Como você adiciona distritos focados na “geração” de renda em um construtor de cidades onde obter renda é uma das etapas mais fáceis de todo o processo? Você não adiciona a esmo, mas sim o integra a outros sistemas presentes para que não só funcione de certa forma, mas que brilhe e faça o jogador repensar sua visão de um jogo. Foi nessa pegada que a mini-expansão “Financial Districts” para Cities: Skylines (Steam), que até então não me interessava, me pegou de surpresa.
Chamo-a de mini-expansão pois sinceramente ela não passa disso. Não espere algo como “Airports” ou até mesmo as indústrias para “Cities Skylines”. “Financial Districts” está para preencher uma lacuna gigantesca no jogo — a ausência de bancos — e como é costumeiro da Colossal Order, fazer com que eles tenham algum significado além de um pacote estético.
Para obter esse feito que até então me parecia impossível a desenvolvedora atrela os bancos (e seus respectivos distritos financeiros que agora podem ser usados para gerar novos tipos de construções) a redução de crime de uma região. Ou seja, regiões de comércio de alta densidade irão se beneficiar e muito com uma redução drástica na taxa de crime e a polícia — que vive ocupada em “Cities: Skylines” — agora tem um pouco mais de espaço para respirar e atender a outros chamados.
Todavia, isso cria um efeito cascata interessante de se ver. Por um lado, “Financial Districts” se posiciona muito bem como uma alternativa para “combater o crime” (apesar que eu não vejo a introdução de carros-fortes algo que diminua o crime, pelo contrário, seriam alvos perfeitos mas não quero entrar a fundo na simulação de crime em “Cities Skylines”). Por consequência, o “spam” de delegacias de polícia diminui consideravelmente, o que libera mais dinheiro nos cofres públicos e mais renda mensal.
Um banco de porte pequeno já pode aumentar a sua renda mensal em, no mínimo, 20% — o que é um absurdo considerando a facilidade de gerar renda em “Cities Skylines”. Eu resmungo sobre o problema há anos e não há nada que a Colossal Order possa fazer a não ser reinventar todo o sistema do jogo, o que a esta altura além de quase impossível, seria melhor em um “Cities: Skylines 2” que ainda torço para que saia um dia.
Esta questão só é intensificada pela nova “bolsa de valores” que ainda me soa como uma adição bizarra e fora de contexto para “Cities: Skylines”, mas bem, você já pode gerenciar aeroportos, o que é especular no mercado de ações?
Um dos grandes problemas introduzidos por ele é o simples fato de que, embora os valores das ações flutuam diariamente, você pode comprar ou vendê-las quando bem entender. Viu que vai garantir um bônus de mais de $50000? Não perca tempo e aperte o botão de “vender” e o dinheiro cai na conta quase que instantaneamente.
Eu teria preferido um sistema com uma “demora” ou um “limite” de compra e venda de ações por um período específico. “Cities: Skylines” já não tem muitos limites e a bolsa de valores mostra como alguns de seus sistemas são superficiais até demais. Compreendo que o jogo em breve fará 8 anos, mas por favor Colossal Order, ao menos faça algo a respeito disso. Mas não sei o quanto a desenvolvedora está disposta ou o grau de complexidade de criar esta simulação em um jogo que está mais inchado do que eu depois de uma ceia de Natal. Eu que não quero ver o código desse jogo.
A “salvação” do mercado de ações para mim é a fantástica integração que ela tem com a sua indústria especializada. Caso você possua o DLC “Industries” — ainda um dos melhores para “Cities: Skylines” —, você pode muito bem expandir uma das facetas da sua indústria e liberá-la na bolsa de valores.
Obviamente a sua renda vai aumentar ainda mais, mas eu vejo como um ótimo incentivo para quem não tinha interesse em montar uma indústria especializada e se escorar nas indústrias genéricas do game. Antes selecionava qualquer mapa do jogo ou da minha lista (imensa) de mods, agora eu presto atenção quais são os recursos mais abundantes para usar o sistema de logística e, posteriormente, investir pesado na bolsa de valores para arrancar os lucros.
