Quando escrevi sobre o primeiro episódio de Hitman, apontei que o game de ação / stealth da IO-Interactive já tinha uma base sólida, mas que ainda engatinhava para algo que realmente gostasse. Com o lançamento do Episódio 2, parte dessa promessa começou a ser concretizada. Ele está disponível para PC, Xbox One, PlayStation 4 em separado ou junto com o pacote Full Experience.
Em Paris temos uma fase gigantesca para explorar, o que por si não é ruim, só não tinha aquele “ar” de Hitman que conhecia das franquias anteriores. Sapienza, o novo mapa de Hitman, dobra o tamanho da área jogável e, consequentemente, das opções de aproximação e formas de completar um objetivo.
É a primeira vez que eu sinto que a franquia atingiu o ponto que ela sempre almejou. Sapienza é uma pequena cidade na costa da Itália onde o Agente 47 deve eliminar 2 alvos e destruir um vírus escondido em algum local do mapa. Reforço que o ponto da “história” nunca foi algo que vá fazer alguém jogá-lo e neste aspecto não muda em absolutamente nada. Você recebe o briefing inicial e nada mais. Não ligo, na realidade.
Paris continua como um ótimo “sandbox” para a criação de histórias e cheio oportunidades para alcançar o objetivo da sua maneira, mas um dos pontos fracos, principalmente para iniciantes, era a necessidade de “manipular” a IA para alcançar alguns dos objetivos mais trabalhosos. Usar a moeda para distrair guardas, fazer com que eles percorram um caminho específico e “quebrar” o funcionamento deles é algo que me apetece, mas que foi aprendido após anos de experiência com a franquia. Sapienza, por outro lado, remove essa curva de aprendizado e de cara já entrega todos os elementos para novatos e veteranos se divertirem.
O segundo episódio de Hitman se foca na clareza, de detalhes, do objetivo, de praticamente tudo. É como se Paris fosse a primeira caixa de ferramentas e agora Sapienza colocou uma nova chave de fendas, um novo parafuso e alguns pregos a mais. O arsenal do agente 47 não aumenta, mas não é necessário. A emoção de completar um objetivo da maneira que bem entender não foi perdida, apenas se tornou mais prático para quem não se adaptou tão bem as mecânicas vigentes.
Eliminei o primeiro alvo de inúmeras maneiras. A primeira me vesti de assistente de cozinha e posteriormente chef para envenenar a comida. Na segunda vez, roubei a vestimenta de um entregador de flores e passei pela mansão despercebido. Talvez a melhor de todas foi quando tudo deu errado. Algo dar errado em Hitman sempre é garantia de alguma coisa cômica acontecer, afinal, o erro aqui é subjetivo.
Uma das possíveis era roubar o cartão de acesso e uma roupa de cientista do necrotério. Simples de se executar. Planejei cada movimento, executei perfeitamente. Até o momento que tentei jogar um pé de cabra em um segurança e sem querer acertei o padre que passava atrás. Sim, o pobre padre não tinha nada a ver com a história e tomou um pé de cabra na cabeça.
No desespero, tentei fugir do local o mais rápido possível com o cartão, tinha de encontrar uma nova maneira de acessar o local sem que suspeitassem de mim. Me lembrei então de que havia um detetive privado sentado em um banco. Quebrei seu pescoço, roubei sua roupa e fui até o local de segurança máxima.
Mais uma vez nada deu certo a meu favor. Um tiroteio intenso aconteceu no local e aos trancos e barrancos destruí o vírus. Missão completa, hora de ir embora de Sapienza, mesmo que temporariamente. Afinal, essa foi a minha experiência com a missão e ela pode ser completamente diferente para você.
O sistema de contratos em Hitman parece não ter atingido o ponto que eu esperava. Parte culpa da implementação da IO-Interactive e parte culpa da comunidade em si. Ainda falta um sistema de ranking para descobrir quais os contratos mais interessantes ou desafiadores. No momento você só pode escolher um deles e torcer para que seja divertido.
A conectividade online, um ponto que eu critiquei no primeiro episódio, não vai embora tão cedo. Afinal, faz parte da base do jogo e apesar de continuar a não concordar com isso, ao menos não tive dores de cabeça de conexão. Você ainda pode fazer grande parte de Sapienza no modo off-line, mas não dá para gostar disso quando parte da jogabilidade vai permanecer presa atrás de uma série de checagens online.
O único problema de fato permanece no tempo de carregamento da versão de PlayStation 4. As atualizações causaram grande melhora em Paris, mas Sapienza mantém a média de um a dois minutos de carregamento a cada tentativa. Com o tempo comecei a me acostumar com isso, mas não deixa de ser chato.
De certa forma consigo entender o tempo de carregamento também. Em muito tempo não vi um cenário tão repleto de pequenos detalhes como esta cidade. O trabalho da IO-Interactive de capturar uma cidade “viva” com a suas rotinas e com personagens que não funcionam como bonecos, mas estão lá para dar variedade a jogabilidade mostra-se mais evidente neste episódio.
Paris foi o pontapé inicial para que Hitman pudesse ser um sucesso. Sapienza mostra que a IO-Interactive continua no caminho certo para que consiga construir um jogo ainda melhor do que Hitman: Blood Money. Salvo os problemas técnicos, é tudo o que eu esperava de um segundo episódio. Agora é torcer para que a peteca não caia e os próximos sejam ainda melhores.