Eu queria gostar de Hotline Miami 2: Wrong Number mais do que eu já gosto. Cada fase era completada e eu só torcia para que a próxima me fizesse gostar ainda mais. Foram poucos desses momentos, mas quando aconteceu, como valeu a pena.
A história é como um grande quebra cabeça no aguardo de ser desvendado. Compreender do que se tratava Hotline Miami é essencial para começar a ligar os pontos. É bem provável que você ficará confuso com o final e não irá entender algumas coisas. As missões pulam de personagem para personagem como se os desenvolvedores tivessem pressa de mostrar tudo sem elaborar as suas motivações de maneira satisfatória.
Chega a um ponto onde nas últimas missões mais personagens ainda são apresentados ao jogador e você acaba por ficar meio sem reação.
“Onde ele se encaixa na história? Por que devo me importar com ele?” — Na realidade você não deve — nenhum deles é tão memorável quanto os do primeiro. É como se ele sofresse de uma crise de identidade, sem saber como agradar todos os jogadores.
Com a vasta seleção de personagens, novas estratégias devem ser postas em práticas. Apenas em algumas fases você escolherá qual máscara, que possui vantagens e desvantagens, usar. Hotline Miami 2 em momentos te força a jogar com um único estilo, o que tira o jogador completamente da zona de conforto.
Existem certas missões onde você só poderia completar caso não usasse armas. Já outras, consideradas as mais fracas, requeriam o uso constante delas dado a nova estrutura dos mapas.
A estrutura de Hotline Miami 2 consiste de passar fases repletas de inimigos da maneira mais rápida, causando o máximo de mortes possível com as armas que estavam a sua disposição. Parte disso ainda está presente, mas a desenvolvedora optou por mapas maiores e mais longos. Você terá de se acostumar com inimigos que te matarão sem você conseguir reagir a tempo, parar combos para checar se está seguro avançar para a próxima sala.
Os mapas que demoravam de 5 a 10 minutos para serem completados foram estendidos para até 20 de acordo com a habilidade de cada um. Você fica nesse jogo de tentativa e erro constante até uma hora se irritar.
Em especificamente dois capítulos cogitei mais de uma vez desistir. Não era divertido, você não tinha como passar a não ser que a sorte estivesse do seu lado. Você não conseguia ver os inimigos e isso irritava. Agora imagine você passar por isso só para cair em outra cutscene sem sentido algum.
Para piorar, uma penca de bugs que estavam presentes no primeiro título voltam em conjunto com outra dezena de novos. Nada mais desgastante que quase completar uma fase com mais de 30 inimigos só para que o último fique preso em uma porta e você não consiga mata-lo. Isso sem contar os cachorros que andavam em círculos a toa.
Ao menos mantiveram o ritmo frenético do antecessor, onde você começa uma fase, ela parece que te suga o ar com a intensidade no qual você tem de jogar, sempre atento pois um passo errado e pode te custar a sua vida. É como andar de montanha russa e ela consiste apenas de loopings. Talvez tenha sido uma péssima analogia já que eu tenho pavor de montanha russa, mas o conceito é o mesmo.
Eles chegaram a aumentar o número de armas, mas os inimigos ainda são muito parecidos com o que tínhamos no antecessor. Claro que por se passar em épocas próximas, com alguns inimigos em comum não era para esperar nada diferente, mas as áreas que são exclusivas a sequência mostram os mesmos, apenas com uma mudança de cor.
A Dennaton games conseguiu fornecer uma estética e ambientação que estão anos luz a frente de Hotline Miami. Joguei alguns dias antes do lançamento o antecessor e fiquei impressionado como a sequência está repleta de pequenos detalhes que tornam a experiência mais agradável. De uma maior atenção aos detalhes, menus melhores elaborados, cutscenes bem produzidas e uma fase específica que é facilmente a coisa mais bizarra que já vi em um jogo.
É como se misturassem as cenas finais de Cidade dos Sonhos e Império dos Sonhos de David Lynch, jogassem em um liquidificador, enfiassem um estilo anos 80. É um daqueles momentos que você chega a ficar atordoado de tanta informação audiovisual na tela.
Não seria Hotline Miami 2 se não comentasse da trilha sonora, não é mesmo? Você achou a do primeiro boa? Se sim, imagine que pegaram ela, aumentaram a quantidade de músicas e colocaram outras melhores ainda. A maneira como as fases complementam a trilha e vice-versa é de aplaudir de pé. Muitos jogos contam com uma trilha ótima, mas que muitas vezes é esquecida no meio da ação, felizmente não é o caso.
Se olharmos unicamente para a jogabilidade, Hotline Miami 2: Wrong Number mais acerta do que erra e se mostra como uma sequência que esperávamos da Dennaton Games. A história confusa, falta de carisma dos personagens não colabora para um melhor aproveitamento. Se você souber tolerar os pequenos problemas, pode ter certeza que tem um bom jogo pela frente.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Devolver Digital