Análise – Bleak Sword DX

Minha vontade de utilizar smartphones para jogar é perto de zero. Poucos jogos — como “Alto Adventures”, “Retro Bowl” e “Grand Mountain Adventure” — quebram essa barreira. “Bleak Sword” tinha a receita perfeita, mas eu nunca me acostumei com meu iPhone. Agora com “Bleak Sword DX” disponível no PC e Nintendo Switch, me pergunto se um dia eu irei de fato me acostumar com todos os aspectos do jogo.

O título da equipe espanhola da more8bit tem a mistura correta de ingredientes para me instigar: combate desafiador, uso de stamina e inimigos com variados tipos de ataques. Antes que você pense “Então ele é um Souls-like, Lucas?”. Não exatamente, a sua estrutura está mais próxima de um jogo tradicional de fases onde você sobe de nível. A maior diferença é que, se você morrer durante uma fase, perde os pontos de experiência obtidos nelas; há uma segunda chance para recuperá-los, mas caso falhe, eles são perdidos para sempre.

Como eu disse, a estrutura pode ser considerada tradicional ou até, para alguns, “clássica”, mas faz muito sentido do ponto de vista de que “Bleak Sword DX” foi lançado originalmente no Apple Arcade. Mas a more8bit faz muito mais do que apenas separar um jogo que poderia ser, em partes, “apenas” várias arenas de combate.

O distinto estilo visual e a cadência com que as fases são compostas como dioramas dão um incrível senso de que você de fato está avançando na história. Que você, no papel do protagonista, está avançando cada vez mais para dentro de uma floresta, para pântanos, ou explorando um castelo repleto de inimigos. O melhor acontece quando você consegue passar de várias áreas em uma só vida, mostrando ainda mais como cada diorama se conecta — seja por inimigos ou seja pela sensação de pavor de pensar o que vem em seguida. 

Eu me recordo muito bem de estar nos momentos finais da primeira área da campanha — com os dioramas parecendo cada vez mais opressivos — e me perguntar “Céus, o que mais esse jogo tem para jogar em cima de mim? Eu já não lutei com inimigos difíceis o suficiente”? Como eu era inocente… eu estava no topo do iceberg e as coisas iam piorar, depois melhorar, depois piorar muito em “Bleak Sword DX”.

O ponto-chave dessa montanha russa emocional vem da more8bit tentar trazer mais conteúdo para a campanha original de “Bleak Sword”. Novas áreas, novos tipos de inimigos, supostas melhorias na IA e visuais. Em boa parte essa metodologia funciona; as novas áreas adicionadas nos capítulos originais do jogo descem com naturalidade, e digo o mesmo para os diferentes tipos de inimigos. Agora, os visuais são um pequeno problema.

Eu não sei porque diabos a more8bit decidiu isso, mas “Bleak Sword DX” usa efeitos de aberração cromática e desfoque extremos, ao ponto não só de reduzir a beleza do jogo, mas também fazer com que algumas arenas do modo original — que antes funcionavam muito bem — fiquem ilegíveis. Uma das piores áreas é a região de neve, cujo uso de desfoque misturado com o fundo branco faz com que até os maiores inimigos fiquem um pouco difíceis de se ver por conta do desfoque. Eu cheguei a perder a conta de quantas vezes eu morri por conta desses efeitos visuais. Por sorte eles podem ser desativados na versão PC, e eu recomendo que o façam.

Já a suposta melhoria na IA vai ficar mais aparente apenas para quem jogou o original. Nele os inimigos eram menos agressivos e tendiam a ficar presos em paredes. Agora aprender a se defender com o escudo e descobrir o timing de cada monstro é essencial, mas infelizmente eles ainda atuam de forma errática — outro ponto que é mais proeminente à medida que você avança em “Bleak Sword DX”.

Eu evito dizer que a more8bit colocou mais inimigos em vários do mapas do jogo a esmo, mas é isso que aparenta na maioria do tempo. É como se alguém olhasse para uma área e falasse “e se colocarmos mais inimigos aqui, não vai ficar mais difícil do jogador completar?”. Não necessariamente. O que me leva a um dos pontos mais delicados e que pode definir se “Bleak Sword DX” vai te agradar ou não: os novos tipos de inimigos e seus ataques não têm as melhores hitboxes.

