Existem algumas coisas onde olho e penso: “Isso não deveria funcionar, mas funciona”. Dragon Quest Heroes é uma delas. Uma mistura de Musou e uma tradicional franquia de RPGs não deveria sair nada além de desastre. A Omega Force chega e prova o contrário. Ele está disponível para PlayStation 4 por R$ 249,99.
A história é a mais “Dragon Quest” possível. Um mago abre os portões de outra dimensão e faz com que um reino próspero seja invadido por monstros. Na pele de um herói ou uma heroína, você deve se unir com outros personagens da franquia Dragon Quest para evitar a destruição do reino. É simples e boa o suficiente para manter o jogador entretido pelas mais de 30 horas de duração da campanha. Parte disso vem da ótima tradução e atuação da versão em inglês.
Dragon Quest Heroes não tem medo de mostrar usas influências, nem tenta fingir que não é um título musou. Você ainda vai eliminar hordas e mais hordas de inimigos como se não fossem nada. Aperte o botão de atacar, solte uma magia de tempos em tempos e não pense muito.
O personagem possui dois tipos de ataques principais – simples e carregado – que podem se transformar em combos. Ao tomar dano, o jogador enche uma barra chamada Tension. Quando cheia, ele se torna invencível por alguns segundos, ganha habilidades como pulo duplo e um golpe especial que causa dano em área e pode eliminar inimigos com facilidade. Um sistema levemente simplificado em relação a outros games da Omega Force e que novatos no gênero não irão se sentir perdidos na hora do combate.
As linhas de similaridade entre a franquia Warriors e Dragon Quest Heroes começam a se tornar mais distantes e esparsas ao longo que se avança na campanha, lentamente o tornando um dos jogos mais inovadores da Omega Force em anos.
Os mapas gigantes de Samurai Warriors ou Dynasty Warriors dão lugar a mapas menores e visualmente diversificados Nada de completa-los após destruir inimigo X ou Y. Dragon Quest Heroes aposta em objetivos como defesa de pontos, proteger um personagem e batalha contra chefões. Ainda que seja preciso eliminar generais para vencer a partida, você tem de defender um ponto do mapa contra um ataque. É uma mudança de foco do completo ataque de games como Dynasty Warriors para um misto entre ataque e defesa. O jogador sempre tem de estar atento para saber quando voltar para que não perca a partida.
O ponto alto da campanha fica para os chefões. Com algumas mecânicas adicionais eles conseguem – mesmo que de maneira simples – fazer com que o jogador pense na hora de atacar, explore os pontos fracos do chefão e esquivem de ataques especiais.
Quem acompanha a série de perto ficará feliz em saber que muitos personagens queridos, como Yangus de Dragon Quest VIII, dão as caras em Dragon Quest Heroes. Eles estarão disponíveis para controle apenas em batalhas específicas, dando lugar ao sistema de seleção de personagem pré-combate da série Dynasty Warriors.
Entre uma missão ou outra você passa boa parte do tempo em uma base avançada, onde é possível melhorar o equipamento, conversar com alguns personagens ou salvar o progresso. Há um sistema de progressão de personagem com níveis, novas espadas, escudos e vestimentas. A mudança cosmética é visível, na jogabilidade, nem tanto. Os números que subiam ao acertar os monstros aumentavam, mas não me sentia mais forte por causa disso.
É um problema comum dos musous que Dragon Quest Heroes ainda luta para resolver. A horda de inimigos eliminada após cada combate é impressionante, mas boa parte do tempo o jogo não provê um bom “feedback” do o quão poderoso somos.
Para veteranos do gênero, Dragon Quest Heroes parece um título com um foco demasiadamente específico. A redução dos mapas começa a incomodar depois de algumas horas de jogo. Eu estou acostumado a navegar pelos mapas imensos de Samurai Warriors e a mudança para mapas que podem ser terminados em 10, 15 minutos desanima. Ainda mais que após completar um mapa você é presenteado com alguma cinemática que pode durar o dobro do tempo.
Na parte técnica, Dragon Quest Heroes é facilmente um dos mais bonitos jogos da Omega Force no PlayStation 4. Novamente, parte disso vem da ótima arte criada por Akira Toriyama ao longo desses últimos 20 anos da série de RPGs. Os mapas fogem da seriedade de Samurai Warriors para uma estética mais leve, cheia de cores e personagens que você não sabe realmente terá de eliminar de tão carismáticos que são.
Dragon Quest é sobre a simplicidade de uma história divertida e sem pretensões. Sobre encontrar personagens carismáticos, enfrentar situações desafiadoras e sair vitorioso. Dragon Quest Heroes consegue capturar essa essência e aplica-la em um gênero completamente diferente do que vemos por aí. Ainda que um pouco limitado no conteúdo, é uma ótima porta de entrada para o mundo dos Musous e uma ótima homenagem a essa franquia de RPGs que a mais de 20 anos conquista o coração de todos.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Square-Enix