Quando escrevi sobre Halcyon 6: Starbase Commander em setembro de 2016, o descrevi como um jogo repleto de decisões importantes a serem tomadas e com um combate sublime. Com Halcyon 6: Lightspeed Edition, a nova edição e gratuita para os donos do jogo original, as asserções ganharam ainda mais força.
De maneira curta e grossa, Halcyon 6: Lightspeed Edition é maior, melhor, mais variado, mas também um pouquinho mais irritante. A principal reclamação da comunidade no pós-lançamento era a duração da campanha, considerada “longa demais” para muitos. Em uma maneira de contrabalancear isto a Massive Damage reduziu consideravelmente o tempo entre missões e os eventos principais. O resultado é uma campanha confusa e um pouco apressada.
Se fosse o caso de um Darkest Dungeon, onde a campanha podia durar mais de 40 horas com dungeons longas, cheias de armadilhas e batalhas eu entenderia. Eu mesmo respirei aliviado quando o Radiant Update foi lançado. Mas aí é que fica a principal diferença entre Darkest Dungeon e Halcyon 6, a cadência. Enquanto Darkest Dungeon tende a ser opressor, metódico e principalmente doloroso, Halcyon 6 traz um ritmo frenético. Finaliza uma missão, envia a frota para a obtenção de materiais para a construção da base e novas naves espaciais, pula para outra tarefa e assim segue o ciclo.
A campanha reduzida me dava uma sensação de desespero maior do que eu gostaria. Novos objetivos eram jogados na minha cara a cada dois ou três dias de jogo. Uma hora era um portal de aliens que aparecia. Se não isto, uma das minhas refinarias estava em apuros. Era como chegar em casa e descobrir que os seus gatos acabaram de derrubar o varal, jogaram uma panela com comida no chão e agora a cozinha estava toda suja e ainda fizeram xixi na sala (digo isso por experiência própria). Você não sabe se senta e chora ou decifrar a forma menos dolorosa de limpar a zona.
Na mesma moeda que eu detesto a pressão desnecessária da nova campanha, adoro que agora há uma maior ênfase em diversificar e gerenciar a quantidade de frotas a serem despachadas para as missões. Era muito fácil se auto sabotar na versão anterior de Halcyon 6 ao pensar que apenas uma frota daria conta de grande parte do jogo. Começar uma nova campanha sem a ideia que duas ou três frotas são essenciais para gerenciar situações de crise é garantia de derrota nas primeiras duas horas.
Por já estar calejado em Halcyon 6, decidi começar a minha primeira campanha real (entenda como aquela que não falhei miseravelmente no início) na nova dificuldade Vice Admiral. Enquanto que não recomendo você sequer se arriscar caso não tenha ao menos completado o jogo umas duas vezes, foi a melhor maneira de ver o quanto Halcyon 6: Lightspeed Edition refina todas as áreas restantes do game. E a lista de melhorias é grande demais para listar aqui.
A excelente mistura de gerenciamento, exploração e desenvolvimento continua tão boa quanto joguei pela primeira vez. “XCOM no espaço”, como o descrevi. Bastou ver a nova interface — que agora facilita a movimentação de frotas pelo mapa e requer menos cliques para realizar ações — e já disse “Vou gastar horas nisso”. Dito e feito. Foi aí que as surpresas agradáveis começaram.
Uma das minhas maiores reclamações com a versão original era a repetitividade das missões. Antes limitadas a “vá a um lugar X e destrua elemento Y”, a Massive Damage ao menos agora deu uma variada com quests que se ramificam e possuem múltiplos finais. O mesmo se aplica eventos ocorridos dentro da estação espacial, a base de operações do jogador.
Anteriormente o jogo se focava um pouco demais no que acontecia exteriormente — com a maior quantidade de eventos, uma crise pode ocorrer, por exemplo, dentro dos quarteis de recrutas. Nas vezes que aconteceu eu tive de lidar com perdas de materiais, ganho de experiência para os oficiais ou até uma quest que me levou para os confins da estação espacial e tive de lutar com uma estranha criatura que habitava o local. Obviamente perdi e tive dois dos meus melhores oficiais mortos.
O combate continua sublime, com três personagens de cada lado, quatro classes principais, um sistema por turnos e sedimentado na ideia de que é necessário aproveitar as fraquezas dos inimigos para vencer. Pense em Shin Megami Tensei (ou Persona caso prefira o Spin-Off), onde ataques bem calculados tendem garantir um turno extra. Halcyon 6: Lightspeed Edition não só aumenta a quantidade de habilidades ativas para os personagens como cria novas situações atípicas para as batalhas.
A noção de que se precisa ter as três classes de naves durante o permanece. Porém novos combos — adicionados junto com as novas classes de prestígio para os oficiais — e uma maior proeminência de efeitos do ambiente na batalha me forçou a rever meus conceitos e habilidades a serem usados.
Eu tendia a me recair em um loop bem “arroz com feijão” no jogo base. Com uma das naves — quase sempre uma da classe Tactical por ser focada em desabilitar os oponentes — aplicava um efeito de vulnerabilidade, como desativar os motores e aproveitava para atrasar o turno dos inimigos enquanto amplificava o dano. A tática foi por água abaixo assim que começaram a aparecer mais e mais cenários onde tanto o jogador quanto o inimigo tinham uma resistência de 100% a estes efeitos. Era hora de voltar para a fase de planejamento e rever meus conceitos.
Não apenas isso como a nova dificuldade libera ainda mais habilidades para os inimigos. Sinceramente perdi a conta de quantas vezes fui surpreendido, tive a minha frota inteira destruída com uma nova habilidade que reduzia a resistência, desabilitava duas das três naves ou não havia visto antes. Fiquei empolgado mais uma vez pelo combate, mesmo que ele não tenha recebido a granularidade que eu gostaria e acaba por ficar um pouco repetitivo demais perto do final da campanha.
A mesma repetição é que eu vejo ainda no demasiadamente chato combate terrestre. Desde o lançamento o considerei como o elo mais fraco de Halcyon 6 e a Lightspeed edition faz pouco para torna-lo menos doloroso. Tem uma habilidade ou outra nova, mas ainda passa aquela sensação de “O que acontece se colocarmos o combate que usamos no espaço, mas agora no solo?”.
Não tem o mesmo impacto e uma maior contagem de inimigos ao invés do limite de três, assim como um sistema de fileiras — com soldados especializados em combate à distância no fundo e o combate corpo-a-corpo na frente — teria ajudado muito a tirar esse gosto amargo da minha boca.
É o mesmo gosto amargo que sinto quando penso nas mudanças para a campanha, mesmo que no final tenha criado situações interessantes. Quando eu sento e olho a quantidade de melhorias e o quanto eu me diverti, tive os meus conceitos táticos testados e experienciei situações inusitadas com muito mais frequência em Halcyon 6: Lightspeed Edition, não posso ficar nada além de contente. A Massive Damage tinha um jogo muito bom em 2016. Agora ela tem um jogo excelente. Se você ainda não teve a oportunidade de jogar, não há melhor hora.
Halcyon 6: Lightspeed Edition
Total - 9
9
Halcyon 6: Lightspeed Edition vai além de uma mera melhoria superficial para o game que mistura estratégia, RPG e gerenciamento de bases. Fundamentalmente muda as táticas, expectativas e adiciona ainda uma tão desejada complexidade. A campanha mais curta não foi do meu gosto, mas é um pequeno detalhe em comparação com o excelente trabalho feito pela Massive Damage.