“Então Lucas, como andam as suas partidas de Europa Universalis IV”? “Quais partidas?”, respondo. A dura realidade é que, desde a expansão Emperor, eu andava saturado do Grand Strategy da Paradox. Origins foi um bom Immersion Pack que me trouxe de volta por um tempo e apagou um pouco da decepção que foi Leviathan. Desde então, quase um ano se passou sem eu encostar muito em Europa Universalis IV, até pôr as mãos em Lions of the North (Steam). A razão disso vai muito além do próprio Immersion Pack – se é que posso chamá-lo disso.
Quem acompanha com afinco o desenvolvimento de Europa Universalis IV sabe que a transição para a Paradox Tinto como principal desenvolvedora não foi a mais estável. O desastre de Leviathan e as contínuas correções de bugs de uma expansão que queria ser mais do que deveria ainda carregam uma mancha gigante que ainda assombra o game de uma forma ou outra. A comunidade sabe, e a desenvolvedora, acima de tudo, sabe. Não é à toa que ela continua adicionando conteúdo e correções para certas mecânicas da expansão na atualização 1.34 que acompanha Lions of the North. Mas a atualização em si – e entrarei mais a fundo abaixo – é a cereja no topo do bolo quando se trata do Immersion Pack.
Lions of the North estabelece um precedente que nenhum outro Immersion Pack conseguiu fazer até então: sinergia. Desde que a Paradox estabeleceu a iniciativa em 2017 com “Third Rome”, os “mini-DLCs” serviam mais como um tempero extra para uma região ou outra e, por mais que tentassem, raramente iam além de alterar uma dúzia de interações. Não é um conceito ruim em si, já que ele é voltado para quem ou já possui todos os DLCs de Europa Universalis IV ou àqueles que realmente gostam de uma região – que é o meu caso com Origins.
O novo Immersion Pack ainda segue este caminho, mas devido aos bálticos já terem sido muito expandidos em termos de mecânicas por outros DLCs de uma forma ou outra, a Paradox Tinto teve mais flexibilidade na criação das novas árvores de missões, e na forma como a interação entre múltiplas nações ocorre, para estabelecer algum senso de narrativa ao invés de apenas uma cadeia de eventos que você faz uma vez na vida e deixa de lado.
Os países que melhor representam o conceito são o trio Noruega, Suécia e Dinamarca — com um novo início em 1444, novas árvores de missões, e estilos bem mais distintos do que nas versões anteriores de Europa Universalis IV. Como Dinamarca, é preciso tentar manter a Noruega e Suécia dentro da União de Kalmar, e a IA – de fato melhorada – vai tentar de tudo para que isso não aconteça. Cadeias de eventos irão disparar e tornar a região muito mais “viva”. Entretanto, eles não são os protagonistas do artigo, mas sim a Confederação da Livônia, ou a Ordem Livoniana.
Eu não dava muita bola para a confederação antes de Lions of the North; posição precária, rodeada de inimigos, facilmente abocanhada por potências maiores no primeiro deslize e com poucos atrativos para alguém que, como eu, não joga Europa Universalis IV pensando em fazer “min-max”. Não vou ao ponto de tomar decisões bizarras, como selecionar um conjunto de ideias focadas em exploração e colonização em um país sem costa, mas também não me dou ao trabalho de descobrir quais opções me dão os melhores bônus. Jogo até onde consigo e aceito a minha derrota.
A nova árvore de missões para a Ordem Livoniana em Lions of the North fez meus olhinhos brilharem. Dezenas de cenários históricos e anistóricos estavam nas pontas dos meus dedos, o que me fez tentar começar uma campanha de conquista para tomar Riga para mim, eliminar a Ordem Teutônica, converter para uma monarquia e formar Livônia.
Consegui de primeira? Ah, quem dera. Ah, quem dera. A Confederação sofreu tantas mudanças desde a última vez que a considerei para uma campanha que não sabia nem por onde começar para retomar as terras do clero para mim – 20% “crownland” não é um bom começo mesmo. Começa partida, reinicia partida, reinicia outra vez, lê o que diabos é necessário para completar uma missão e aos trancos e barrancos fui de pouco em pouco tomando território.
Meu primeiro embate com a Ordem Teutônica foi excepcional em demonstrar duas facetas de Europa Universalis IV e Lions of the North. A primeira é como as duas ordens interagem via guerras ou na tentativa de criar alianças com países maiores da região.
Pode ser um efeito placebo, mas a Ordem Teutônica em Lions of the North é muito mais interessada em consolidar a sua presença na região de acordo com as minhas ações do que ser uma região relativamente passiva. As investidas que eu fiz contra ela tipicamente resultavam em eu esquecer que uma grande nação estava aliada a eles e tomar “stack wipe” (perder um número considerável de tropas) em uma manobra militar muito longe de ser considerada “inteligente” pela maioria dos jogadores de Europa Universalis IV.
A outra faceta, que diz respeito em relação à Europa Universalis IV no geral, mostra para mim que Lions of the North não seria tão impactante se outros DLCs, como o próprio terrível Leviathan e Emperor, não estivessem presentes no game. Longe de passar pano para a Paradox no tocante aos problemas que acompanharam ambas as expansões, mas a região ia carecer de contextualização e mecânicas.
