Portugal foi uma das primeiras nações que joguei em joguei Europa Universalis IV há cinco anos atrás. Não tinha a menor noção de como o imenso game de Grand Strategy da Paradox funcionava; não entendi o sistema de governo, tentei atacar a Espanha, perdi meu exército. Enfim, foi uma zona. Também foi a primeira nação que optei por começar a explorar a sua décima quarta expansão: Dharma (Steam).
Por que uma nação europeia ao invés da Índia, que é o supostamente foco da expansão? Pois creio que como eu, muitos ainda possuem uma maior afinidade com a Europa do que compreender de maneira sucinta o que se passou na região dos Rajas. Além do que, não há como abranger todo estilo de jogo e que é alterado de uma expansão tão massiva como Dharma sem ter de achar um meio-termo entre a complexidade da mesma e as novidades.
Para a minha surpresa, o que encontrei foi um Europa Universalis IV muito mais cadenciado. Não, meu computador não estava com problema, nem mesmo as minhas decisões durante a partida foram terrivelmente erradas — salvo o fato que Cristóvão Colombo virou português, mas isso é só mais um dos efeitos da maravilhosa história alternativa que pode acontecer via cadeia de eventos e missões. Falo, na realidade, das mudanças significativas para os tipos de governo e a adição de reformas governamentais mais significativas – uma das principais adições da expansão.
Ao invés de serem divididos em dezenas de categorias, os governos são aglutinados em categorias distintas. As diversas monarquias, por exemplo, agora foram “unificadas” e podem ser personalizadas por meio de reformas governamentais. Ou seja, você recebe uma quantidade de pontos a cada mês e pode agora melhor definir como o seu governo irá atuar a curto e longo prazo. O processo é lento — as vezes muito lento se você jogar com uma nação que não é uma grande potência ou tem pouca influência. Sei que muitos irão torcer o nariz para isto, mas ao meu ver foi uma mudança extremamente necessária.
Querendo ou não Europa Universalis IV estava ficando inchado, muito parecido com o atual estado de Crusader Kings 2. Mecânicas em cima de mecânicas, que quando não eram demasiadamente complexas sem razão, tinham um impacto insignificante. A reforma governamental é um importantíssimo passo para “simplificar” um importantíssimo sistema, mas não sem perder a influência que ele tem.
A quantidade de pontos gerados mensalmente está diretamente ligada a quantidade de autonomia local de cada província. Quanto menor a autonomia, mais pontos. É uma via de duas mãos, pois se você não der autonomia, você terá uma rebelião em suas mãos, mas se você der, pode também acabar com uma rebelião. Será que isso tudo vale a pena em troca de 10% a mais no aumento de um atributo para a sua nação. E, se sim, você está preparado para lidar com os efeitos disso?
Chego a dizer que essa geração de instabilidade é a maior temática de Dharma. Manter as minhas colônias como Portugal foi muito mais difícil do que antes. Elas demandavam maior autonomia, mais isso, mais aquilo ou aquilo outro e eu — impaciente como sempre — tentava ao máximo não dar o braço a torcer. Tive rebeliões que foram contidas, mas eventualmente — e historicamente “correto”, elas se tornaram independentes.
Obvio que um texto sobre Dharma não seria completa se não mencionasse a região da Índia, que recebe de novas províncias, eventos, missões e o mais importante de tudo: novos Estates específicos da região. Muito longe de ser um exímio conhecedor da formação da Índia, minhas partidas na região que atualmente se encontra o país foram voltadas para analisar as missões adicionadas. Neste aspecto a Paradox mais uma vez não decepciona. Você vai ter uma bela dose de desafio seja jogando com os Orissas, os Malwa, os Mughals, os Bahmanis ou os Bengals. A região se torna interessante por conta dessa instabilidade trazida pelas reformas governamentais e os novos Estates, aprenda quando e como abocanhar um território e você vai ter uma potência mercadológica em mãos. A não ser que você tome a “fantástica” decisão de atacar uma província inimiga no meio da estação de monção (outra adição da expansão) e ver suas tropas serem dizimadas por causa da imensa penalidade que elas sofrem tanto de atrito como de movimentação.
