Se tem uma coisa que anos acompanhando a indústria de jogos me ensinou é que não se mexe em time que está ganhando. O primeiro “House Flipper” foi um gigantesco sucesso em um mar de jogos com premissas similares que envolviam demolição / construção e reparo de casas. Desde 2018 muitos tentaram, e falharam, em capturar a sua magia. Exceto, é claro, “House Flipper 2” (Steam)
“House Flipper 2” é, no mínimo, uma sequência extremamente segura. Comece a sua vida pacata limpando casas, depois avance para repará-las, junte dinheiro suficiente para comprar novas casas e as venda por um preço bem acima do mercado. Capitalismo!
Eu me apaixonei pela ideia de renovar casas no antecessor em parte por conta do meu transtorno obsessivo compulsivo (TOC) em organização e limpeza. Me dê um cômodo bagunçado em um dia que estou ansioso ou sinto a “necessidade” de arrumar algo, e ele vai estar limpo e arrumado em algumas horas. Quando eu estava “exausto” de fazer isso na vida real, transportava para o mundo virtual.
Antes de continuar, preciso deixar algo bem claro. TOC não é algo “legal” de se ter. É uma questão complexa e que muitas vezes me impede de fazer coisas — até mesmo finalizar um texto para o site —, portanto “House Flipper” seria como um “vício” para mim. Tanto que eu me afastei por um bom tempo dele e não fui a fundo nos seus DLCs. Isso tudo mudou assim que “House Flipper 2” saiu.
De todas as áreas que a desenvolvedora Frozen District podia melhorar, ela optou por dar bastante ênfase no sistema de organização e posicionamento de objetos. Embora não seja perfeito, ele está anos luz do seu antecessor. Diga adeus para tentar colocar um quadro ou um abajur na posição correta só para ver ele torto. “House Flipper 2” traz um sistema bastante complexo de grids ou posicionamento preciso que aqueles que sonham em “criar” a sua casa perfeita vão amar. Não é a toa que, ao invés de entrar de cabeça no modo carreira, eu comecei pelo modo “Sandbox”.
A Frozen District superou até mesmo as minhas expectativas. A não ser que você queira um jogo com uma quantidade absurda de detalhes, diferentes metragens e possibilidade de esculpir moveis diretamente dentro dele, “House Flipper 2” é de longe, a melhor opção. Ouso dizer que ele é a companhia perfeita para jogadores de “The Sims” que buscam um formato diferente de construir a sua casa.
Ferramentas de seleção facilitam definir quais áreas da parede pintar, você não precisa mais ter dor de cabeça de “pintar o lugar errado” e não conseguir desfaze. Agora também é possível comprar móveis e duplicá-los, usar o mesmo tom de cor para diferentes móveis com um clique só. O tempo entre ter uma área com nada além de mato e uma casa completa foi reduzido drasticamente. Isso sem contar as novas funções de terraplanagem e adição de diferentes pinturas ou manchas caso queira uma casa mais “desgastada”.
Já nem sei mais a quantidade de horas que eu investi na minha primeira, segunda e terceira casa. De uma pequena casa na praia, uma mansão e, por fim, uma casa de dois andares relativamente — parcialmente inspirada por um dos locais que já morei. Senti que já tinha visto tudo que “House Flipper 2” tinha para oferecer e eu estava parcialmente certo.
“Não se mexe em time que está ganhando”, a filosofia não podia estar mais clara do que o modo “carreira” de “House Flipper 2”. A sequência itera grande parcela dos conceitos do seu antecessor. O loop de reformar / comprar / vender casas foi pouco alterado e a maioria das ferramentas que deram as caras no primeiro game retornam com um novo sistema de habilidades ou com funções adicionais.
A maior “inovação” de “House Flipper 2” são as novas habilidades passivas de limpeza — que aceleram o processo de limpar manchas — e um spray que reduz ainda mais o tempo para remover qualquer detrito de uma casa. Não é que a Frozen District não tente dar uma sacudida na jogabilidade, ela faz isso com o novo sistema de “montagem de móveis”, mas dá uma escorregada feia.
