Se fosse para julgar “Age of Wonders 4: Giant Kings” (Steam), pela minha experiência em cobrir títulos da Triumph Studios, de cara imaginaria que seria mais uma raça que dominaria o jogo por meses até que uma atualização os ajustasse. Afinal, assim foi com “Dragon Dawn” e a raça de dragões – minha escolha para jogar qualquer tipo de campanha. Felizmente, nada é estático nessa vida, e se há algo que a desenvolvedora demonstra é que ela evita cometer o mesmo erro duas vezes.
A mais notável adição do segundo DLC do pacote de expansão 2 de “Age of Wonders 4” é a possibilidade de o líder da sua facção ser um gigante. Embora tenham aparecido nos jogos anteriores em diferentes formatos, essa é a primeira vez que a desenvolvedora dá um leque absurdo de personalização para eles.
Controlar um gigante, por si só, já é um conceito que sempre me apeteceu. Os gigantes de “Age of Wonders” são conhecidos por serem guerreiros formidáveis e uma ótima adição para um exército multifacetado. Como líderes, eles são ainda mais eficazes, mas também ainda mais vulneráveis. Ainda bem.
Eu sei, você se questiona como um gigante é vulnerável, e o porquê de eu falar “ainda bem”, certo? Como disse antes, dragões dominaram “Age of Wonders 4” por um bom tempo. Era uma estratégia segura e fácil de aprender, e arrancou uma grande parte da minha diversão com o título – que era justamente o desafio de criar um exército competente e ver como ele se comparava com o do inimigo. “Vou botar um dragão aqui e pronto”. Vitória garantida.

Os novos líderes gigantes de “Age of Wonders 4” não são uma aglutinação de habilidades e diferentes “escolas de magia” como os dragões. Pelo contrário, eles são tão “específicos” em suas habilidades que criar uma facção com um gigante como líder requer conhecimento dos nuances do 4X. Todos eles têm um ponto negativo “forte” e você vai ter que, ou compensar com unidades, ou aprender a não cair em armadilhas dentro e fora do campo de batalha.
De início, nenhum deles dá um bônus global para mana ou magia, mas bônus de acordo com o território que eles preferem. Um gigante das tempestades vai ser mais útil em mapas com rios e oceanos, já um gigante de pedra vai dar bônus se as suas cidades forem construídas nas profundezas – que foi consideravelmente expandida pelo DLC.
Uma “pequena” mudança que tem profundas ramificações no estilo de jogo que cada um vai usar nas partidas de “Age of Wonders 4”. Embora o jogo não seja tão focado em construção de cidades – ao menos não do ponto que eu gostaria – jogar com um gigante significa pensar muito bem onde cada cidade vai ser construída, ao menos no early game.
Como alguém que estava acostumado a colocar cidades em qualquer lugar já que a minha raça ou facção me os bônus padrões (mana, ouro e produção), eu demorei um certo tempo para me acostumar com o estilo de jogo dos gigantes. Minhas primeiras tentativas muitas vezes resultaram em guerras cedo demais e déficits de produção. Quase tudo é um pouco mais lento quando o seu líder é um gigante. A produção das cidades, recrutamento de unidades, pesquisa de novos tomos de magia.

Não se desespere e pense que agora você vai ter que “reaprender” a jogar “Age of Wonders 4”, não chega a ser uma mudança drástica ao ponto de o jogo ficar irreconhecível. Mas sabe aquela unidade que você sempre pega no turno 40 ou aquela melhoria que você pega no turno 60? Elas podem dar as caras só no turno 55 ou 70, respectivamente. O suficiente para jogar qualquer estratégia macro pela janela. Isso é um deleite para mim, é a fricção que eu tão precisava para voltar a jogar mais “Age of Wonders 4”.
A mesma sacudida é sentida no campo de batalha. Se você viu um líder gigante e pensou “perfeito, vou vencer todas as batalhas”, pensou errado. Eles são excelentes guerreiros com boas habilidades únicas. Cada um dos gigantes tem a sua especialização e a maioria deles atuam como bons defensores da linha de frente. Mas basta um jogador ou um inimigo com boas magias e um alcance maior que ele, e a unidade é quase que “anulada”.
Eu sei que isso pode soar frustrante, mas é mais do que necessário para que eles não dominem “Age of Wonders 4” e também torna o combate muito mais interessante. Fazia um bom tempo que eu não jogava as batalhas em modo “manual” para garantir que o meu gigante não fosse eliminado, ou fizesse bom uso dos flancos com as minhas unidades para cercar o inimigo sem que ele cercasse o meu gigante primeiro. E, um líder morto é uma oportunidade de ouro para o oponente tomar uma cidade.
Falo pela minha experiência ao jogar com o gigante de pedra. Apressado como sou, aproveitei das suas habilidades e sua maior afinidade com o mapa subterrâneo para construir um exército e já ir para cima do meu inimigo. Mal eu sabia que eu teria de enfrentar múltiplas unidades mágicas para conseguir tomar uma cidade, e de quebra, lutar contra múltiplas crises que surgiram no meu território.

