Eu não sei se vocês ainda passam em uma banca de jornal (ou sequer notam a existência dela), mas como um frequentador assíduo devido ao meu vício em cigarro, sempre noto aquelas compilações de quebra-cabeças e palavras cruzadas. “Um dia desses eu compro para passar o tempo”. “Islands of Insight” (PC) é quase isso em um formato digital e com um mundo aberto para ser explorado.
Quando eu vi o título da Lunarch Studios, eu imaginei algo mais próximo de “The Witness” ou “Taiji” — onde áreas possuem vários quebra-cabeças que seguem uma lógica específica ou variações da mesma. Pelo contrário, “Islands of Insight” não é nada mais do que uma gigantesca compilação de quebra-cabeças que vão de “conecte todos os quadrados pretos e brancos sem que eles se cruzem” até pilares de luz onde você precisa encontrar a posição certa em uma plataforma para que todos fiquem acesos.
Embora eu não fique decepcionado com a proposta da Lunarch Studios, ela bate de frente com o que — em algum ponto do desenvolvimento — pareceu ser o foco do jogo: a narrativa.
No começo do jogo você tem toda uma narrativa de como o mundo foi “esquecido” e só o jogador é capaz de capturar as memórias e reconstruí-lo. Sei que jogos de quebra-cabeça não são os melhores para expandir nesse tipo de estrutura narrativa, mas “Islands of Insight” deixa a bola cair feio, ainda mais em um mundo pós “The Talos Principle II”.
Esta narrativa se limita a “esferas brilhantes” encontradas pelo mapa, com as quais você interage para conhecer mais sobre o que aconteceu com o mundo e os habitantes. Mas há uma desconexão tão grande entre interagir com elas e se importar com o que elas estão falando, que em um ponto eu resmunguei “tá, tá, está bem, qual é o próximo quebra-cabeça que eu tenho que completar”? Histórias fragmentadas funcionam muito bem quando o jogo tem algum tipo de estrutura ou temática; “Islands of Insight” tem tudo menos isso.
O menor resquício de estrutura contida no jogo são os “Mirabilis” — elementos especiais que você obtém após completar uma cadeia de quests principais — e a sua principal função é acessar novas áreas do jogo. Acredito que tenham sido colocados para evitar que jogadores afobados pulem direto em um quebra-cabeça extremamente complexo presente nas áreas avançadas e, ao menos nesse aspecto, funcionam muito bem.
Salvo isso, o que você tem que fazer em “Islands of Insight” é, bem, resolver quebra-cabeças! Como disse antes, eu não fiquei decepcionado com a proposta. É o tipo de jogo em que você pode muito bem começar uma partida, resolver uma meia dúzia de quebra-cabeças dos mais variados formatos, fechá-lo e voltar dias depois para continuar a sua jornada.
Eu amo essa ausência de pressão (ou, aparente ausência) e até mesmo de direção. “Caçava” os meus quebra-cabeças favoritos em um momento. Noutro momento me focava em completar uma série de desafios de “match 3”, ou encontrar arcos secretos no mapa, conectar símbolos ou pilares em plataformas. Embora este seja um termo que eu deteste usar, “Islands of Insight” tem aquele “quê” de oferecer quase tudo para alguém que tem interesse em compilação de quebra-cabeças mas não quer se aprofundar demais em regras.
Isso não quer dizer, é claro, que ele é necessariamente “fácil”. À medida que você avança para novas ilhas — todas belíssimas por sinal, com algumas que parecem ter saído de uma renderização de objetos em 3D do final dos anos 80/ começo dos anos 90 — os quebra-cabeças começam a ficar cada vez mais complexos. Não deixe que isso te afaste do jogo; ele possui um sistema eficaz de “dicas” para mostrar onde você pode ter errado. Há um delicioso equilíbrio entre não dar a resposta de mão beijada, mas incentivar o suficiente para que você pense o que está “faltando” para completar.
Um dos pontos altos é a presença de “templos temáticos” que usam um quebra-cabeça específico e regras especiais. Diria que é a epítome da proposta da Lunarch Studios para “Islands of Insight”. Pegue um elemento simples, o contorça, o reinvente, dê um novo significado e quanto mais fizer, mais prazeroso vai ser. Foi essa a sensação que reverberou em mim ao pegar quebra-cabeças que aparentavam ser “simples” mas cujas regras davam uma nova imensidão para eles. Completar cada templo abria um sorriso gigante no meu rosto.
