Sabe quando você pega um jogo onde você pensa “céus, esse jogo tem a duração absolutamente perfeita, tudo nele é preciso e focado ao ponto que eu não quero parar de jogar?” Se não, eu já adianto que é assim que eu enxerguei “En Garde!” da Fireplace Games (Steam), mas essa não foi a minha impressão inicial.
O jogo de ação que te coloca nas botas de Adalia de Volador passou primeiro um gosto bastante indesejado, o de que eu estava prestes a começar outro souls like. “Ah não, não me diga que esse tutorial vai também usar Stamina e, deixa eu apostar, ter alocação de atributos?”. Por sorte, a Fireplace Games sabia muito bem o que estava fazendo.
Separado em quatro capítulos que contam diferentes histórias de Adalia, “En Garde!” é, de fato, um jogo extremamente focado em combate, e leves similaridades com a franquia souls podem até serem traçadas, mas algo além de “você derrota inimigos e por acaso alguns usam parry contra você” é ir longe demais.
Ao contrário disso, jogar “Em Garde!” é sobre aprender a usar o espaço ao seu favor. Adalia é uma espadachim de primeira linha, capaz de transformar quase qualquer objeto em uma ferramenta letal. Vasos são jogados na cara dos inimigos para atordoá-los, barris são ótimos para derrubarem um grupo de lacaios do duque que busca reinar a cidade sob seu punho de ferro — personagem no qual Adalia adora dar umas excelentes alfinetadas e não só de forma figurativa, e ainda dá uma levantada em críticas sobre como enxergamos os nossos líderes de forma às vezes cega – e lanternas viram praticamente coquetéis molotov.
Se você achou que eu já gastei tempo demais em apenas um parágrafo falando sobre o combate de “En Garde”, é porque esse é o principal atrativo dele. Não espere uma história mirabolante, reviravoltas ou até mesmo algo grandioso e épico. Bem, eu diria que cada episódio por si só é uma épica conquista da Fireplace Games em não deixar a peteca cair quando se trata de qualidade.
Acontece que, fora o combate, “En Garde!” não tem tanta variedade assim. Cada capítulo tem o seu próprio tempero e sempre traz novas habilidades, tanto para Adalia quanto para os seus oponentes, mas fora das suas arenas, o jogo apenas oferece pequenas seções de plataforma para quebrar o ritmo – e se você estiver jogando na dificuldade mais alta, um excelente momento para respirar fundo e dizer que está “tudo bem”.
De início eu considerei isso como um ponto negativo, ainda mais aliado ao fato de que há desafios para encontrar caminhos secundários ou “explorar” os capítulos. Eu compreendo a tentativa da Fireplace Games de não fazer “En Garde!” soar como apenas um jogo de combate, mas todas as vezes que eu fui atrás desses objetivos, a única coisa que eu encontrei foi um pequeno atalho para outra arena de combate. Alguns caminhos secundários dão uma maior ênfase a narrativa, ou melhor contexto sobre o que está acontecendo na cidade, mas infelizmente o jogo não tem a estrutura necessária para fazer com que eu me importe com isso. Mas acredite quando eu digo que tudo isso vai embora quando eu entro em mais uma arena de combate.
“En Garde” soluciona em parte um dos maiores e mais irritantes problemas de jogos de ação: como lidar com um grupo de inimigos de diferentes tipos sem que o jogador se sinta sufocado ou tenha que lutar com a câmera. A solução? Horas e mais horas de polimento – eu presumo – e um fantástico sistema de mira automática. Em suma, ao invés de você ter que usar um dos botões do controle ou do teclado para travar a mira em um oponente, o jogo faz isso por você automaticamente.
É um sistema que tinha tudo para dar errado, e acredito que na mão de outros desenvolvedores teria, mas a Fireplace Games o refinou tanto que eu errar meu alvo era mais culpa minha do que do jogo em si.
Pois “En Garde!”, além de ser sobre um bom uso de cenário, é muito sobre posicionamento. Aprender como posicionar Adalia em um ponto de vantagem, como separar grupos de inimigos fortes ao pular sobre uma mesa, de uma escada, ou usar – como disse acima – o cenário ao seu favor.
O resultado são lutas igualmente estonteantes e caóticas. Uma hora eu sentia que estava no topo do mundo só para tomar uma pancada feia e perder o meu progresso. Outra hora, achava que estava prestes a perder o combate contra um chefão até que eu notava um objeto na sala que poderia fazer toda a diferença. No caso do exemplo, um canhão que atordoou tanto o chefão quanto os seus lacaios.
São esses momentos em “En Garde!” que me deixam nas nuvens. Eu abro um sorrisão e fico entusiasmado para ver o que vem pela frente, o que eu posso fazer de diferente, ou o que mais a equipe da Fireplace Games pensou para deixar o combate ainda mais apetitoso.
A resposta final é o modo arena, onde tudo é jogado contra você — como modificadores de dificuldade, novas armadilhas, e inimigos com novos golpes. Eu fiquei tão fixado no modo arena que, mais uma vez, tive dificuldade para não jogar mais ao invés de escrever esta crítica.
Para completar a cereja no topo do bolo, “En Garde” é repleto de momentos bem-humorados, interações inusitadas entre os personagens e situações engraçadas – mesmo dentro do combate. Afinal, não há como não rir quando você elimina um guarda e ao cair no chão, ele reclama que perdeu uma aposta e agora vai ter que raspar o seu bigode.
Nessas horas eu gostaria muito que “En Garde” tivesse explorado mais Adalia e outros personagens secundários em termos de trama. “Será que não dava para deixar o jogo um tiquinho mais longo para que essas interações ocorressem?” Me perguntava.
Mas quer saber? “En Garde” está muito bem do jeito que está. Se algo, ele é a antítese de uma outra crítica minha, a de “Atlas Fallen” — que tentou tanto, mas tanto fazer eu me importar com a história e o seu combate que no fim eu acabei entediado e quase me forçando para completar o jogo. “En Garde” não, fiquei até triste de ver os créditos subirem na tela após algumas horas de jogo. Ainda bem que o modo Arena ainda vai me garantir horas de diversão.
Mesmo se “En Garde” não possuísse nada mais do que as suas quatro campanhas, já seria mais do que o suficiente. Em um ano onde cada desenvolvedora parece estar competindo para ver quem lança o título mais longo, com mais horas de duração, de “conteúdo”, o enfoque dado pela Fireplace Games é revigorante e delicioso. Mal posso esperar para ver o que esta equipe irá fazer no futuro, mas torço para uma coisa: que não perca o estilo e o carisma que conquistaram com “En Garde!”
En Garde!
Total - 9
9
Charmoso, engraçado e refinado, “En Garde!” sabe muito bem o que quer: divertir o jogador com situações hilárias e algumas alfinetadas sobre a sociedade, e oferecer um excelente sistema de combate. Há espaço para melhorar, especialmente nos objetivos secundários. Mas, considerando tudo, um ótimo título de estreia da Fireplace Games.