Rodeado em controvérsia sobre violência, Hatred chega ao Steam. Uma capa em preto e branco, um protagonista com cara de malvadão, mostra que o negócio dele é violência. Talvez, o único.
Você é um sociopata, um revoltado contra a humanidade e odeia todos. “Meu nome não é importante”, diz ele na cena de abertura. Não é importante, assim como a motivação, interesse, nada. Ele é o mais próximo que chegamos do vazio em um jogo.
Ao longo das missões, o protagonista vocifera frases agressivas, sem sentido – como um adolescente revoltado que acabou de comprar o primeiro cd do Slipknot – e decidiu se “revoltar contra o sistema e todos que o cercam”.
Sim, você mata pessoas indefesas nesse jogo. O propósito do jogo é matar pessoas indefesas, que pedem piedade pela vida. Choca? Não. Hatred sempre te coloca em uma posição na qual vê os acontecimentos se desenrolarem na tela, nunca está no comando. É um problema comum em jogos em terceira pessoa ou, nesse caso, visão isométrica. Não é parte da ação, meramente um espectador que indica o comando do personagem.
Ele tenta constantemente parecer “sombrio” com o tom acinzentado, ênfase em cores fortes, falas agressivas ou cenas que mostram o personagem executando suas vítimas. Tudo isso chega a um ponto que é cômico. A vontade é tanta de ser controverso que ele cria uma paródia de si mesmo.
Se você já jogou GTA, principalmente os últimos, tem ciência que você tem certa liberdade para atacar civis, atirar ou até tacar fogo. A primeira vez que vi Franklin desferir um soco em um transeunte foi um pouco assustador. Por que? Porque aquilo pareceu real. A Rockstar teve um minucioso trabalho de criar um mundo que seja vivo, que você se sinta, mesmo que de uma visão em terceira pessoa, parte dele. Que essas pessoas existem, que elas estão no seu dia a dia. Jogar com Trevor foi uma experiência de amor e ódio. Enquanto o personagem tinha cenas engraçadas, as humilhações e agressões causadas a outros me incomodava.
Em Hatred não, ele cria um “playground” com bonecos que correm de lá pra cá enquanto gritam, não há direta relação com a sociedade em que vivemos, nada que consiga fazer essa ligação. Como se a desenvolvedora, no trabalho de criar um universo violento, acabou por se desligar demais do nosso.
Quando o véu da controvérsia cai, Hatred mostra os pilares inacabados de uma estrutura que careceu atenção. As missões no geral se baseiam em ir em um local, matar todos ali, matar a polícia, atacar a delegacia e ir para a próxima. O único desafio que encontrei não veio dos inimigos, mas do cenário. Tive de reiniciar missões pois meu personagem ficou preso em uma sala, em outra ele desapareceu e a tela de “game over” apareceu.
Para recuperar vida? Só se você executar uma pessoa. Audacioso? Não, cansativo. As animações de execução se repetem após fazê-las pela quinta vez. Ao menos os controles funcionam relativamente bem no teclado e a destruição do cenário foi bem trabalhada.
Confesso, não consegui terminar Hatred antes de escrever essa análise. As missões começavam a ficar mais tediosas ainda, as falas clichê e rasas do personagem começavam a das nos nervos. Eu queria ver o final, talvez o veja um dia, se conseguir unir forças para lidar com bugs, atirar em bonecos na tela e aguentar o protagonista.
Hatred é um dos jogos menos memoráveis que já joguei. Um esforço de gerar controvérsia que resulta em um jogo sem pilares sólidos, motivações vazias que não cria desafios para o jogador a não ser ver até onde vai a paciência antes de desistir.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Destructive Creations