Eu acho fascinante como as minhas impressões de “Flavor Packs” ou “Immersion Packs” para jogos da Paradox mudaram ao longo dos anos. A primeira iniciativa da desenvolvedora em “Europa Universalis IV” foi um desastre. “Legacy of Persia” (Steam) para “Crusader Kings 3” é o total oposto.
A grande diferença entre esses dois gigantescos jogos de Grand Strategy está na sua modularidade. Immersion Packs Flavor Packs se focam apenas em uma pequena região, mas no caso de “Legacy of Persia”, o seu impacto é sentido de forma muito mais prolongada ao longo de uma partida.
Mas, estou me adiantando em falar sobre o quão bom é “Legacy of Persia”, para isso é preciso entender o que faz ele tão bom: O Iranian Intermezzo. O período, que durou de 821 até 1062 onde múltiplas dinastias surgiram após a queda do império Sassânida. Algumas dessas dinastias queriam “retornar o império à sua antiga glória”, outras queriam seguir com um novo califado, outros queriam reformar o atual Califato para os tempos “modernos”.
Em termos de jogabilidade, isso significa começar em uma nova data em uma região extremamente instável e tentar por meios militares ou diplomáticos fazer com que ela acabe com algum resquício de estabilidade após algumas décadas.
O sistema utilizado pela Paradox em “Legacy of Persia” é similar ao que foi visto em “Fate of Iberia”. Todavia, onde “Fate of Iberia” parecia ser um “teste”, o novo DLC de “Crusader Kings 3” é onde a desenvolvedora de fato pôs todos os sistemas à prova.
Seja começar com um dos personagens “recomendáveis” com diferentes graus de dificuldade, ou abrir o mapa e selecionar um membro de uma das dinastias, você pode se preparar para tomar uma enxurrada de notificações. Um dia você é saqueado, no outro mês você é arrastado para uma guerra. A sua “casa” está cada vez mais instável (mais sobre o sistema em breve), suas tropas estão esgotando, alguém te convida para uma caçada no meio desse caos todo.
Eu não havia notado até agora que jogar “Crusader Kings 3” com todas as expansões — por mais poucas que sejam no momento — e todos os Immersion Packs fosse tão… exaustivo de uma maneira boa. Ainda que “Crusader Kings 2” o supere em termos de conteúdo para várias áreas do mapa e em mods que expandem a jogabilidade, eu não posso deixar de notar o quanto amo que tudo é tão bem “entrelaçado” para quem está em busca de um jogo mais voltado para o roleplay — que é justamente o foco da Paradox na sequência.
O que melhor demonstra isso é a variedade de opções que você tem para “redirecionar” as tensões na região ao seu favor. Onde “Fate of Iberia” ocorria de uma forma mais passiva, embora tivesse mais participantes, cada ação que você faz em “Legacy of Persia” tem um impacto em aumentar ou diminuir a estabilidade da região.
Na minha primeira partida, eu tentei de forma pífia retornar o Califato para os seus antigos tempos de glória. Isso significa alternar entre diplomacia para fortalecer as relações com aqueles que estavam dispostos a me seguir nesse caminho, e guerra para implantar súditos que fossem leais à minha causa em regiões bastante disputadas.
Como falo de “Crusader Kings 3”, claro que isso não deu certo de primeira, nem de segunda e muito menos de terceira. Eu fui apressado, tentei restaurar o Califado antes de pensar no futuro dele. Neste ponto “Legacy of Persia” se diferencia ainda mais de “Fate of Iberia”. O evento continua separado em fases, chegando a até ter momentos de estabilidade, mas uma ação errada, um movimento que faz com que membros de facções antagonistas não gostem e pode se preparar para mais uma onda de conflitos.
Foi nessa hora que eu notei o quão pouco eu sabia tanto da história da região do Irã, como a minha incapacidade de aumentar o controle e estabilidade nas regiões que eu tinha implantado membros aliados à minha causa.