No primeiro “House Flipper”, a maioria dos móveis — principalmente itens de banheiro — precisavam ser montados na parede ou conectados a encanações. O sistema original era bem parecido com outros jogos da distribuidora PlayWay (Car Mechanic Simulator), e fazia um bom trabalho em te dar a sensação de que você estava colocando as peças certas no lugar.
Em “House Flipper 2”, o sistema ficou mais complexo, mas também a Frozen District decidiu sabe lá o porquê adicionar mecânicas de “aperte o botão no momento certo”. Eu fiquei dias ponderando sobre a razão de um jogo ter um minigame de furar parede — sendo que o sistema anterior funcionava muito bem — e ainda com a possibilidade de você falhar. O que é isso, voltamos a 2010? Será que 2024 vai ser o ano do retorno dos “quick time events”?
Falar que eu “desgostei” da mudança é pouco. Não tem a cara de “House Flipper 2”, não faz o jogador se sentir mais imerso ou mais conectado com a casa. O que faz isso são as decisões que você toma sobre onde e que tipo de móvel vai usar, qual a cor da parede, se vai ter textura ou papel de parede. Ao menos nesse aspecto a Frozen District não decepciona.
Claro que a seleção inicial de móveis e decorações de “House Flipper 2” é bem menor que a do primeiro game, mas isso é a maldição de qualquer sequência. É praticamente impossível esperar que a mesma quantidade de objetos de um jogo que foi trabalhado por anos seja simplesmente “transportado” para uma sequência que melhora toda a iluminação, qualidade geométrica e propriedade dos objetos.
A minha única “decepção” em termos de móveis é a ausência de suporte a mods para eles. Quando a Frozen District anunciou que “House Flipper 2” teria suporte a mods, eu imaginava a comunidade transbordando o Mod.io de novos móveis em questão de semanas. Infelizmente o suporte é limitado a compartilhamento de casas por ora, o que não é ruim para quem está com vontade de fazer aquela limpeza pesada ou buscar inspiração, mas vejo como uma oportunidade perdida. Uma que, no futuro pode muito bem ser revista e implementada.
“House Flipper 2” continua a tendência que foi vista tão forte por 2023. Sequências boas, mas não “revolucionárias”. A iteração que a Frozen District fez na fórmula é muito bem vinda, e os novos visuais são estonteantes. Quem nunca jogou a série e começar pelo segundo game não vai sentir falta de nada. Eu mesmo não senti tanta falta de uma maior variedade de móveis — uma opinião que vai contra o sentimento da comunidade, que está bastante descontente.
O que se tem, ao menos no momento, é uma excelente plataforma que eu não tenho a menor dúvida de que vai crescer horrores em 2024 e diante. As mudanças visuais de “House Flipper 2”, as novas funções que aceleram a construção e decoração de casas são pontos tão cruciais que jamais volto para o antecessor.
Eu poso ter pendurado os meus produtos de limpeza e parado de criar casas, mas com certeza retorno para “House Flipper 2” no momento em que a Frozen District lançar a sua próxima atualização ou o seu primeiro DLC. A desenvolvedora mostra que quer lider dos jogos do gênero, e vai fazer de tudo para chegar nessa posição.
House Flipper 2
Total - 8.5
8.5
Total
A Frozen District não inova muito no modo carreira de “House Flipper 2”, e até mesmo dá umas deslizadas com adição de mecânicas desnecessárias ou datadas. Mas para cada deslize, ela compensa imensamente com um jogo mais visualmente atraente, mais detalhado e com um fantástico modo sandbox que já me fez gastar horas, e vai me fazer gastar ainda mais em 2024. Ele pode não ter todo o “conteúdo” do seu antecessor, mas é um excelente pontapé inicial para uma sequência.