De todos os jogos do mundo que eu imaginava receber uma remasterização, Dead Island não era um deles. Voltar ao game de ação em primeira pessoa da Techland após testar Dying Light é uma experiência interessante, tanto do ponto de vista de mecânicas como no avanço (ou retrocesso, por assim dizer das mecânicas). Ele está disponível para PC, Xbox One e PlayStation 4 a partir de R$ 79,00
Lançado originalmente em 2011, Dead Island viria a definir para mim o que é um “ótimo jogo para jogar com os amigos, mas apenas com os amigos”. Eu não vou me dar ao trabalho de sequer tentar explicar a história, é perda de tempo. Um grupo de estranhos se encontra em meio a um apocalipse zumbi e coisas acontecem. Sim, coisas acontecem é o mais longe que irei chegar e sinceramente é o máximo que você precisa saber para aproveitar.
Um ponto interessante de se observar nestes “remasters” são como as mecânicas evoluem com o tempo, algo natural obviamente. Olhar para o passado é observar melhor o que funcionou ou não em Dead Island. O pacote que inclui tanto o jogo base, como a continuação e um mini game adicional, realça algumas falhas, mas ao mesmo tempo mostra algumas ideias que eu queria que tivessem sido melhor aproveitadas ou ao menos refinadas no futuro.
Uma delas, talvez a mais controversa entre os fãs da franquia é o sistema de mira “automático”, onde você pode definir pontos específicos para atingir do zumbi. Consequentemente ele tropeçaria, teria seu braço quebrado e sua habilidade de ataque reduzida.
Para ser sincero ele nunca funcionou muito bem, ainda mais se você optasse por jogar com o mouse/teclado ao invés do tradicional controle. Mas, era uma solução tática tão inteligente e interessante quedava um pouco de “tempero” ao combate. Com ele se define a priorização de que tipos de inimigos atacar primeiro e utilização de táticas para ter um controle de área. Mais poder nas mãos do jogador para que ele mesmo tenha a resposta desejada ao invés de se aproveitar constantemente do ambiente. Por exemplo, o uso de armadilhas é algo pouco ou quase inexistente em Dead Island.
Dying Light, o sucessor espiritual, se foca no ambiente como uma ferramenta crucial da jogabilidade e, ao contrário de “classes” de Dead Island, dá mais opções no desenvolvimento do personagem. Tal solução beneficia o jogador solitário, porém, o sistema de “classes” tornava-o parte de algo maior, de uma equipe. Sam B, por exemplo, é um expert em armas pesadas enquanto Xien Mei usava facas e Purna era como o “suporte” e se beneficia do uso de armas de fogo.
Quando você juntava uma equipe completa com todas essas características, o marasmo das quests — que não envelheceram nada bem com o tempo — torna-se divertido. Vá ali, pegue um combustível, volte, observe uma cutscene sem sentido, mate mais zumbis.
O ritmo de jogar com amigos acelera o passo que a trama e a própria ambientação avança. Ainda usa o que conhecemos de “Holy Trinity” dos MMOs (Tank, Healer, DPS), mas ao mesmo tempo consegue fazer com que cada ação do jogador tenha um peso maior no progresso geral.
Isto é sentido menos em Riptide, a “continuação” que leva os jogadores para uma nova ambientação e se perde um pouco. Não consegue se encontrar direito no que fez o original uma experiência especial, adiciona mais do mesmo e torna o termo “repetição” como um dos seus pilares.
E, sim, as coisas serão muito repetitivas se você optar por jogar sozinho. Sinceramente eu não conseguiria imaginar alguém tendo o mínimo de diversão com Dead Island sozinho. Não há um único componente que o segure o suficiente para manter a atenção do jogador e essa é uma das grandes falhas para os solitários como eu.
A introdução começa intensa, mas depois você é levado a uma meia dúzia de quests, itens para melhorar o equipamento, criação de itens. Enfim, as típicas mecânicas que víamos em 2011 e que ainda prevalecem ainda mais nos jogos de 2016.
Na medida que joga, você sempre sente que “falta algo” quando a dificuldade escala nos atos subsequentes. Às vezes você não encontra o equipamento que precisa, ou as vezes você simplesmente não tem um poder de defesa tão grande quanto gostaria. A “Holy Trinity” dos MMOs entra em ação.
Por conta disso, muitos jogadores optam por jogar com Sam B, o carismático e estereotipado rapper com uma boa dose de pontos de vida e o uso de armas de peso. Uma decisão sábia, mas é como aproveitar um jogo pela metade.
É peculiar como a Deep Silver nunca conseguiu capitalizar sobre Dead Island após os dois principais games. A base estava lá, mas a Techland seguiu um caminho relativamente diferente para o “sucessor” espiritual.
Claro que, como boa parte dos “remasters”, há uma significante melhoria gráfica. Até mais do que eu imaginava. Os games agora usam a Chrome Engine 6, a mesma de Dying Light, texturas foram melhoradas e a iluminação de maneira geral está mais agradável aos olhos. Uns efeitos especiais ali e acolá, mas que não me distraem o suficiente para fala-los a fundo quando a jogabilidade continua a ser o mais importante.
O mais bizarro disso tudo é que a minha maior crítica vem de Dead Island: Retro Revenge. O “suposto” beat-em up 16-bit incluso no pacote. O “beat” em up, que mais parece um endless runner teoricamente deveria adicionar mais “valor” (qualquer que seja a intenção dessa palavra neste caso) ao pacote. Mas na verdade é o que menos me agradou. Controlar o personagem é limitado, as fases são repetitivas e não há muitos motivos para voltar a jogá-lo a não ser os primeiros dez ou quinze minutos da história. Para mim, foi como jogar e soltar um “Ah, legal” e voltar ao Dead Island.
Inconsistente em relação a trama, meio desastrado no combate, quests chatas, mas divertido com os amigos. Dead Island: Definitive Collection é um pacote interessante para quem tem alguns amigos para jogar junto. Certamente tem um local especial no meu coração, apesar de todos os problemas. Vá bater de frente com os grandes lançamentos de 2016? Jamais, mas este nunca foi o intuito desde o começo, não é mesmo?
Por muitos anos eu achei zumbis a coisa mais clichê do mundo, e até certo ponto ainda acho. Mas, há um contraste especial entre um resort tropical repleto de zumbis, personagens não muito convencionais e uma boa dose de violência. Se você olhar além dos problemas, Dead Island: Definitive Collection é divertido, mesmo após esses anos.
Esta análise foi feita com base em uma cópia para PlayStation 4 fornecida pela Deep Silver
Dead Island: Definitive Collection
Total - 7.5
7.5
O tempo passou e os problemas de Dead Island ficam ainda mais aparentes em Dead Island: Definitive Collection. De qualquer modo, ainda é divertido para jogar na companhia de amigos ou para desligar o cérebro e apenas matar uns zumbis. Só não espere algo mais fundo do que isso.