Apesar de ter jogado o Closed Beta, uma ponta de esperança ainda existia dentro de mim de que de uma forma ou outra Homefront: The Revolution seria um jogo bom. Agora que foi lançado para o PC, Xbox One e PlayStation 4, não me resta nada a não ser tristeza.
A história começa com o jogador no controle do protagonista que está, por um acaso do destino, no mesmo grupo que o líder da resistência norte-americana contra a invasão da Coréia do Norte — Benjamin Walker. O nome, que já não basta trazer referências ao abolicionista norte-americano, tenta trazer algum senso de patriotismo por parte do jogador, que é possível que nem mesmo alguém dos Estados Unidos tenha alguma simpatia.
Ela se apresenta da maneira mais emocionante e deplorável ao mesmo tempo. Os quinze minutos iniciais são repletos de ação e reviravoltas. Depois disso, toma um tombo para nunca mais se reerguer. Uma problemática comum nos jogos de “mundo aberto” que tentam ter algum semblante de história que não sirva apenas para jogar mais e mais objetivos no mapa com recompensas medíocres.
Filadélfia, palco do game, é dividida em três distritos. A zona vermelha — onde a maioria da resistência entra em conflito com forças norte Coreanas — a zona amarela, onde boa parte dos civis e o patrulhamento de maior escala está presente e a zona verde. A última acessível apenas aos cadetes maios altos da hierarquia militar Norte Coreana.
Esteticamente e mecanicamente a ideia é boa, mas a Dambuster Studios só conseguiu acertar a parte estética. Cada zona tem a sua identidade e metodologia de combate. Na zona vermelha, parece existir uma sensação de estar quase em constante combate com forças norte-coreanas. Bom, ao menos na primeira missão.
Depois disso a experiência se dilui a todo e qualquer outro shooter lançado entre 2010 e 2016. Vá ali, faça algumas missões, ganhe pontos para trocar por equipamentos melhores, depois os personalize, libere zonas de controle e ganhe dominação sobre a região.
A utilização desta estrutura não é algo que deveria ser contado como algo negativo, afinal ela é base para inúmeros jogos bons ou que apesar de não inovarem, conseguem trazer ao menos diversão, mesmo que superficial. O problema está em usar uma base que não se adequa a proposta.
Por si só isto já é uma grande decepção, pois se pode ver o trabalho em tentar tornar cada zona uma experiência “única”. A zona vermelha é basicamente composta de ruínas, resquícios do que em algum momento podem ter sido bairros. Na amarela, os confrontos entre os civis e a resistência parecem escalar consideravelmente, mas o game é incapaz de criar um senso de ilusão.
Você começa como um membro da resistência, que consequentemente se vê encurralada diante do imenso poderio das forças norte-coreanas. A própria narrativa aponta isso nos primeiros cinco minutos, mas em nenhum momento a retórica é reforçada por meio da jogabilidade. Você é basicamente uma arma da morte, um soldado invencível. Tropas e mais tropas são enviadas ao local e você as destrói como se fossem vacas indo para o abate.
Não é um problema quando apenas a narrativa propõe isso, mas a própria ambientação só aumenta esta dissonância entre o que você é e o que você faz. Empodera o jogador com base na necessidade de se ter um elemento de jogabilidade abrangente o suficiente para qualquer um se “divertir”. Como se cria a sensação de imersão, de que as ações de um jogador fazem a diferença quando se parte do pressuposto que ele já se estabelece como uma força amedrontadora diante do exército norte-coreano?
Ironicamente os poucos momentos que há a ideia de funcionar como uma resistência é no modo multiplayer. Com um modo cooperativo, até quatro jogadores devem completar uma série de objetivos em uma das três zonas da Filadélfia. A dificuldade, porém, não vem ao mérito do design das fases, mas sim do aumento dos pontos de vida e dano dos inimigos.
O modo coop serve também como um ótimo exemplo para expor mais falhas da jogabilidade, como o sistema de stealth. Evitar ser visto pelo inimigo neste modo é quase uma necessidade; as ferramentas para isso não podiam ser piores. A inteligência artificial varia entre o ruim e o inapto para combate, o medidor de proximidade é falho. Isso sem contar as inúmeras vezes que caí pelo mapa, os inimigos não nos enxergavam ou o PlayStation 4 parava de funcionar.
Da baixa taxa de quadros a problemas de congelamento quando se interage com objetos, visitar Filadélfia nunca foi tão difícil. Falhas técnicas geralmente são consertáveis e Homefront: The Revolution está repleto deles. Falhas da jogabilidade, por outro lado, esses são mais difíceis de engoliar.
Entre tantos problemas, ao menos o game consegue acertar na personalização de equipamento. Pode parecer pouco, mas talvez seja o melhor que há. Ao invés de inúmeras armas, ele dá uma estrutura base que pode ser modificada em tempo real de acordo com a situação.
Uma pistola, por exemplo, pode se tornar uma submetralhadora e um rifle se transformar em uma metralhadora de longo alcance. Pena que situações que envolvessem a necessidade de alterar o equipamento inicial eram tão poucas que o sistema fica mal utilizado.
De baixo de toda a inconsistência, Homefront: The Revolution tem a proposta de um jogo bom. A de que em algum ponto a ideia da resistência floresceria e teríamos uma conclusão positiva. Pode-se ver as camadas de mecânicas jogadas uma em cima da outra, ofuscando o que poderia ter sido ótimo.
“Melhore o seu personagem, faça equipamento por meio da obtenção de materiais espalhados no mapa, libere zonas, faça missões secundárias para aumentar a influência sobre uma zona”, esta descrição se aplica a um conjunto de jogos que quando postos um ao lado do outro são praticamente indiscerníveis quanto as mecânicas.
Homefront: The Revolution é a sequência para um jogo que ninguém gostou e muito menos pediu para que continuasse. A proposta é boa. A execução, falha. Não dá para segurar uma parede de concreto com fita adesiva e na tentativa desesperada de resgatar um projeto do limbo, nos dão um game aquém do que imaginávamos. Homefront: The Revolution define a sensação de desligar o console e dar de cara com a seguinte questão: “O que eu fiz nas últimas cinco horas? ”. Eu ainda não sei responder.
Homefront: The Revolution
Total - 5
5
Homefront: The Revolution é um jogo de 2016 preso em 2010. Uma história desinteressante e mecânicas mal utilizadas só pioram um pacote que já é decepcionante por si só com os inúmeros problemas gráficos. Talvez seja melhor que a série permaneça no limbo.