Um jogo de gerenciamento onde você transforma uma lavanderia em um local de arcades seria perfeito para o site e para mim, que tanto gosta desse estilo, certo? Foi bem o que eu imaginei com “Arcade Paradise” (Steam/Xbox/PlayStation/Switch). O tema era fantástico, os visuais competentes, e o uso de câmera em primeira pessoa ao invés de algo mais “tradicional” como um visual isométrico me pegou desprevenido. Esse paraíso durou na minha cabeça durante as primeiras sete ou oito horas de jogo.
Na superfície, Arcade Paradise é sim um jogo de gerenciamento, mas um onde você esse aspecto é colocado em segundo plano em favor de personalização, estilo e mini games. O objetivo central do jogo é fazer a lavanderia dada a você pelo seu pai dar lucro. Você, no papel de um adolescente, discorda que lavanderias irão dar lucro e quer apostar na febre dos arcades dos anos 80/90.
Os primeiros dias da jornada se resumem a coletar roupas, colocar na máquina de lavar, depois na secadora e juntar as míseras moedas que o jogo te dá. Não sei em que universo Arcade Paradise se passa para ele te entregar tão pouco dinheiro com uma lavanderia – um estabelecimento nos EUA que traz uma renda bastante estável. Esse período também serve como uma introdução aos minigames inclusos com o jogo. Coloque e retire a roupa da máquina no tempo certo e você irá ganhar um bônus de $30. Junte o lixo e acerte a lixeira para outro bônus de $50.
O processo é lento, mas ele é estranhamente gratificador para mim. Um outro jogo que faz isso muito bem é Landlord’s Super. O jogo da Minskworks pega como premissa principal a renovação de uma casa para colocá-la para aluguel, mas enraíza a temática na crise dos anos 80 do Reino Unido.
A diferença aqui é que Arcade Paradise rapidamente alterna entre esse processo lento para introduzir arcades em um ato de “venerar” e “nostalgia” dos anos 90. O simbolismo já estava claro pela arte do jogo e alguns minigames iniciais, mas eu não esperava que a Nosebleed Interactive fosse se esgueirar tanto na estética.
O resultado é um jogo onde você vai passar parte do tempo ainda cuidando da lavanderia, comprando novas máquinas de arcade e transformando um local em bem… um paraíso dos arcades. A grande questão para mim é que a Nosebleed Interactive quer que eu interaja com os jogos para liberar melhorias passivas e ganhar mais dinheiro ainda. Os jogos, infelizmente, não prenderam a atenção.
Por mais que haja homenagens a jogos como Mr Driller, um gostoso “Match 3”, um jogo de empilhar caixas e um no estilo “GTA”, toda vez que eu me sentia forçado a jogá-los para liberar melhorias passivas eu me perguntava: “Por que eu não estou jogando Mr Driller, ou Bejewled, ou tantos outros jogos inspirados por eles?”. Eu sei que é estranho não conseguir me conectar com os 35 jogos disponíveis para personalizar o meu arcade, mas a pergunta não parava de surgir na minha mente quando eu mudava de uma tela para outra.
Em busca do lucro? Em busca de transformar um local que eu não estou me importando tanto em um paraíso dos arcades cujas opções de personalização são limitadas? Ao menos em outros jogos de gerenciamento eu sinto que eu tenho algo a mais a fazer além de lucrar e liberar novas máquinas. Cada partida de Arcade Paradise era acompanhada de falta de direção — tanto da minha parte quanto da parte da Nosebleed Interactive.
“O que eu devo priorizar hoje? A lavagem de roupas ou aquele jogo entediante que eu preciso jogar mais 20 partidas?”. Se dependesse de mim, eu teria passado o restante de Arcade Paradise lavando e secando roupas, mas o jogo gritava para mim “Arcades, arcades, arcades! Se lembra como aquele período era bom? Quando você era novo e podia gastar o tempo que quisesse neles?!”
Outro ponto crucial que eu preciso apontar é a minha própria experiência com arcades nos anos 90 e a disponibilidade dos mesmos no Brasil. A não ser que você morasse em um grande centro, arcades eram limitados a jogos de luta e não o “boom” que foi nos EUA.
Até eu, que cresci em um grande centro, não tenho tanta nostalgia pelo período por ter crescido em um ambiente privilegiado onde eu podia ter um computador em casa com uma placa de vídeo 3D e considerar arcades um pouco “hostis” para mim. Pode ser que você se conecte muito mais com a experiência se a sua vivência foi enfurnada nesses arcades aqui no Brasil, mas é muito distante da minha realidade.
Arcade Paradise pode também gritar sobre “gastar o tempo que quiser neles”, mas não é bem assim. Equilibrar a lavagem de roupa e o tempo nos arcades é uma mecânica central que simplesmente quebra a premissa do jogo para mim. Se eu já não estava muito contente em me sentir forçado a jogar um jogo de empilhar caixas, eu ficava mais incomodado quando eu era obrigado a parar a cada três ou quatro minutos para lavar roupas.
Há um ponto específico de Arcade Paradise que a lavagem de roupa se torna secundária, mas são tantas horas de investimento necessárias para isto acontecer que questiono se isso não foi feito só para “inflar” a duração do game.
“O que diabos você quer que eu faça, Arcade Paradise? Qual o seu foco? Qual o seu maldito propósito? Criar um centro de veneração dos ‘anos de ouro’ dos arcades?”, não foi bem a frase que eu usei, mas estava explícito o quão pouco eu estava me divertindo com ele.
O que me deixa ainda mais frustrado é que não há nada de fundamentalmente errado com Arcade Paradise. Eu consigo ver muito bem pessoas que estão interessadas em ter o seu “cantinho virtual” de arcades se apaixonando por Arcade Paradise. Tal como eu acredito que muitas pessoas vão ignorar completamente a parte de lavagem de roupa em favor dos arcades e acabar liberando habilidades passivas mais rápido do que eu.
Todavia, um jogo de gerenciamento ou um jogo que tem alguma camada de gerenciamento precisa ter uma direção clara e me deixar fazer coisas no meu próprio ritmo. Euro Truck Simulator 2 pode ser para muitos o jogo mais entediante do planeta, mas a noção de transportar uma carga do ponto “A” ao ponto “B” é gratificante pelo cenário. O mesmo vale para Farming Simulator 22, eu não o jogo pelas máquinas, mas para ver a minha colheita crescer dia a dia e ver o resultado do meu trabalho.
O resultado do meu trabalho em Arcade Paradise eram só mais máquinas e mais opções de personalização que pouco me interessavam. Uma gigantesca desconexão entre o que eu considero essencial no gênero e um jogo que tenta abordá-lo por diferentes lentes sem conseguir se focar em uma.
Eu entrei em um pacto interno entre mim e a Nosebleed Interactive. Se a desenvolvedora um dia decidir lançar um jogo sobre lavanderias, eu estarei mais do que feliz em cobri-lo, mas por ora vou deixar o meu paraíso de arcades para trás. Os anos 90 já passaram faz tempo, e não há nostalgia que me faça querer relembrar o período ou tentar me conectar com ele.
Arcade Paradise
Total - 7
7
Para quem tem muito desejo de navegar em um ambiente recheado de jogos de arcade virtual virtuais construído com seu dinheiro suado, Arcade Paradise é excelente. Para mim, ele foi uma decepção. Suas mecânicas de gerenciamento são superficiais e os jogos não me interessavam. Preferia ter ficado lavando roupa.