Falar que gosto de Just Cause até alguns dias atrás seria um exagero. A franquia me interessava, mas bastava jogar um pouco que já ficava de saco cheio. Foi com muito pé atrás que comecei a jogar Just Cause 3, já na expectativa de que ele ia durar umas horas no meu HD. Para minha surpresa, não só ficou muito mais que isso como me conquistou. Ele está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC a partir de R$ 129,99.
Just Cause 3 se passa na ilha de Medicci, terra natal do protagonista Rico. A Avalanche Studios aposta em uma história mais bem trabalhada para esconder as medianas missões. Funciona, mas apenas até certo ponto. Os personagens dessa vez ao menos estão engraçados, enquanto a variedade de objetivos continua a ser fraca. Vá até um lugar específico, destrua uma instalação, fuja, vá para outro lugar e destrua mais um pouco.
Se parasse por aí, Just Cause 3 seria um jogo sem graça e com algumas explosões bonitas. Ainda bem que o conteúdo adicional e a liberdade que ele me dá fazem esquecer das coisas chatas. Uma das novidades está na tabela de liderança — onde você pode competir com seus amigos para quem matou a maior quantidade de inimigos ou outros objetivos — simples, mas que funciona boa parte do tempo. Digo “boa parte” pois várias vezes perdi a conexão com os servidores da Square-Enix e o jogo me forçava a esperar até um minuto para poder escolher o modo off-line.
Isso só piora quando jogo tentava se conectar toda vez que abria o Commlink — menu onde está o mapa, rebel drop, seleção de mods e outros itens que são de uso quase que constante. Uma opção de começar no modo off-line ou permanecer indefinidamente não está inclusa, por motivos que eu não sei explicar.
Quando eu não estava nessa eterna luta entre Just Cause 3 e os servidores, consegui explorar o que o jogo tinha de melhor, as destruições. A quantidade de itens que você pode explodir, usar como explosivos ou arremessar é insana. Pontes podem ser reduzidas a escombros, torres de comunicação arrancadas com um gancho e amarradas em helicópteros ou antenas parabólicas que viravam metais retorcidos após uma boa rajada de mingun.
Em alguns momentos até conseguia ser usado para uma aproximação mais tática do combate. Para que invadir uma base de polícia com um paraquedas, um helicóptero ou pela porta da frente se eu posso usar explosivos para destruir o muro de proteção? Por falar em combate, a variedade criada pela Avalanche é bem-vinda, mas a dificuldade ainda não está do meu agrado.
Tudo bem que Just Cause nunca foi uma franquia famosa pela dificuldade, mas os inimigos estão lá mais para fazer volume do que outra coisa. Meus maiores oponentes eram as torres antiaéreas ou um ou tanques que raramente apareciam no cenário. O combate continua sem peso, com armas — exceto lança mísseis e explosivos — pouco significantes. Por outro lado, nada botava um sorriso na minha cara maior do que prender dois soldados em um barril e fazê-los voar pelo cenário.
Na medida que deixava minha onda de caos para trás, Just Cause 3 mostra algumas novas ferramentas ou modificações para tornar a minha estadia em Medici ainda mais divertida. Boa parte do sistema de progressão, os mods, está atrás de desafios espalhados no mapa. Ativados por uma tela separada, eles permitem colocar nitro em carros, carregar mais explosivos ou aumentar a quantidade de ganchos a serem usados no cenário.
Por um lado essa dependência do modo de desafio é boa, pois me fez explorar um dos aspectos que mais deixo de lado em jogos, por outro tornou as missões ainda mais insignificantes. Antes mesmo de completar a terceira missão eu já estava com mods de nitro, mais explosivos e uma porrada de outras coisas para meu arsenal.
Os desafios são separados em categorias de mods: Veículos, Wingsuit, aviões, carros e explosivos. O esquema praticamente o mesmo para todos: chegue até um local em menos tempo ou exploda tudo antes que o tempo acabe. Por serem curtos, completa-los não cansa. Isto é, com exceção das corridas de carro, que graças ao terrível controle de veículos terrestres, consegue frustrar várias vezes.
Quando o assunto é controlar o personagem, Just Cause 3 está anos-luz à frente de seu antecessor, mas isso não significa muito quando ele as suas adições apresentam problemas. A sequência deixa movimentar o personagem sobre um veículo em movimento— onde antes era permitido apenas em pontos específicos.
Não tenho dúvidas que no papel era uma ótima ideia, isto é, se não existisse missões que te fazem defender um caminhão ou um comboio que na primeira explosão é jogado para fora e fazer recomeçar a missão. Inúmeras vezes revirei os olhos ou dei uma respirada funda para não o fechar.
No aspecto audiovisual ele também não faz feio. A versão PC, usada para essa análise, mostrou-se não apenas um bom “port” como também repleto de opções para configurações mais fracas. A ilha de Medici tão pouco variada esteticamente quanto Panau, com cidades costeiras, planícies e montanhas com neves que parecem ter sido copiadas e coladas pelo mapa.
Por outro lado, a iluminação, modelagem e física ganham um toque de refinamento tão necessário para adentrar uma nova geração. Just Cause 3 deixa aquela tonalidade amarelada do antecessor para trás e mostra uma ilha mais “viva”. Diria até que é cenário paradisíaco onde passaria férias. Isto é, quando não está ocupado destruindo tudo. Apesar de ter usado um computador mais potente do que o game pede, algumas explosões faziam com que a minha taxa de quadros caísse para números ridículos e prejudicasse momentaneamente a experiência.
Por quê continuava a jogá-lo? Pois não há satisfação maior do que ver a trilha de destruição após completar todos os objetivos de uma base militar ou ver uma ponte ser destruída. Just Cause 3 é simplesmente divertido. Ao contrário de te empurrar para o próximo objetivo, ele deixa você ditar o que deve ser feito.
Just Cause 3 chega para você, te dá um bando de munição, uma Wingsuit, fala “Vai lá, faz o que você quiser” e foi o que fiz. Eu perdi mais horas de jogo vendo quantos carros eu conseguia carregar em um helicóptero para depois tacá-lo em uma cidade ou ver qual a distância que eu conseguia arremessar uma pessoa com o gancho.
Depois de mais de 15 horas de jogo ainda não explorei todas as ilhas, não só por haver bastante conteúdo, mas por me ocupar com outras coisas que nem mesmo eram relacionadas a missões ou desafios. Não foram poucos os momentos onde fiquei uns 30 minutos para colocar uns carros pendurados em uma ponte e ver como eles reagiriam após explodi-la. Ganhei alguma coisa? Não, não aumentou minha pontuação nem mesmo ganhei aquele reforço positivo ou uns “parabéns”. Foi engraçado e me fez bem.
Just Cause 3 permite criar a minha própria diversão da maneira que poucos outros conseguem. Ele sabe incentivar o jogador a fazer o que bem entender, mas sem que ele perca o foco ou se sinta sobrecarregado de objetivos. É ter a liberdade de poder pegar uma Wingsuit, voar por aí, prender carros em pontes, explodir trens, completar missões ou dar um passeio por Medici quando não está com vontade de fazer a próxima missão. Nem sempre é divertido, mas quando é, é um dos mais divertidos de 2015.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Square-Enix