Minha relação com Assassin’s Creed é muito estranha. Gostaria de me interessar mais por ele, enquanto ele faz de tudo para que eu me afaste. Após ter minhas esperanças destruídas pelos dois títulos anteriores, Assassin’s Creed Syndicate me mostra que a franquia ainda tem fôlego de entregar algo muito bom. Ele já está disponível para Xbox One e PlayStation 4. A versão PC será lançada ainda em 2015.
A história gira em torno dos irmãos Evie e Jacob Frye, uma dupla de assassinos que, com ajuda da sua gangue, tentarão tomar Londres do controle templário. Syndicate não oferece uma trama super imaginativa, o triunfo vem por parte dos protagonistas. Evie é carismática, esperta, sempre atenta aos detalhes e com uma forte personalidade. Jacob por outro lado, tenta ser o lado brincalhão e mais humorado da dupla. Melhores desenvolvidos, são capazes de roubar a cena em muitos momentos e fogem da trama de romance sem graça que presenciei com Arno em Assassin’s Creed Unity..
Enquanto ando pelas ruas de Londres, vejo já nos primeiros minutos que Syndicate é um produto mais bem pensado do que seu antecessor. As pequenas e amontoadas ruas de paris da revolução Francesa dão lugar a vastas avenidas com carruagens, o boom da era revolução industrial se mostra a todo vapor, mercados movimentados, exuberantes estações de trens. Como já é de praxe na atual geração, a fidelidade na recriação do período histórico continua inigualável. Das vestimentas a pôsteres colados em muros de bairros que vivem o desenfreado crescimento da época, tudo é feito nos mínimos detalhes.
Para navega-lo, a Ubi aposta em duas novas ferramentas – a possibilidade de dirigir carruagens e o lança-cordas – e chega com controles de movimentação um pouco mais refinados. Digo um pouco, pois ainda sofre dos mesmos problemas que vem desde o primeiro game. De tempos em tempos o personagem irá ficar travado em um arbusto ou quem sabe mostrará um carinho especial por uma parede, decidindo que não irá soltar dela, mesmo depois de apertar o botão de pular três vezes.
Fora esses deslizes, as carruagens e o lança-cordas transformam conhecer Londres mais rápido, mas não necessariamente divertido. É como se Assassin’s Creed Syndicate se adaptasse para uma nova geração, mais impaciente ainda e com uma sede insaciável de gratificação rápida. Aqueles momentos que tinha nos primeiros jogos, onde cada torre que tinha de subir para sincronização era um pequeno puzzle foi trocado por um único botão, aperte-o e o lança-cordas o levará a seu destino em instantes. As carruagens ao menos garantem algumas risadas depois de enfiá-las no meio de um mercado público ou destruir postes enquanto foge de templários.
Essa simplificação também é vista no combate, que parece ser o mais fraco desde o terceiro. Há tantas habilidades disponíveis que facilitam a vida do jogador – como aumento de defesa, maior dano corpo-a-corpo, precisão com pistolas – que a partir do momento que as obtive, toda a dificuldade, que já não era muita, foi embora. Lutar contra ondas de inimigos se resumiu a apertar o X, com ocasionais esquivos e bloqueios até que todos estivessem mortos. Optei por ignorar algumas, para que não piorasse ainda mais a situação.
Por falar em habilidades, Jacob e Evie possuem habilidades específicas, disponibilizadas apenas em partes avançadas do jogo. Evie, por exemplo, pode se mesclar com um cenário com uma forma de roupa especial, avançado até demais para a época. Já Jacob oferece bônus para o uso de armas de fogo e combate corpo-a-corpo. Nada que realmente irá te fazer optar um pelo outro.
Fora isso, Assassin’s Creed Syndicate retorna com a vasta personalização de personagem, de cores das roupas a equipamentos e armamentos. Com isso ele continua a tradição de oferecer os Helix Points – pontos que podem ser comprados com dinheiro real e gastos nos itens. Em momento algum vi necessidade de usar meu tão suado dinheiro para isso, tampouco senti que o jogo te forçava a isso. Está lá para quem é apressado ou quem realmente quer mudar a aparência do personagem. A meu ver, completamente desnecessário.
No que interessa – as missões principais – Syndicate não deixa a bola cair e oferece momentos divertidíssimos em missões melhor estruturadas, mais longas e menos cansativas. Diga adeus a tutoriais monótonos de duas horas, ou de fazer mais missões onde deve seguir fulano até o ponto X para dar continuidade. Do primeiro minuto em que se inicia o jogo até o fim, não há um segundo de descanso, uma sequência desinteressante ou uma missão que me fez torcer o nariz. O que para a série é um marco sem igual.
O que me chamou atenção foram as missões secundárias, que devem ser feitas para liberar distritos das mãos dos templários. Ainda que outros Assassin’s Creed tenham usado tal sistema, a fluidez com que as completava junto com a possibilidade de ignorá-las completamente caso quisesse, foi o ponto alto. Algumas vezes optava por andar a pé em Londres, observar a arquitetura e os pontos turísticos, o que poderia ser parado na hora caso quisesse resgatar crianças do trabalho escravo de uma fábrica ou eliminar o capitão de uma gangue templário. O que falta apenas é um pouco mais de variedade e interação entre elas. Depois de algumas horas, já as completava com o cérebro desligado, apenas seguindo setas e marcações no mapa.
Da mesma forma que há beleza em Londres de Syndicate, ela se apresenta um tanto quanto estática. A liberação de novas áreas para a sua gangue reduz a quantidade de inimigos, mas não passa a ideia de que fez algo impactante. Ora, se eu sou o protagonista, eu quero entender melhor essa ação que fiz, não apenas uma barra a ser preenchida, uma cor ser removida do mapa. É um problema não exclusivo de Assassin’s Creed, mas de muitos outros games “mundo aberto” por aí. Permitir que o jogador assuma as rédeas, consiga transcrever a sua história por meio de ações no cenário, deixar lá a sua marca.
Para quem jogou Assassin’s Creed por anos no computador e ouviu os contos terríveis do desempenho no console, Syndicate se mostra competente e com menos problemas na taxa de quadros dessa vez. Com uma textura fraca ali e acolá, a versão do Xbox One – usada nesta análise – rodou bem melhor do que jamais imaginei. Os maiores vilões continuam sendo os bugs com os pedestres ou objetos do cenário. Certa vez vi uma carruagem presa em um poste, literalmente em cima dele. O que ela fazia lá eu não sabia, apenas ri e achei melhor seguir minha saga pela liberação de Londres.
Enquanto que a temática da revolução industrial não traz a revolução na jogabilidade que gostaria de ver na franquia, Assassin’s Creed Syndicate a coloca de volta nos trilhos rumo ao progresso. Segue os mesmos ritmos dos antecessores, adiciona algumas coisas a mais e não foge da fórmula. Mas do momento em que pus os pés em Londres, me diverti do começo ao fim.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Ubisoft