baixo de “Pepper Grinder”. O design das lutas em si não são ruins caso elas fossem colocados em outro jogo, mas no caso do título da Arh Ech, é como pisar no freio após você estar a 200km/h. Eu teria preferido um estilo de “perseguição” – que até ocorre em certas “etapas” dos chefões – do que ficar preso em uma arena. Teria sido um problema maior se o jogo fosse mais longo, mas outra vez, a Arh Ech acerta muito bem a quantidade de fases e até onde estender as mecânicas para que elas não fiquem exaustivas.
Abro espaço para mencionar que, se você tem questões de acessibilidade ou achar o ritmo um pouco frenético demais, o jogo te dá a opção para desacelerar o ritmo e dos testes que pude fazer, você não perde absolutamente nada da experiência.
Mesmo diante desses deslizes e da minha própria incapacidade em jogos de “plataforma”, eu estou muitíssimo longe de largar o osso de “Pepper Grinder”. Além do modo campanha, o jogo tem um modo “corrida contra o tempo” que – como muitos sabem – é um dos meus elementos favoritos em jogos.
“Ah, quer dizer que você quer que eu termine essa fase em menos de três minutos? Pode ter certeza!”. Certeza nada já que estou longe de atingir essa marca. Mal posso esperar para ver alguém em um evento de speedrun como o “Awesome Games Done Quick” (AGDQ) destruir o recorde de todo mundo terminando “Pepper Grinder” em 15 minutos.
Seja terminando em 15 minutos, ou gastando quase seis horas (o que, até onde eu sei, é bem acima da média), “Pepper Grinder” é o estilo de jogo que vem com um propósito e se agarra a ele até o final. “Queremos fazer um jogo de plataforma com uma mecânica única e queremos ter certeza de que ela funcione bem”, é o que eu imagino que a Arh Ech pensou durante o desenvolvimento.
Poderia passar três parágrafos falando do “potencial desperdiçado” ou de como o jogo poderia ter mais segredos, mais áreas, ou até mesmo virar um metroidvania com o estilo de movimentação que a Arh Ech usou. Para todas essas situações de “e se”, agradeço e muito que nenhuma delas foi seguida.
Jogos inchados e, muitas vezes, mais longos do que o necessário, eu já tenho muitos na minha biblioteca. Se for para pegar um jogo de plataforma, que ele venha com a mesma mentalidade usada pela Arh Ech em “Pepper Grinder”.
E se você ainda está em dúvida se vale a pena ou não, vai fundo. Pegue a sua furadeira gigante, perfure tudo o que ver pela frente e quando bater a cara contra o muro imaginário da dificuldade, se agarre na trilha sonora. E, que trilha sonora, meu deus.
Pepper Grinder
Total - 9
9
Jogos de plataforma não são a minha praia, jogos que requerem precisão ainda menos. “Pepper Grinder” conquistou o meu coração com o seu estilo único e, embora ele tenha alguns defeitos no uso de controles e chefões que não me agradaram, merece ao menos ser jogado uma vez. Isso se você não cair no mesmo buraco que eu e tentar completar as fases em tempo recorde.