“Ai, não, mais um herdeiro inútil”, posso facilmente atribuir esta frase a Crusader Kings II. Com a expansão Rights of man para Europa Universalis IV, disponível no Steam por R$ 36,99, ela agora se aplica ainda mais aos dois grandes jogos da Paradox.
Da mesma maneira que The Reaper’s Due para Crusader Kings II, Rights of Man é menos sobre atender a um grupo de nações específicas e mais sobre alavancar a jogabilidade geral de Europa Universalis IV. Se faz isso de maneira tão eficiente quanto The Reaper’s Due, entretanto, é questionável.
Depois de meses longe de Europa Universalis IV, voltar a ele já foi uma experiência estranha. Comecei com uma tribo africana para testar o novo sistema de regentes e tecnologia. Rights of Man dá traços especiais que podem ser ganhos a cada 10 e 25 anos, respectivamente. Obviamente mais uma vez a sorte nunca está do meu lado e meus traços eram modificadores que pouco a pouco destruíram a minha economia.
Meu primeiro líder era um completo inútil que me dava uma penalidade de 20% nas relações com outras nações. Imagine que ótimo 1444, metade da África ainda em processo de consolidação e um líder inapto ao trabalho. Ainda bem que há uma opção para abdicar do trono, o que, no meu caso também não servia muito pois o meu herdeiro era tão péssimo quanto. No caso dele eram penalidades a venda de mercadorias, de onde vinha boa parte do meu lucro. Após provar que, sim, sou terrível em Europa Universalis IV, aproveitei para fazer uma partida com os Otomanos, que ganharam novos eventos e também ver como funcionava o novo sistema de tecnologias.
Anteriormente nações que não faziam parte do grupo de tecnologia ocidental, ou melhor falando, europeia, sofriam grandes penalidades. Agora cada ideologia — como feudalismo, renascença ou mercantilismo — surge em um local semi-histórico e se alastra pelo mapa.
Torna a vida de quem optar por jogar com nações menos tradicionais mais fácil? Torna, mas não muito. Não espere começar uma partida com os mamelucos e se tornar a maior potência do mundo em questão de uma hora (apesar que não duvido que um de vocês tenha a capacidade disso). Europa Universalis IV mantém a sua montanha russa de “estou em Guerra, agora não estou mais, agora criaram uma aliança contra mim, agora venci, está tudo bem”, o que era o meu maior medo com a mudança de tecnologias.
Por ser uma das grandes potências do período, o império Otomano ganha funções diplomáticas adicionais para nações menores. Agora é possível intervir em uma guerra, forçar o término de uma aliança, ou caso se sinta caridoso, pagar as dívidas em troca de um bônus de opinião do país que ajudou. Pouca utilidade vi com o Império Otomano, que seguiu boa parte da partida para minha surpresa, bem tranquilo. É bom ter tal funcionalidade, ainda mais para quem jogar com a França ou chegar ao ponto de se tornar uma grande potência, mas parece-me de pouco uso para as grandes potências de cada período.
A medida em que a partida avançava, maior eu via a discrepância entre os esforços da Paradox em Crusader Kings II e Europa Universalis IV, especialmente com Rights of Man. Um a desenvolvedora almeja tornar um jogo mais interessante enquanto tenta livrar o outro da estagnação. Não que eu não goste de Europa Universalis IV, muito pelo contrário, eu o adoro. Mas as minhas últimas partidas antes da expansão começavam a se tornar menos e menos divertidas.
E mesmo sem a expansão, já com o conteúdo da atualização 1.1.8, eu as vejo se transformarem em algo mais dinâmico. Não tão impactante quanto imaginava, mas que me fizeram repensar dezenas ou centenas de táticas que antes eram dadas como garantidas.
O questionamento que faço em relação a Rights of Man é o quanto ele vai alterar as minhas partidas a longo prazo daqui para frente e honestamente, pouco. Eu gosto das novas mecânicas inclusas na hora de gerenciar o governo, como por exemplo, poder gastar military power para aumentar a legitimidade de seu governo ou pegar um empréstimo com o risco de aumentar a corrupção. Mas eu não me sinto atraído por elas tanto quanto eu gostaria. Digamos que são “situacionais” ao extremo.
Entretanto, acho de grande relevância a mudança aplicada aos grupos religiosos de fetichismo e dos Coptos. É imensamente mais divertido direcionar o credo e os bônus destes grupos, mais uma vez aliado as mudanças de grupo tecnológico com a atualização. Assim como aconteceu em El Dorado, as nações menores viram algo mais sedutor para quem já gastou mais de 100, 200 horas em Europa Universalis.
Não deixo, no entanto, de sentir uma sensação de dependência por parte de Rights of Man. A de que ela precisa ser vinculada a outras expansões para observar seus benefícios. Eu não a recomendaria, por exemplo, para alguém que sequer tenha Art of War ou Common Sense para começo de conversa.
É aí que a minha interação com Europa Universalis IV diverge consideravelmente comparada a de Crusader Kings 2. The Reaper’s Due tinha um pouco de tudo para todos independentemente de ter o conteúdo completo da Paradox ou não. Rights of Man tem um pouco de tudo que acaba sendo ofuscado pela interdependência de complementos.
Não hé de hoje este Modus Operandi da Paradox a “necessidade” de DLCs anteriores para melhor aproveitar os atuais, achei que isso houvesse mudado um pouco com Reaper’s Due, mas agora voltamos para o estágio anterior. Me diverti com o conteúdo de Rights of Man? Definitivamente, mas não é um conteúdo que eu recomendaria, por exemplo, para alguém que acabou de começar em Europa Universalis IV. Além do que, ele vai perder muito tempo tentando entender como que diabos funciona o novo sistema de tecnologia.
Rights of Man acaba por ser uma expansão para quem já é calejado de Europa Universalis IV e não há necessariamente nada de errado com isso. Ter maior controle sobre a direção que uma nação deve tomar é sempre recompensador, ainda mais com as mudanças de tecnologia e de grupos religiosos. Um pacote suficientemente agradável se você quer perder mais oitenta horas em Europa Universalis IV, mas não espere milagres.
Europa Universalis IV: Rights of Man
Total - 8
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Adição de traços de personalidade aos regentes e mudanças religiosas / tecnológicas são o ponto alto de Rights of Man. Mas a interdependência de outros DLCs e a necessidade de uma certa afinidade com o Grand Strategy da Paradox faz com que ele perca um pouco do impacto que ele tanto almejava ter.