Todavia, o que me quase me afastou do jogo foi uma decisão que não tenho como não chamar de estúpida: a necessidade de conexão online.
Pois é! Por incrível que pareça, “Islands of Insight” requer uma conexão com a internet, e os saves são hospedados no servidor e não no seu computador. O motivo disso? O aspecto “social” e um bizarro sistema de níveis que a Lunarch Studios implementou no jogo.
Ainda estou tentando decifrar o motivo pelo qual “Islands of Insight” sequer teria isso. Eu entendo o aspecto social, resolver quebra-cabeças com amigos é tentador… se algum deles fosse de fato feito para duas pessoas. No pouco tempo que eu joguei em coop, a maior utilidade dele foi indicar para onde ir. Você até cruza com outros jogadores mas as ferramentas de interação são pateticamente fracas ao ponto de, outra vez, não entender o porquê da presença delas.
Faço o mesmo questionamento para o sistema de nível para o seu personagem. Sim, “Islands of Insight” também tem níveis! Os dois primeiros dão acesso a um pulo duplo e a possibilidade de flutuar usando asas. O terceiro te permite dar um salto e o quarto aumentar a duração do seu tempo de voo.
O restante é praticamente inútil já que só aumenta as recompensas para completar puzzles. Para o que usar essas recompensas? Comprar novos itens cosméticos e personalizar o seu personagem.
Personalizar o seu personagem em um jogo onde o foco é solucionar quebra cabeças.
Eu não sei como descrever a minha sensação ao ver tais elementos a não ser como “incrédulo”. Boa parte deles pode ser ignorada, mas o que não desce para mim são os saves hospedados nos servidores e não de forma local.
Por que um jogo como “Islands of Insight” precisa ter um sistema de “Games as a Service”? Por que eu preciso me preocupar se o meu personagem está bonito ou não? Por que eu não posso ter autonomia dos meus saves ficarem no local onde eu bem entender?
Pode soar que eu esteja fazendo tempestade em copo d’água, mas eu quero “Islands of Insight” como algo “meditativo”, um refúgio onde eu posso tomar o meu tempo para solucionar quebra-cabeças. E, considerando o gigantesco escopo do jogo, vou demorar no mínimo 100h para completar tudo. Não vou fazer isso de uma tacada, esse não é o tipo de jogo para isso.
E o que acontece se eu decidir dar uma pausa, voltar daqui a seis meses ou um ano porque me deu vontade de continuar a exploração de uma área em específico? O jogo ainda vai estar online? A sua publisher — Behaviour Interactive — tirou os servidores do ar? Eu não sei essas respostas, e isso me deixa agoniado.
Se tudo o que eu escrevi nos parágrafos anteriores não te incomoda ou você não se “preocupa” com essa “bobeira”, vai em frente, pegue “Islands of Insight” e não se arrependa. É uma excelente coleção de quebra-cabeças que te permite jogar no ritmo que você quiser.
Eu mesmo não o larguei ainda e toda vez que entro no seu mundo fico “Tá bom, só mais esse quebra-cabeça e eu paro”; uma jornada que termina 3h depois. Adoro a proposta da Lunarch Studios e acredito que ela tem até como expandir com novos quebra-cabeças.
Mas se o custo de expandir, de manter e produzir um jogo desse estilo for a necessidade de conexão online, eu prefiro ir na banca de jornal comprar uma coleção de palavras cruzadas e sudoku. Podem não vir com o mundo deslumbrante, nem a possibilidade de voar. O papel pode ficar amassado, velho, mas ao menos eu sei que daqui a dois anos ou mais, eu posso pegar e continuar a minha jornada pessoal de onde eu parei.
Islands of Insight
Total - 8
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“Islands of Insight” é uma fantástica coleção de quebra-cabeças que impressiona na variedade, dificuldade e uso extensivo de regras especiais para te testar. Ele não te pressiona para chegar ao fim e seu mundo é vasto o suficiente para você explorar no seu próprio ritmo. Ao mesmo tempo, a necessidade ridícula de conexão online constante e um modo coop inútil roubam o foco. Pegue-o se você gosta de quebra-cabeças e torça para que a sua jornada não seja interrompida quando desligarem os servidores.