Tal como minha luta nas montanhas, eu tinha dificuldade em visualizar os melhores momentos para atacar inimigos munidos de escudos. “Será que eu estou na posição correta”, ou “Ele está com o escudo levantado ou não”? Eram as perguntas que eu fazia. Em certa hora eu peguei o jeito de atacá-los, mas muitas vezes os meus golpes simplesmente não conectavam. Para um jogo que depende tanto de precisão, esse tipo de deslize é frustrante, mas nada que não possa ser corrigido com um ajuste fino em uma futura atualização — que é o que eu espero que aconteça. O que não pode ser corrigido são os três novos atos adicionados em “Bleak Sword DX”.

Outra vez a more8bit pensou que “mais equivale a melhor” e ao invés de fechar a história no modo clássico, decidiu adicionar algumas horinhas extras de jogo (dependendo da sua habilidade) e expandir a trama do jogo. Isto gera um problema em duas áreas: primeiro, que o jogo não precisava ter a sua trama expandida; segundo, que os três novos atos se arrastam sem necessidade.

Com exceção dos chefões, muitos inimigos acabam sendo reutilizados com a mesma mentalidade de “se colocarmos mais inimigos nessa fase ela fica mais difícil”. Eu não tinha sequer passado da metade do novo ato e já estava “Ok, podemos amarrar isso? Eu estou cansado!”. O frustrante é ver que a more8bit acertou em cheio com os novos chefões, mas o restante desses atos deixa e muito a desejar.

Eu esperava algo como mais variantes de inimigos do jogo base; o que eu recebi foram os mesmos inimigos do começo da campanha mas em maior número. Por que eu estou lutando contra as aranhas do primeiro mapa quando estou tão perto de completar o jogo? Por que não colocar aranhas diferentes ou com padrões de ataque variados? Outra vez, isso vai ser mais impactante para quem já teve uma experiência prévia com “Bleak Sword” do que para os novatos.

“Bleak Sword DX” só não deixa a bola cair para mim por dois grandes motivos: assim que você completa o jogo, você ganha acesso ao modo “aleatório”, “arena” e “Boss Rush”. Eu absolutamente amo os três modos com uma força que eu nem sei colocar em palavras.

O modo aleatório estendeu — e vai continuar a estender — o meu tempo de jogo em “Bleak Sword DX” pois é uma nova camada de tinta em mapas que eu apreciei explorar, mesmo com as dificuldades de visualização. De bônus ele não segue a mesma padronização de inimigos, o que ironicamente faz a mentalidade “mais inimigos equivale a um jogo mais difícil” desaparecer. As arenas são um ótimo espaço de treinamento e superação contra hordas e mais hordas de inimigos. Para quem amou um DLC como “O Pesadelo de Mr X”, não preciso dizer que a minha agenda já está preenchida com “jogar mais do modo arena”, certo? 

E, por fim, o modo “Boss Rush” é a cereja no topo do bolo. Se tem uma coisa que a more8bit faz bem são os chefões, e tentar vencê-los em uma tacada só é um gigantesco desafio que eu ainda não consegui completar.

Eu queria que a more8bit tivesse sido um pouco mais “ousada” com a sua filosofia e seu design em “Bleak Sword DX”. Quando ele foi anunciado para PC e Switch, sonhei em novos tipos de armas, mais ataques ou até personagens desbloqueáveis em modos separados. Uma pena que nada disso se concretizou. 

Mas, apesar dos pesares, ainda vejo “Bleak Sword DX” como um bom jogo que carece de ajustes aqui e acolá para de fato brilhar. Eu esperava colocá-lo na minha lista de favoritos do ano — e quem sabe ainda o coloque depois de umas boas horas no modo arena, se ele de fato me prender com essas mecânicas. A certeza que eu tenho é que, se esse foi o pontapé inicial da more8bit, espero ansiosamente para ver o que eles vão fazer no futuro.