Aliás, vou além e digo que o que mais falta em “Cities: Skylines” é incentivo de fazer com que você interaja com mecânicas mais aprofundadas após o período “lua de mel”. A não ser que ela esteja ligada aos métodos de transporte, a maioria das expansões do jogo acabam sendo divertidas por alguns minutos / horas e depois caem em “desuso” de um ponto de vista de jogabilidade. A comunidade usa “Cities: Skylines” como uma ferramenta criativa, as adora e eu entendo perfeitamente o motivo: os DLCs não só ajudam a criar cidades mais diversificadas, mas também mais próximas da realidade.
Ironicamente, “Financial Districts” me levou em uma direção contrária que me deixou bastante feliz. Eu me senti muito mais livre para criar a minha perfeita cidade “imperfeita”. Com exceção de elementos como trânsito, que se dane como as coisas estavam. Cidades são construídas, ao menos no sul global e em outras partes do mundo, de maneira orgânica. Há um planejamento, mas nem sempre é seguido.
Me desprender desse preconcebimento de que tudo precisava ser alinhado, ajustado até o último milímetro e simplesmente aceitar bancar os custos da minha cidade imperfeita. Deixar que áreas fiquem “como estão” ao invés de demolir tudo e começar do zero pela centésima vez. Aceitar que não importa o quanto eu ajuste, eu sempre vou encontrar falhas. Acabou acontecendo por meio de um DLC carregado de um capitalismo venenoso e especulação na bolsa de valores? Sim, mas este é o método oferecido por “Cities: Skylines” e tantos outros jogos que são até piores quando se trata de economia.
Vejo que eu devia ter feito isso muito mais cedo, mas estava tão focado em me preocupar se eu só ia usar “Cities: Skylines” para algo “criativo”, o que não é meu forte, que precisou “Financial Districts” me dar um tapa na cara para acordar.
Se algo mudou, foi a minha vontade de revisitar os DLCs anteriores e ver o que mais posso extrair deles agora com esta nova mentalidade em ação. Um projeto que, com sorte, sai em 2023.
Apesar de tantas mudanças pessoais que o DLC trouxe para mim, ainda acho difícil recomendar “Financial Districts” a todos. A Colossal Order tinha uma oportunidade fantástica de integrar mods como uma melhor simulação de população e ciclo de vida dos habitantes — ambos disponíveis via Steam Workshop — para melhorar o sistema econômico do jogo e decidiu não fazer. Se você quer um pingo de desafio, é essencial que eles estejam instalados. Lamento pelos jogadores de console que não podem desfrutar da oportunidade.
Mas a quem eu quero enganar? Estamos na reta final de 2022, se você quer um DLC novo de “Cities: Skylines” é porque você já está habituado ao decente ciclo de atualizações da Colossal Order. Um ciclo que não deve mudar tão cedo se a desenvolvedora encontrar outras maneiras de adicionar mecânicas, por mais supérfluas que sejam, para o game. Mesmo que isto custe ainda mais desempenho do que a terrível taxa de quadros que eu tenho que aturar para jogá-lo hoje em dia.
Ainda tenho fé que a desenvolvedora vai acordar ou a Paradox finalmente vai liberar os fundos para um “Cities: Skylines 2”. Que isto aconteça mais rápido do que eu espero. Até lá, irei aproveitar tanto “Financial Districts” como a minha nova visão do jogo para criar as minhas cidades imperfeitas.
Cities: Skylines - Financial Districts
Total - 7.5
7.5
“Financial Districts” é uma adição boa, mas não essencial para “Cities: Skylines”. Eu gosto bastante do conceito, mas se não fosse pela integração com outros DLCs do game — como as indústrias — ele seria apenas mais um método de ganhar dinheiro fácil. Entretanto, foi com ele que eu me senti mais “livre” para criar cidades que não fossem ajustadas milimetricamente. Espero que a Colossal Order possa continuar o seu trabalho e, com sorte, integre melhor esse DLC em um possível “Cities: Skylines 2”