O que o velho oeste, XCOM e ocultismo tem em comum? Normalmente nada, mas em Hard West eles têm tudo. O título desenvolvido pela CreativeForge Games está disponível no Steam a partir de R$ 36,99.
Hard West é familiar e ao mesmo tempo um completo desconhecido. É longe de um velho oeste que estou acostumado a ver, os capangas estão lá, as histórias de sobrevivência em uma terra hostil, idem. Mas tudo tem um tom sombrio, ainda mais sombrio que o normal. A história começa com a família do protagonista em busca de uma nova vida no Oeste, onde uma série de acontecimentos fazem com que eles permaneçam na região e façam amizades bem duvidosas.
A campanha é dividia em atos com diferentes protagonistas e pontos de vista. No mapa central é usado como um “hub”, onde você encontra lojas para compra de itens, missões secundárias, minas para obter mais dinheiro e as missões principais. Apesar da simplicidade, o hub é intrigante graças aos personagens encontrados nele.
Hard West foge do estereótipo dos westerns, o elemento de ocultismo está presente em praticamente tudo. Os diálogos são pesados, as descrições—repletas de detalhes— te fazem imaginar minas que foram tomadas pela grande expansão para o Oeste e agora esquecidas pelo tempo. Vilarejos destruídos por bandidos ou alguma força terrível que ainda desconhece. Enquanto isso a trama segue em um ritmo que sempre te prende. Uma missão gera ainda mais perguntas sobre o que acontece naquele bizarro universo e as horas passam em um piscar de olhos.
Cada missão é jogada em um mapa bem parecido com o de XCOM, com um sistema de turnos, ênfase em flanquear o oponente e uso de proteção. Cada personagem possui uma barra de vida e sorte. A barra de vida todos nós já conhecemos, enquanto o destaque fica para a barra de sorte. Toda vez que o inimigo errar um tiro, essa barra de sorte é reduzida. Ao chegar a zero, o próximo disparo do oponente é garantia de acerto e a barra é renovada.
Com isso Hard West consegue gerar um cenário de risco X recompensa. Várias vezes pensei se valeria a pena “sacrificar” um dos personagens para que outro pudesse ficar em posição para que eliminasse. Infelizmente o título aposta um pouco demais em flanquear os inimigos e não oferece ferramentas que ajudem o jogador a isso.
Uma das missões me colocava no controle de três personagens enquanto outros cinco tentavam atacar uma casa. É um cenário típico de jogos de estratégia e até então sem surpresas. Cada turno se desenrolava previsivelmente, cada inimigo era eliminado sem grandes problemas. Isto é, até sobrar apenas um dos personagens e um oponente. Não havia como flanqueá-lo e a distância que estava dele significava que nenhuma das minhas armas seria eficaz. Esse impasse continuou até que eu movimentasse o personagem, tomasse um tiro e morresse. Hora de recomeçar a missão.
Por mais que possa assustar inicialmente, ele não é tão profundo ou variado quanto imaginava. O combate segue uma estrutura similar demais que cedo ou tarde começa a ficar repetitivo. Lá pela vigésima missão eu já estava cansado de aplicar as mesmíssimas táticas que eu usava nos três primeiros inimigos. Os cenários variam, minas, casas, igrejas e por aí vai. O layout é que não ajuda, previsível demais e sem possibilidade de criar jogadas interessantes.
Na mesma medida que ele desaponta nas táticas, ele ganha na personalização de personagem com um sistema de cartas. Não existem classes definidas em Hard West, habilidades adicionais são obtidas ao completar missões e aplicadas em cada personagem pelas cartas. Cada carta pode dar habilidades passivas — como bônus de movimentação — ou ativas, como se alimentar de corpos.
Se lembra que eu falei que o elemento de ocultismo era presente em praticamente tudo? Pois é, se alimentar de corpos é apenas umas das diversas cartas bizarras que Hard West oferece. Quando um personagem possuir cartas do mesmo naipe, ele poderá ganhar um bônus adicional passivo. Três cartas de copas dão 4 pontos adicionais em movimentação, enquanto valetes aumentam a destreza e por aí vai. Ele é capaz de fugir daquele efeito placebo que jogos de estratégia tanto possuem. Pontos adicionais em um atributo fazem total diferença entre a vida e a morte.
Enquanto que tecnicamente o jogo não é nada de especial, a arte por outro lado dá vida aos personagens e cenários. Sempre com um estilo que segue a linha dos quadrinhos, animações exageradas e tons sombrios trazem um aspecto de devastação e opressão que ajuda ainda mais a fortalecer a trama. Junto a isso há a belíssima trilha sonora de Marcin Przybylowicz, que também trabalhou em The Witcher 3. Misteriosa e um pouco sombria, ela nunca rouba a cena, mas faz o suficiente para dar peso a cada momento importante da história.
Hard West consegue misturar temáticas relativamente distantes com uma história divertida e intrigante. Decepciona pela repetitividade, mas em uma geração onde só vemos jogos que se resumem a explosões, temática futurista, pós apocalíptica ou medieval, um pouco de velho oeste não faz mal a ninguém.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Gambitious Digital Entertainment