A ideia de que instabilidade e a redução de ritmo é ainda mais notável quando se olha para uma das alterações mais controversas inclusa na atualização 1.26 (Mughals) que acompanha a expansão: Missionários não podem mais converter a religião ou cultura de províncias antes de torná-las um estado. Mais estados significa mais desejo dos Estates de querer abocanhá-los, e mais chances de revoltas internas. Além do que, a funcionalidade dos Estates — que antes limitada apenas para quem tinha a expansão Cossacks — foi disponibilizada gratuitamente para todos.
Em tese é uma decisão acertadíssima por parte da Paradox, pois estabelece um precedente que a desenvolvedora está disposta a abrir mão de outras funcionalidades anteriormente atreladas a um “paywall” para tornar o jogo mais dinâmico. No entanto, enquanto os Estates se encaixam muito bem com os Mughals e outros países que já foram beneficiados com Estates menos “genéricos” — ela vai desequilibrar partidas com nações menores.
Estates sempre foram vistos – por mim e pela comunidade – como uma mecânica subdesenvolvida em relação ao restante de Europa Universalis IV. Dharma garante que todos os jogadores agora tenham de sofrer para dividir o tempo entre determinar o grau de autonomia de uma província, garantir que os Estates sejam leais, dividir território entre eles e torcer para que um deles não se irrite com uma decisão sua. Em parte, isso faz com que o jogo seja um pouco mais historicamente crível. Por outra, demonstra que ainda há muito a ser feito nesta área para que os Estates tenham o impacto desejado.
Estou incomodado com isso? Em parte. Pois, por mais que isso tenha feito inúmeras “estratégias” obsoletas, creio tanto a mudança dos Estates como a dos missionários foram necessárias. Você não vai converter uma região da noite para o dia, você vai ter conflitos internos — dessa vez muito mais presentes — e pedir para que isso não aconteça isso é ignorar justamente o que faz Europa Universalis IV tão especial; a “recriação” de um mundo que passa por severas mudanças. Se você quer jogar para ganhar sempre, ou completar uma partida sem a menor dor de cabeça, talvez não seja o jogo para você. Ao menos não nas atuais circunstâncias.
Deixo de lado a minha partida de Portugal e volto para a minha partida de Gujarat – uma das tantas que fiz para conhecer mais sobre Dharma. Estou no meio de duas guerras, uma que podia ter sido evitada. A partida quase se arrasta, eu sei que vou perder, mas eu vou seguir em frente só para ver até onde eu sobrevivo.
“Vou seguir em frente para ver até onde eu sobrevivo”. Esta frase é a principal razão de eu buscar novos motivos para voltar para Europa Universalis IV. Eu estou cansado de conquistar o mundo, de clicar em dezenas de menus para garantir que eu seja a maior potência na região. Eu quero, eu gosto de perder, de aprender com os meus erros e de ser desafiado com decisões impactantes. Por mais divisora de águas que possa ser — e não tenho dúvidas que vai ser — Dharma me proporciona essa sacudida. Também me faz querer devorar todos os livros sobre a região da Índia no período. Agora, cadê o tempo para isso? Quem sabe em um futuro próximo.
Europa Universalis IV: Dharma
Total - 7.5
7.5
Independentemente de você ter ou não interesse na região da Índia, Dharma sacode as principais estruturas de Europa Universalis IV para torna-lo em algo mais cadenciado e historicamente “crível”. Estates continuam a ser mal utilizados em certas ocasiões e algumas decisões da atualização 1.26 vão ser controversas. Porém, admiro e respeito a Paradox por tomar decisões tão ousadas em um jogo que tem cinco anos de mercado.