Vide, por exemplo, as inúmeras novas reformas governamentais que podem ser utilizadas em Lions of the North, ou as várias estratégias viáveis para a Ordem Livoniana que utilizam o sistema para obter favores de Leviathan. Sem eles eu teria avançado muito pouco na minha conquista territorial.
Agora que eu escrevo a matéria, talvez não tenha sido a melhor tática. Eu arrastei tantos países que deviam favores para mim que a tomada de território da ordem Teutônica tomou um escopo muito maior do que eu imaginava. Com a minha força naval medíocre – uma falha minha – intensa movimentação de tropas e pedidos de acesso militar resultaram em penalidades diplomáticas desnecessárias. O que era para ser um conflito de alguns anos durou décadas, mas finalmente a Ordem Teutônica era meu vassalo e sua anexação iria vir cedo ou tarde.
A vitória começou a lentamente pavimentar o meu possível sucesso em obter a conquista “Almost Prussian Blue”. Lentamente enchi meus cofres com a tomada de Lubeck e a minha dominação do Báltico como centro mercadológico da minha confederação para me preparar para o que vinha a seguir.
O que veio? Um completo desastre. Tinha as províncias necessárias para converter a Ordem Livoniana em Livônia, mas não os territórios do norte da Alemanha. O descuido que tive em não prestar atenção aos meus aliados e meus oponentes – uma constante nas minhas histórias de Europa Universalis IV – resultou em uma coalizão que atrapalhava meu sonho de obter a conquista.
Eu poderia muito bem ter tentado contratar mais mercenários e segurar os invasores em troca de dezenas ou centenas de empréstimos que sabe lá quando eu seria capaz de pagar. Quem sabe, talvez fosse essa a decisão certa. Mas, ainda havia muito a explorar em Lions of the North, portanto tomei minha derrota como um aprendizado. Minha próxima parada? A Ordem Teutônica.
Como este artigo precisa ter um fim, eu não vou entrar em detalhes na minha atual campanha como a Ordem Teutônica além de dizer que – junto com uma melhor ideia do panorama geral da região – ela está se saindo muito melhor do que a Ordem Livoniana.
O fato é que, com Lions of the North, eu me senti muito mais investido na cadeia de eventos que dispararam com as minhas ações, agora mais de um ponto de vista de “fazer parte da história” do que por causa dos bônus que as acompanhavam. Eu sequer acredito que o Lions of the North é um Immersion Pack, pois seu conteúdo é tão interligado e atraente que chega a me assustar que a Paradox não optou por transformá-lo em um DLC. Talvez as lições de Leviathan tenham servido de algo mesmo.
É por conta disso que eu falo que a atualização 1.34, que normalmente serve mais como uma “muleta” para completar o restante do DLC, é a cereja no topo do bolo. Novos tipos de governo para monarquias, a opção de convidar um país para se unir ao Sacro Império Romano-Germânico, além de novas “national Ideas” para nações que vão da Estônia até Jerusalém mostram para mim que a transição para a Paradox Tinto foi finalmente concluída. Eu não vou nem entrar no mérito das tantas outras adições para quem possui DLCs como Rule Britannia ou Leviathan.
Se eu tive a oportunidade de explorar todas as novidades da atualização? Infelizmente não. O vasto conteúdo de Lions of the North e atualização me fariam investir um mês em Europa Universalis IV, e se por um lado eu gostaria, por outro eu não posso fazer isso comigo mesmo para o bem da minha sanidade mental. No entanto, se você está longe de Europa Universalis IV há um bom tempo, creio que é hora de revisitá-lo.
Como disse, nada irá apagar totalmente o dano causado por Leviathan, mas não há como não parabenizar a Paradox Tinto — por não ter só revitalizado outra vez o meu interesse em Europa Universalis IV, mas por garantir que da próxima vez que alguém me perguntar sobre como andam as minhas partidas, eu certamente vou ter uma resposta ao invés de “Que partidas?”.
Visto a quantidade de horas que eu fui madrugada adentro só com Lions of the North, é hora de aceitar que Europa Universalis IV voltou à minha rotação de jogos de estratégia. Não como foi com Origins — onde eu joguei uma ou duas partidas — mas com a mesma vontade que eu tinha de jogá-lo quando Art of War foi lançado lá em 2014.
Com o aniversário de 10 anos de Europa Universalis IV cada vez mais próximo, um feito desses não é insignificante. O Grand Strategy é formado por tantas engrenagens que precisam estar bem lubrificadas que a Paradox Tinto ter conseguido sair de Leviathan para criar Lions of the North é fantástico. Eu não me importo se o próximo Immersion Pack ou DLC – caso venham a existir – demorem um ano para sair, se for com essa qualidade e polimento. Mais uma vez, espero que este seja o padrão para o conteúdo de Europa Universalis IV daqui para frente.
Europa Universalis IV: Lions of the North
Total - 9.5
9.5
Lions of the North é um Immersion Pack que podia muito bem ter sido vendido como uma expansão caso tivesse ainda mais mecânicas. Mas, depois de Leviathan, a Paradox Tinto aprendeu ótimas lições e criou um dos melhores pacotes de conteúdo para Europa Universalis em anos. Além de expandir países existentes, ele faz um ótimo uso de mecânicas que até então eram pontuais demais para estabelecer linhas narrativas e te fisgar para conflitos históricos ou anistóricos. Que este venha a ser o novo patamar para DLCs e Europa Universalis IV.