Eu tenho a convicção de que as melhores expansões da Paradox não englobam um país, mas como aquele país pode influenciar o restante do mundo. Isso se nota Art of War, Mandate of Heaven e agora com Cradle of Civilization (PC).
Tirando o amargor da incrivelmente decepcionante Third Rome, Cradle of Civilization se foca principalmente na região do oriente médio, com a adição de novas políticas, eventos, nuances e nações para a região.
Diferente do que aconteceu com Third Rome, cujas mecânicas são focadas exclusivamente na região da Rússia, mas que não incorporou outras para trazer um “tempero a mais”; Cradle of Civilization celebra a influência sociocultural do Oriente médio na região, mas também reforça a ideia de que eles não fizeram isso sozinhos. Foi por meio de guerras, conflitos e diplomacia.
Os Otomanos sempre tenderam a ser uma força inigualável na região, algo que muda com Cradle of Civilization pela adição e refinamento do Sultanato Mameluco, localizado na região do Egito. Agora eles têm um oponente páreo a eles, e um consideravelmente perigoso nas mãos corretas.
Mesmo que eu não jogue tanto quanto eu gostaria com o império Otomano, a noção de que existe um novo perigo a vista traz uma sensação de incerteza para a região. E esta incerteza se torna em dinamismo, em novos eventos, em mudanças drásticas no mapa. Estratégias que antes estavam dadas como certas tem de ser revistas e reorganizadas. Se essa, que aparenta ser uma pequena mudança no imenso escopo de Europa Universalis IV, já me empolga, eu fiquei ainda mais feliz com as mudanças no islamismo.
Independente do seu ponto de vista em relação a religião no estado atual do mundo, o Islamismo é uma das mais ricas. Seja pelas diferentes tribos, escolas islâmicas ou formas de interagir entre elas mesmas. É por isto que a principal funcionalidade de Cradle of Civilization estão nas escolas islâmicas. Nações formadas por maioria de grupos, como os sunitas ou xiitas, agora possuem escolas específicas com bônus que influenciam diretamente a relação entre outras nações. Estas, podem fazer com que uma nação que anteriormente tinha uma opinião negativa, ter seus laços diplomáticos fortalecidos, assim como dilacerados via elementos externos — sejam eles guerras ou alianças duradouras.
Outra vez a questão do dinamismo e reação entra em jogo. Pensemos assim: você, no controle de um país que não está dentro da esfera de influência islâmica, iria se aliar com um país cuja escola islâmica está fragilizada e tem muitos inimigos? São novas variáveis a serem consideradas.
Foi o mesmo sorriso que abri assim que comecei a presenciar os novos eventos religiosos — uma lista grande demais para inserir em uma mera análise — relacionados ao Islamismo, que possuem um peso adicional as decisões. Decidir entre o misticismo ou o legalismo é uma tarefa que precisa ser balanceada, já que os eventos podem desencadear revoltas ou mudanças significativas no mapa.
Com menos 75 de Piety, ou seja, uma nação voltada para o misticismo, Cradle of Civilization permite que o jogador chame seguidores religiosos para aumentar o seu Manpower. Isso salvou minha pele mais de uma vez durante uma partida com o Sulanato dos Mamelucos onde eu desastrosamente declarei guerra contra os Otomanos antes de ter um exército prontamente em posição e devidamente equipado.
O que me traz para o menor, mas não menos importantes aspectos de Cradle of Civilization, o profissionalismo dos exércitos. Não é de hoje que temos inúmeras críticas ao molde que a desenvolvedora usa para calcular batalhas.
Com Cradle of Civilization é possível notar a transição de exércitos menos desenvolvidos para a máquina de guerra que lentamente se formou ao longo dos inúmeros anos até o que temos hoje em dia. Construção de edificações militares, o ato de recrutar generais e treinamento de exércitos contribuem para que esse nível de profissionalismo aumente. Os bônus não poderiam ser melhores, com o aumento de 20% da movimentação sobre terreno e aumento no Shock Damage e Fire Damage em 10%. A expansão também adiciona eventos que podem aumentar ou diminuir o nível de profissionalismo.
Isso corrige o problema da certa simplicidade do combate dos games de Grand Strategy? De forma alguma, afinal, o combate é apenas uma das engrenagens que movem esses games. É a sensação de “estar preparado”, de que eu soube gerenciar melhor os meus exércitos do que anteriormente, que me agrada.
Mais uma vez temos uma ferramenta reativa e expansiva que todas as nações podem usar está inclusa. Por que isso tem tanta significância para mim? Pois ao meu ver, a Paradox está no auge quando não se foca demais em uma única mecânica, ou em um país – mas sim consegue criar conteúdo que pode ser apreciado por todos os jogadores, sejam eles jogadores de países mulçumanos ou não.
De quebra, a atualização gratuita trouxe uma das minhas mais sonhadas adições, um resumo da nação e as principais mecânicas que a compõe. Começou a jogar com a França e não sabe exatamente como funciona? Um sumário o coloca a par de como o país reage a certos eventos, quais seus pontos fortes ou fracos. Eu sinceramente já desisti de acreditar que a Paradox vai adicionar um tutorial competente em pleno 2017. Portanto, uma adição dessas já é meio caminho andado para facilitar a vida de novatos no game.
A maior graça de Europa Universalis IV — ou de todos os jogos da Paradox para ser sincero — é ver como o mundo reage as ações de diferentes jogadores. Sejam aqueles que preferem fazer “min-max” (aumentar a eficiência via compra e venda de produtos, dominar outros países) ou apenas gostam de ser expectadores, o que é o meu caso.
Cradle of Civlization faz justamente o que eu quero da Paradox, uma expansão ao mesmo tempo focada e abrangente. É o que a diferencia de Third Rome, dos terríveis pacotes de história de Stellaris ou adições que considero insignificantes, como a expansão Conclave the Crusader Kings 2.
É uma expansão crucial? Como gosto sempre de reiterar, não. Não vai mudar a sua vida como fez Art of War ou, uma das minhas preferidas, The Reaper’s Due para Crusader Kings 2. Ela dá uma agradável sobrevida para um game que, as vezes tenho receio de estar estagnado. Fico feliz de que me provem o contrário.
Europa Universalis IV: Cradle of Civilization
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Longe de ser uma expansão essencial para fãs de Europa Universalis IV, Cradle of Civilization traz conteúdo suficiente para alterar o dinamismo de uma partida, seja você controlador de um país de cultura islâmica ou não. Depois de um terrível Third Rome, é bom ver, mais uma vez, que a Paradox colocou o game de Grand Strategy no caminho certo.