No primeiro ponto, eu devia ter prestado melhor atenção em quem eu tinha acabado de irritar ao tentar fazer uma manobra política que potencialmente tiraria controle das províncias dele. Coloco toda a culpa em mim, já que a Paradox, outra vez, fez um trabalho incrível de pesquisa e de demonstrar qual o papel destas figuras históricas na formação do que conhecemos da região hoje em dia.
O segundo foi uma expansão desenfreada — que até então não era um grande problema em “Crusader Kings 3”, mas começa a ser quando metade da região é disputada por múltiplos líderes. Quiçá essa seja a primeira vez que eu tenha que usar um dos membros da minha corte para reduzir as chances de uma rebelião na região — o que mostra o quão “estável” são as regiões em comparação a “Crusader Kings 2”.
Agora, o que não é nem um pouco mais estável é o novo sistema de “casas” que mencionei antes. Os Clãs agora utilizam um sistema diplomático interno que está anos luz à frente do que Crusader Kings 3 tinha até então no momento.
O novo sistema não faz parte do DLC em si, mas da atualização que o acompanha. Cada membro de um clã agora pode aumentar ou diminuir a união entre outros membros. Digamos que, por exemplo, você quer facilitar eventos de guerra e gastar menos dinheiro na manutenção de soldados; a melhor forma de fazer isso dentro de um clã é antagonizar outros membros até que a estabilidade do clã caia o suficiente para justificar a posse de terras.
Comparado com o sistema anterior, que era um tanto sem sal, é um salto imenso para a “Crusader Kings 3” no geral e mais uma vez mostra a sua modularidade e como a Paradox tem conseguido extrair o melhor possível dele e fazer com que cada sistema de governo e estilo de vida durante o início até o final do que chamamos de “Idade Média” seja explorado de maneira aprofundada.
Eu ainda vou continuar sentindo falta das repúblicas mercantis de “Crusader Kings 2”, e não vou parar de “resmungar” até elas serem propriamente implementadas no jogo. Mas nos três anos de desenvolvimento, eu noto cada vez mais o quão estável é a base de “Crusader Kings 3” para fazer com que Immersion Packs como “Legacy of Persia” floresçam.
Diria até que no momento o jogo está um pouco “sobrecarregado” de notificações e eventos que você tem que prestar atenção no começo de uma partida. Ou seja, a era de “aprendizado” de “Crusader Kings 3” foi embora. Pode se acostumar a ler diários de desenvolvimento e as últimas atualizações para saber quais são as adições que vão impactar a sua nação favorita.
Claro que as expansões como “Tours and Tournaments” carregam um peso imenso em nações maiores. Até mesmo “Royal Court” — a expansão que eu julguei mais sem sal de todas as feitas pela Paradox — tem a sua importância quando se trata de explorar e ampliar o impacto de personagens-chave de uma narrativa. Afinal, são os conflitos internos, os personagens que importam. E, nisso, “Legacy of Persia” é mais um exímio exemplo de como fazer um Flavor Pack que tanto ensina como desafia o jogador.
Ainda vai demorar muitos anos para que “Crusader Kings 3” chegue aos pés em termos de conteúdo e mecânicas do seu antecessor. Mas, se a Paradox continuar lançando “Immersion Packs” e explorando regiões com pouca representação histórica em jogos, eu estarei mais do que feliz em continuar a jogá-lo.
Crusader Kings 3 - Legacy of Persia
Total - 9
9
“Legacy of Persia” pode se focar em uma área “pequena” do gigantesco mapa de “Crusader Kings 3”, mas os seus impactos são gigantescos e longínquos. Embora ele te sobrecarregue de informações de início — ainda mais novatos na região ou em Grand Strategy no geral — é o tipo de “Flavor Pack” que me deixa esperançoso para o futuro do jogo. Se a Paradox manter o alto nível de qualidade, “Crusader Kings 3” só tem um caminho pela frente: se tornar um dos melhores jogos da desenvolvedora.