Quando joguei a expansão Dharma, apontei que uma das minhas nações favoritas para testar novas mecânicas sempre foi Portugal. Portugal é uma nação relativamente simples de aprender e, portanto, uma que eu tenho grande intimidade na hora de testar alguns dos novos conteúdos oferecidos pela Paradox. Golden Century (Steam), o novo Immersion Pack de Europa Universalis IV, prosseguiu com a tradição, mas dessa vez havia um bom motivo para jogar tanto com Portugal como com a Espanha.
Usei a mesma mentalidade que olhei para os Immersion Packs anteriores: até que ponto um jogador tradicional de Europa Universalis vai se interessar pela expansão? Não foi surpresa nenhuma descobrir que muitas das adições – como as novas missões para Portugal ou Espanha, e suas respectivas unidades – vão acabar sendo focadas em um nicho. Todavia, há dois sistemas para o aspecto colonialista que eu vejo como no mínimo interessantes de uma perspectiva de design: mudanças no sistema de colonização e ordens religiosas.
Com Golden Century é possível deportar minorias para a sua colônia. Assim que a província não colonizada for tomada por essas minorias, ela retém o mesmo tipo de cultura e religião dos povos que se assentaram ali. Além de dar pontos de desenvolvimento adicionais. Não é tão impactante quanto parece por conta que o próprio Europa Universalis IV mitiga o impacto da necessidade de conversão cultural ao fazer com que certas religiões ou culturas acabem sendo “aceitas” pela sua nação. Entretanto, é uma ferramenta eficaz em rapidamente transformar sua colônia para algo mais rentável – especialmente áreas com recursos que podem ser vendidas por um valor alto no mercado.
O mesmo efeito de impacto mitigado acontece com a introdução de ordens religiosas, como os Jesuítas ou Franciscanos. Em Europa Universalis IV eles se apresentam unicamente como bônus de acordo com a ordem selecionada. Escolha jesuítas e você terá mais força para os missionários, já a ordem Franciscana aumenta o desenvolvimento de Manpower e a ordem Dominicana eleva a produção. Bastou alguns cliques e pronto, a sua ordem está estabelecida.
A própria ordem Jesuíta — enviada por Portugal para catequizar os índios — teve sérios conflitos internos com os colonizadores que desejavam utilizar os índios como força braçal e posteriormente com Portugal por conta de como obtiveram certas regalias e direitos, além de serem capazes de influenciar o direcionamento da colônia. No game, é como se todos na colônia olhassem para os jesuítas e dissessem “ah, ok, podem ficar por aqui o quanto tempo quiserem”.
O meu lado “roleplay” grita mais alto quando eu vejo a inclusão da ordem dos jesuítas. É ótimo que tenhamos uma maior “veracidade” para os eventos que se desenrolaram no Brasil. Ao mesmo tempo, eu queria que existisse uma penalidade para o envio dos jesuítas. Por que não reduzir a estabilidade da colônia, gerar novas oportunidades de revolta? Não é que você vai conquistar o mundo ao jogar com um país da península Ibérica (se você não usar alguma tática maluca ou ser melhor do que eu em Europa Universalis IV). Nessas horas, qualquer adição de um pouco mais de eventos e situações de risco que fazem você pensar se gasta pontos de desenvolvimento ou não nas suas colônias são vistas por mim como algo positivo.
A única mecânica de Golden Century que realmente vai fazer os olhos daqueles que não tem interesse nas ambições de Portugal e Espanha na conquista do novo mundo, é a inclusão de repúblicas de piratas. Uma que eu mesmo ainda luto para decidir se realmente a amo ou odeio.
É uma inclusão peculiar, potencialmente a-histórica (Certos “grupos” de piratas que foram adicionados de fato existiram, mas por um período infinitamente melhor do que elas permanecem nas partidas de Europa Universalis IV), mas ao mesmo tempo é uma aproximação tão diferente de tudo que a Paradox tentou antes que me vejo com dificuldades de não imaginar Europa Universalis sem eles.
De um ponto de vista de quem joga com eles (praticamente a maioridade da minha terceira campanha com Golden Century), eles são incrivelmente diversificados na hora de conquistar os sete mares e quem for realmente bom em micro gerenciar pode transformar rotas de mercadorias em um verdadeiro inferno para os outros jogadores.
Contudo, aqueles que decidirem jogar com outras nações que controlam rotas de tráfego pelo Caribe e África terão de micro gerenciar ainda mais as suas frotas – o que pode acabar sendo mais estressante do que o necessário. Especialmente quando falamos do norte da África e o sudoeste Asiático. Eu mesmo considerei desativar o Immersion Pack para não ter que lidar tanto com piratas. E, convenhamos, o sistema de missão oferecido as tropas marítimas não é lá essas mil maravilhas.
Como todo Immersion Pack, eu reforço o que eu sempre digo: Golden Century não é algo obrigatório de se ter para Europa Universalis IV. Nada descrito aqui — com a exceção dos piratas — é algo que vai mudar a maneira que você vê o Grand Strategy da Paradox. No máximo vai te dar algumas horas extras e novas opções para gerenciar seus objetivos.
Mas há de concordarmos que Paradox continua a melhorar cada vez mais os seus Immersion Packs. Saímos de um Third Rome decepcionante para piratas em Golden Century. Recomendo, e muito, para quem quer ver um Brasil sob um novo olhar com a nova árvore de missões e decisões para Portugal ou quer brincar de conquistar o mundo com a Espanha. Para o resto, eu digo que a atualização 1.28 – que adiciona novas ideias nacionais para o Texas, Tunísia, novas províncias e eventos para regiões como Granada e a decisão da corte Portuguesa de fugir para o Brasil – vai estar de bom tamanho.
A Paradox fecha 2018 com dois dos seus maiores jogos – Europa Universalis IV e Crusader Kings II – em uma ótima posição. Só me resta torcer que o destino traga esses mesmos frutos para Stellaris e Hearts of Iron IV, pois eles estão precisando, e muito.
Europa Universalis IV: Golden Century
Total - 8
8
Mantendo o lema de não ser elemento essencial para Europa Universalis IV, Golden Century se destaca por ser o melhor Immersion Pack lançado até então. Gostaria que certas mecânicas causassem um impacto maior na estabilidade da colônia e as repúblicas piratas podem acabar sendo mais irritantes do que deveriam quando são seus inimigos. No geral, é um investimento certeiro para quem busca extrair o máximo do Grand Strategy.