Quando Heroes of Normandie chegou em minhas mãos, não tinha a menor expectativa sobre ele. Acabou que essa recriação digital do jogo de tabuleiro lançado originalmente em 2014 trouxe bons momentos de diversão e um pouco mais de frustração do que gostaria. Ele está disponível no Steam a partir de R$ R$ 55,99.
O palco já conhecemos, a invasão da Normandia ocorrida em 1944 pelo exército Aliado. Heroes of Normandie não conta a história do evento, apenas o usa como base para as estruturas e inimigos que enfrentará.
Ele oferece três campanhas: Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. Com uma história que faz mais referências a personagens da cultura pop do que outra coisa, ela serve para dar sentido aos objetivos do de cada missão do que um relato histórico ou buscar realismo.
Feito o tutorial – o que recomendo e muito – Heroes of Normandie não tarda para mostrar que está aqui para fazer da sua vida um pequeno inferno. Cada turno é dividido por duas fases: Ordem e suprimento. Na primeira você deve definir quais unidades – de um máximo de três – irão realizar ações naquele turno. A segunda permite mover as unidades que não realizaram ações neste turno.
Para quem está acostumado a passar horas definindo estratégias, estudando unidades e outros pequenos detalhes dos jogos da Matrix Games, Heroes of Normandie facilita isso por remover parte disso e implementar um sistema simples de dados.
Cada unidade tem uma pontuação de acordo com o tipo e posicionamento. Uma metralhadora terá cinco pontos de defesa quando em campo aberto e até oito – caso esteja em uma edificação ou protegido por arbustos.
Com essa abstração, é simples de se focar no que interessa, eliminar o inimigo. Para isso precisei usar de muitos recursos oferecidos pelas unidades. Não é um simples “vá lá, dispare e vença”, as missões são em parte estratégia em parte quebra cabeça. Você tem um limite de turnos para completar os objetivos e serão poucos os momentos que conseguirá na primeira tentativa.
Todas as ações são governadas por um sistema de dados de seis faces, que decide se ela foi feita com sucesso ou não. Em boa parte das vezes, o não prevalece. Quanto mais habilidades usar – como disparar algumas rajadas de metralhadora para enfraquecer a proteção – mais fácil se torna vencer, mas todos os sistemas parecem se virar contra você quando menos espera.
Imagine a minha frustração em ver que estava prestes a vencer um cenário, tudo o que bastava era tirar de dois a seis no dado. O que aconteceu? Exatamente o que imaginou, tirei um. Os objetivos não foram completados a tempo, a missão teria de ser recomeçada. Minha única vontade naquele momento era desligar e nunca mais olhar para a cara de Heroes of Normandie, mas segui em frente. Boa parte dos mapas são curtos, com uma duração média de 15 a 20 minutos, sem contar é claro todas as vezes que irá recomeçar por causa de um terrível número no dado.
A inteligência artificial não ajuda em nada para o seu lado, eles irão agarrar com todas as forças qualquer chance de eliminar uma unidade sua. Se colocou uma unidade em uma área do tabuleiro sem pensar duas vezes, pode ter a certeza que daqui a um turno ela estará morta. Heroes of Normandie, porém, não tem uma solução simples para cada missão, as ações das unidades inimigas são um reflexo do posicionamento das suas e – quase sempre – são melhores que as suas.
É um sistema muito punitivo, talvez até demais para boa parte do tempo que tenho livre disponível, mas que não vejo que mereça ser alterado. Apenas que poderia existir outras mecânicas que não tornassem a sensação de derrota algo tão avassalador.
Por mais que as mecânicas sejam simples, o jogo teima em esconder informações importantes por trás de símbolos que nem sempre fazem sentido. Por exemplo, a unidade de suporte tem uma habilidade especial que pode tirar dois pontos de defesa do inimigo, só fui me dar conta disso após falhar uma missão cinco vezes, afinal, o jogo esperava que eu soubesse que o pequeno símbolo do canto direito no quadrado da unidade significasse que há uma habilidade adicional disponível. Pequenas coisas como essa – que não são propriamente abordadas no tutorial – e outros problemas na interface fazem jogá-lo um pouco menos divertido.
Fora a campanha, Heroes of Normandie ainda traz modos de batalhas separadas contra a IA, partidas online e o meu modo favorito – as campanhas “Rogue”. Com a adição de um elemento de roguelike, elas podem ser jogadas tanto do lado aliado como no lado do eixo e oferecem mais variedade do que as três campanhas tradicionais.
Nas campanhas normais, você sempre fica limitado as unidades que podem ser usadas naquele mapa, enquanto a opção “Rogue” coloca dinheiro na sua mão, permite que construa o seu próprio exército e o leve em missões. Ao completar, você ganha mais dinheiro e fortalece o seu exército. Só que atenção, basta falhar uma missão e toda a campanha vai por água abaixo. Isso gera mais frustração? Talvez, mas ao menos eu sabia que foram as minhas escolhas, o meu exército que levaram a isso.
Depois de todo o sofrimento, queria mais horas de jogo com Heroes of Normandie, queria ver até que ponto conseguiria chegar na campanha Rogue antes que minhas unidades sucumbissem por causa de uma jogada de dado ou um posicionamento errado. Essa aposta na simplicidade de mecânicas – ainda que esconda mais do que deveria – foi o que o salvou de se tornar apenas mais um “jogo de estratégia” na minha lista. Goste ou não de jogos de tabuleiro, ele acerta mais do que erra e merece um pouco do seu tempo. Só por favor, tente não quebrar o teclado por uma jogada ruim, ok?
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Matrix Games