Aliás, se fosse para escolher um dos gigantes para recomendar aos veteranos do título, seriam os gigantes de pedra. Eles são a tão necessária alteração para um dos pontos mais fracos de “Age of Wonders 4” — o mapa subterrâneo.
Até então criar uma cidade subterrânea tinha um único propósito: proteger a sua capital de ataques inimigos ou fazer com que a produção dela seja extremamente alta devido a grande quantidade de pedreiras que se pode construir em regiões subterrâneas. A partir de “Giant Kings” a Triumph permite um estilo de jogo ainda mais expansivo, mas também mais perigoso.
Os gigantes de pedra são os primeiros a terem acesso aos novos tomos do DLC. Um deles é o “Tome of the Dungeon Depths”, que aumenta a produção e gera bônus de felicidade para a sua cidade caso ela tenha anexado uma ou mais dungeons. A pegadinha? Você não pode explorar a dungeon.
Em termos práticos isso significa que as suas cidades vão crescer muito no early game, mas serem profundamente atingidas por crises ou incursões vindas de dungeons ou eventos ligados a elas no mid e late game. Não tem um exército na sua cidade ou decidiu entrar em guerra com múltiplas facções? Corre para defender a sua cidade antes que ela caia.

Aqueles que querem se aventurar no subterrâneo, mas não querem tanto perigo nas cidades podem ir com o gigante de fogo e a nova opção de anexar regiões de lava – que também estão disponíveis para quem não possui o DLC. Gerando valores altíssimos de instabilidade e descontentamento nas cidades, essas regiões dão acesso a novas construções com bônus absurdos tanto para a produção quanto para a geração de dinheiro. Agora, equilibrar a cidade para que a sua população não se revolte? Aí é outra história.
Eu vou parar com a minhas histórias de como não antecipei a movimentação do meu oponente ou não esperava uma jogabilidade tão diferente com um líder gigante antes que você fique entediado. O que importa é que “Giant Kings” permite uma tão necessária camada de fricção extra independente do mapa, da região ou até mesmo do nível de dificuldade.
Um dos meus maiores medos de um segundo passe de temporada, ainda mais no modus operandi atual da Paradox que tenta trazer novos jogadores sem “alienar” veteranos — um método que vem sendo um desastre — é a Triumph Studios seguir à risca essa metodologia. “Giant Kings” prova o contrário.

Ele é um DLC quase que essencial para quem quer investir horas e mais horas a mais em “Age of Wonders 4”. Não só pelo leque de personalização que você ganha com um novo líder, mas nas estratégias, táticas para early, late e mid game. Eu fico muito feliz que, mesmo após dois anos, a desenvolvedora ainda trabalha pesado para “consertar” os “erros” como a ausência de uma camada estratégica mais aprofundada para os mapas subterrâneos.
Se fosse para eu fazer uma única crítica pesada, é que os novos tomos – “Tome of the Dungeon Depths” e o “Tome of Geomancy” são exclusivos para o DLC, e o jogo base bem que se beneficiaria de uns dois tomos gratuitos para expandir ainda mais a jogabilidade dos mapas subterrâneos. Uma reclamação, que comparada com o restante de “Giant Kings”, quase entra como uma nota de rodapé.
“Age of Wonders 4” lentamente garante a sua posição entre os grandes clássicos de estratégia 4X. Não consigo imaginar contar a história do gênero sem contar a volta por cima que a desenvolvedora deu após um “Age of Wonders III” competente e um mediano “Planetfall”. Ele permanece na minha lista de “jogos que todo fã de fantasia e 4X precisa jogar” e “Giant Kings”, e espero que permaneça assim quando o próximo DLC – “Archon Prophecy” – sair.
Age of Wonders 4: Giant Kings
Total - 9
9
A Triumph Studios não hesita em se voltar para os jogadores experientes de “Age of Wonders 4” com “Giant Kings”. Líderes gigantes requerem bastante conhecimento, noção de táticas e como manter as suas cidades felizes. Eles são a tão necessária fricção que o 4X precisava nos últimos meses, e junto com a repaginação do sistema subterrâneo, o torna ainda melhor e mais desafiador. Essencial para aqueles que querem mais “Age of Wonders” no seu dia a dia.