A minha paixão por jogos de ski ou snowboard está bem documentada no site. Acompanhei, por anos, a evolução de “Steep” – e a eventual expansão do conceito para o falho “Riders Republic”. Vi dezenas de jogos tentarem capturar a tensão de descer uma montanha por caminhos perigosos, mas poucos conseguem chegar perto. “Lonely Mountains: Snow Riders (Steam / Xbox) é o jogo que começa a mudar isto.
A Megagon Industries não é inexperiente no que diz respeito a criar jogos com uma altíssima curva de aprendizado. O título que a colocou no mapa “Lonely Mountains: Downhill” era uma gigantesca carta de amor ao mountain biking. Trilhas traiçoeiras, dezenas de atalhos, a constante corrida contra o tempo e regiões que progrediam de dificuldade de forma igualmente intensa e avassaladora.
Lembro-me muito bem de ter começado “Lonely Mountains: Downhill” e já estar exausto ao chegar na terceira região. “Por favor, me dá um descanso”, eu dizia. A Megagon Industries não hesitava em dar porrada atrás de porrada e colocar objetivos dificílimos para obter as melhores bicicletas. “Quer o melhor? Então seja o melhor”.
“Lonely Mountains: Snow Riders” perpetua uma parte dessa ideia, mas de outras maneiras. Você ainda tem o que eu vou chamar por ora de variedade de trilhas e cenários, diferentes tipos de equipamento com prós e contras e uma enorme quantidade de personalização para o seu personagem. Não que o último ponto faça tanta diferença. Afinal, a maioria das vezes que você vai prestar atenção nas suas roupas é após atingir uma árvore, um pedregulho, sem querer se tacar de um penhasco ou se afogar na água.
Todos e tantos outros “empecilhos” no seu caminho estão presente nas três regiões com oito trilhas cada de “Lonely Mountains: Snow Riders”. Quatro no modo “Blue” – o mais fácil – e quatro no modo “Black” que só é liberado após completar objetivos específicos como completar a trilha em um tempo limite, não se transformar em uma piñata de tanto bater em pedregulhos ou outros objetos do cenário, ou uma combinação de ambos. Por outro lado, a Megagon Industries tenta também oferecer algo que “Lonely Mountains: Downhill” sequer tinha em mente: o aspecto social.
Uma das maiores adições da sequência é a inclusão de lobbies abertos ou privados, um modo “zen” onde você pode apreciar as montanhas no seu ritmo, jogar em equipes fechadas e todo um novo sistema de manobras. Nada que vai fazer você gastar horas e mais horas para aprender, mas é uma adição que o torna muito mais atraente para alguém que não quer se descabelar para descobrir as melhores manobras. Aliás, nem um sistema de pontuação de manobras o jogo tem, o que eu vejo como algo positivo.
Só que, para acomodar essas mudanças relativamente grandes, a Megagon Industries tomou umas decisões bastante… controversas por assim dizer. Uma delas é a adição de um sistema de níveis.
Quanto maior o seu nível, maior a variedade de itens cosméticos, manobras e skis para você utilizar. Acontece que, a obtenção de pontos no modo solo – um dos meus preferidos – é tão pífia que nem quando eu já havia completado as três regiões eu tinha acesso a todos os modelos de skis. E alguns deles são quase que essenciais para completar os desafios mais cabeludos. O que me restava? Participar do modo online.
Antes que pareça que eu estou fazendo tempestade em copo d’água, eu não tenho nada contra modos online. Tanto que um dos meus passatempos favoritos são os modos assimétricos como tabelas de liderança ou desafios diários. Mas, o que acontece daqui há um mês quando a comunidade diminuir, ou daqui há dois meses? Eu vou ficar tendo que tentar a sorte em horários de pico para subir de nível e liberar novos skis? E aquelas pessoas que não jogaram “Lonely Mountains: Snow Riders” no lançamento? A Megagon Industries, até então, não tem a resposta para essas perguntas.
Outra pergunta que ficou na minha cabeça são algumas das mudanças feitas nas pistas, mais especificamente as do modo “Black” que, em teoria”, seriam as mais difíceis. Comparado com “Lonely Mountains: Downhill”, elas são risíveis de fácil. Não só fáceis, mas muitíssimos similares em conceito e até rotas.
No título anterior da Megagon Industries eu sentia que eu estava em outra região do mapa, uma inóspita, que eu tinha acabado de encontrar e me aventurar. “Lonely Mountains: Snow Riders” faz o contrário – pega a mesma rota e muda atalhos ou coloca obstáculos no lugar. A sensação é uma de “Pera, eu não já fiz essa trilha antes? Ah sim, eu fiz! Olha lá o atalho que eu peguei no modo Blue!”.
Pode soar que eu estou tentando achar pelo ovo, mas a discrepância em qualidade das pistas de “Downhill” para as de “Snow Riders” é estarrecedor. Um dos elementos que eu mais gostava em Downhill era o modo noturno – liberado após completar todos os desafios de uma região. Ele por si só adicionava uma camada extra de desafio que transformava completar uma pista quase que um milagre. “Snow Riders”? Nada, nem um modo “nevasca” ou “tempestade” para diminuir a visibilidade.
Não é como “Snow Riders” tivesse o luxo de ser um jogo de corrida – até mesmo dos mais “simples” por assim dizer –, como “Mario Kart” que o modo “Time Trial” ao menos oferece novos tipos de desafios com múltiplas pistas ou rotas inversas. Nem mesmo os atalhos, que antes eram escondidos e recompensavam aqueles mais atentos para as rotas, são gratificantes dessa vez. Olhe para o lado e você vai encontrar pelo menos três atalhos. Isso que o jogo tem um modo “Zen”, que permite você explorar as trilhas no ritmo que bem desejar. Se isso não é uma ótima justificativa para colocar uns segredos bem escondidos, eu não sei o que é?
Eu não creio que “Lonely Mountains: Snow Riders” seja um jogo ruim. Ele tem o esqueleto de um jogo competente que vai ser expandido nos próximos meses com mais pistas, desafios diários, semanais e tantos outros modos que a desenvolvedora ficou conhecida por adicionar ao longo da “vida útil” (detesto esse termo) de um jogo.
Mas isso não me impede de vê-lo como um título que deu dois passos para frente e um para trás. Eu aprecio muito os esforços da Megagon Industries em torná-lo mais atraente para um público maior e essa de fato é a direção que a série tem que caminhar. Ao mesmo tempo, a carência de modos mais desafiadores ou atalhos mais complexos para os veteranos não me agrada muito.
Posso estar na minoria, mas não consigo deixar de mencionar o gosto amargo que fiquei na boca ao terminar todos os desafios e pensei “bem, é isso então”. Uma sensação que vai muito, muito contrária ao que senti ao completar “Lonely Mountains: Downhill”. Por ora, vou deixar as montanhas gélidas e a neve para trás. Quem sabe eu as não revisite em um futuro próximo? Nada é impossível.
Lonely Mountains: Snow Riders
Total - 8
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“Lonely Mountains: Snow Riders” é o típico “dois passos para frente, um para trás”. A Megagon Industries fez certo em torná-lo mais atraente e menos punitivo para jogadores novatos, mas a pouca variedade de pistas – ainda mais as variantes que deviam ser mais difíceis – e o sistema de níveis que é quase necessário interação com o modo de corrida online, não me agradaram. A desenvolvedora precisa tirar uma camada extra de neve para que ele de fato brilhe como “Lonely Mountains: Downhill”.