Após três anos desde o lançamento, Euro Truck Simulator 2 ainda me prende com as suas paisagens e longas viagens pela Europa. Quando acredito que estou livre dele, DLCs como o Vive la France, apenas reforçam o ponto. Vive la France está disponível no Steam por R$44,99.
Apesar da base ser — em partes —, a mesma, Euro Truck Simulator 2 deu passos largos nestes três anos, com suporte a 64-bit, melhoria na física, áudio e modelagem dos caminhões. Tudo o que faltava era o cenário e acredite, Vive la France é o melhor que a SCS Software já fez até então.
Não se trata apenas de ser “bonito”, isto um mod como o PROMODS ou o TSM já fazem, mas de ser complexo e denso. Para um jogo cuja jogabilidade se retém ao simplismo — com o uso de mouse, ou controles — para boa parte da comunidade é trabalho do designer saber unir a sensação de desafio com o realismo.
Honestamente, nunca fui à França, sequer a Europa. Hoje em dia comemoro se vou até uma outra cidade (tipicamente a trabalho), então não posso afirmar sobre o quão preciso são as estradas. Mas, olha, é incrivelmente agradável navegar por elas.
Vive la France me faz acreditar que a França é o país das rotatórias, ou que ao menos cada cidade tem umas dez. E quando você é um caminhãozinho com três tratores acoplados atrás e o maior grupo de motoristas babacas por metro quadrado, elas são uma senhora dor de cabeça. Sim, estou olhando para você motorista aleatório que danificou minha carga em mais de 50% e me fez perder um trabalho que ia durar uma hora de viagem (em tempo real).
Também é o país com estradas longas, massivas, que se desdobram em inúmeros pedaços e simpáticos caminhos arborizados. Perfeitos para serem trilhados no entardecer ou quando você quer fugir da comoção das grandes rodovias.
Talvez o mais bizarro de tudo seja tentar criar uma noção de que eu falo apenas sobre ruas, estradas, rodovias, sinais. A não ser que você seja um urbanista, você raramente pensa sobre isto. E em Euro Truck Simulator 2, é quase tudo o que você pensa sobre. O que nos leva a questão de: O que torna um simulador, bem, um simulador? Inúmeras respostas para isto vindo de diferentes fontes. Para alguns, é a sensação de estar presente no local. Para outros, uma série de checklists e botões que fazem com que você consiga interagir com o veículo em si.
Não há um consenso e o mais próximo da união destes dois elementos ainda fica presente em títulos como Euro Truck Simulator 2 e Flight Simulator / Prepar3d. É a sensação de estar “lá”, unido com a usabilidade dos sistemas presentes, algo que a DoveTail Games (Train Simulator) raramente conseguiu.
Depois de mais de cem horas de Euro Truck Simulator 2, é claro que eu já estava no ponto que eu desejava mais, e mais, e mais. Mais detalhes, mais formas de interagir com o mundo ou um que se apresentasse como um real.
Mas o mundo “real” também deve ser levado em conta pelos olhos do antropologista Marc Augé, em seu livro Não-Lugares. Euro Truck Simulator 2, acima de quase todos os simuladores no mercado, é o que melhor representa estes espaços transitórios. Para Auge, O lugar antropológico se define como identitário, relacional e histórico. Regras e referências compartilhadas marcam fronteiras, inscrições que os tornam, bem, lugares.
Por outro lado, os não-lugares são espaços transitórios, provisórios. Não há uma identidade a ser encontrada neles — entretanto, pode se dizer também que existe a possibilidade da criação de uma, mesmo que temporária. Aplicado ao simulador, a carga trazida, portanto, é uma ferramenta de interligação entre estes lugares (cidades) com os não lugares (as rodovias).
O elo inconsciente é o que torna Vive la France tão interessante, mais do que a adição de “mais rodovias” ou “mais cargas”. É a habilidade de ver estes espaços se transformarem em um elemento mais tangível. É uma culminação da busca pelo realismo e da forma que os não-lugares se intercalam.
Para o jogador do cotidiano, não há maior gratificação do que ter mais e mais coisas para fazer em Euro Truck Simulator 2, Vive la France comprova isto. Talvez a maior crítica que posso dar é o quão discrepante a qualidade dos outros países em relação a ele e o DLC Scandinavia. Fora isto, julgo essencial para qualquer fã da franquia.
Já para mim, irei buscar entender mais como a interligação sobre os não-lugares es os lugares acontecem. O que — ao meu ver — fará com que Euro Truck Simulator 2 se torne ainda mais a minha parada obrigatória quando o assunto é simulação. Boa sorte na estrada e tome cuidado com as rotatórias.
Euro Truck Simulator 2: Vive la France
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Um DLC que não apenas adiciona conteúdo, transforma os espaços das rodovias em locais tangíveis, onde o jogador pode traçar narrativas temporárias e explorar a ideia de não-lugares de uma maneira espetacular. Euro Truck Simulator 2 dá mais um passo para se tornar a parada essencial para quem deseja viajar pela Europa da maneira mais peculiar possível.