Análise – Trackmania 2: Lagoon

O principal atrativo de Trackmania Turbo — lançado em 2016 para PC e consoles — era o tema Lagoon. Esteticamente diferente de tudo que veio antes, ele rapidamente caiu no esquecimento dado a falta de conteúdo e problemas no online. Agoradisponível separadamente no PC por R$39,99 como Trackmania 2: Lagoon, finalmente se pode ver a importância dele para o futuro da Nadeon.

Diferente de Trackmania Turbo, possivelmente o ponto de partida de muitos novos fãs da série, Trackmania 2: Lagoon funciona de uma maneira um pouco diferente. A Nadeo utiliza uma plataforma própria chamada Maniaplanet e oferece diferentes cenários para o jogador. Pense neles como temas com suas próprias pistas, carros e física. Lagoon é mais um da série Trackmania 2, iniciada em 2011 com Canyon.

Para quem retorna a Trackmania 2, Lagoon possivelmente é o que mais se difere do restante dos temas e não apenas no quesito visual. Sai os cenários amarelados ou esverdados de Trackmania Canyon e Valley e entram as vibrantes praias de Lagoon. Uma alteração muito bem-vinda, pois sinceramente parecia que a Nadeon havia esquecido que existem cores no mundo e não só florestas, desfiladeiros ou o ambiente estéril de Trackmania 2 Stadium — ainda o preferido da comunidade.

A principal mudança, no entanto, fica para a jogabilidade. Com um carro consideravelmente menor do que os disponíveis nos outros temas, ele é capaz de realizar curvas rápidas, mas seu centro de gravidade faz com que ele facilmente capote. Curvas longas requerem pequenos toques nas setas do teclado para não rodopiar, entradas e saídas de looping demandam mais precisão do que em Trackmania 2: Canyon, por exemplo.

O novo carro se encaixa perfeitamente no estilo de controle que me agrada. Não sou fã de Trackmania 2 Stadium e Canyon justamente pela facilidade que era, de maneira geral, o controle do carro. O desafio proposto pela Nadeon nesses temas eram o uso constante de loops ou a busca de atalhos nas pistas, o que faz com que um novato rapidamente se sinta desencorajado a prosseguir, seja na campanha ou no modo online.

Lagoon tem uma curva de aprendizado mais suave, mais “honesta”, quase que um recomeço para a Nadeon. A campanha para um jogador, que considero essencial se você é marinheiro de primeira viagem no imenso mundo de Trackmania, estabelece muito bem quais são as habilidades necessárias para aprender a controlar o carro, não o deixar capotar e como funcionam os novos blocos magnéticos.

Os blocos magnéticos, como o nome já diz, “prendem” o carro durante os loops e abre um inimaginável leque de possibilidades. É uma proposta ousada para a Nadeon e para a comunidade de maneira geral, pois em partes reduz a barreira de entrada para as pistas mais complexas e ao mesmo tempo pode alienar os veteranos por conta dessa “facilidade”.

Por fazer parte da plataforma Maniaplanet, que teve sua quarta versão lançada junto com Trackmania 2: Lagoon, a mudança é retroativa para os mapas da comunidade que optarem para serem reajustados para a nova versão. Até então a resposta da comunidade tem sido divisiva, principalmente na questão da física dos carros — que também sofreu ligeiras alterações tanto em Trackmania 2 Canyon, Valley e Stadium.

Como uma comunidade com quase onze anos de existência, eu compreendo as reclamações. É o típico “em time que está ganhando não se mexe”. Só que Trackmania não necessariamente estava ganhando. Seu pico foi em Canyon e Stadium e lentamente a comunidade diminuiu com os anos. Eu vejo como a nova física dos carros — agora mais pesados e com um controle mais rígido — uma nova meta a ser conquistada pela a comunidade.

Uma nova física equivale a novos desafios, novas maneiras de completar pistas, possíveis oportunidades de encontrar atalhos. Quando eu me deparei não apenas com a ótima comunidade de Lagoon, ter voltado para Trackmania Canyon e ver como eu me sairia com as novas mecânicas também foi superdivertido. Esses momentos marcam a falta que fazia Trackmania na minha vida.

Ter se soltado das amarras do terrível online de Trackmania Turbo e dado liberdade para a comunidade criar os próprios mapas em Lagoon é a cereja no topo do bolo. Poucos dias depois do lançamento já presenciava mapas insanos, desafiadores, com loops, com blocos magnéticos, dezenas — para não dizer centenas — de vezes melhor do que o ofertado pela Ubisoft / Nadeon antes. Afinal, Trackmania Turbo pode até ter um gerador automático de pistas, porém nada bate a criatividade humana e o excelente criador de pistas de Trackmania 2.

Junte isto a imensa lista de servidores disponíveis — que incluem mods na interface e trilhas sonoras personalizadas — nenhum problema de conexão, melhorias no tempo de loading para até menos de quatro segundos entre as pistas e estava de volta para Trackmania 2 de vez.

Uma partidinha virava uma hora de tentativas de bater meu próprio recorde, ficar na primeira posição do servidor — algo quase impossível dado a discrepância de habilidades entre aqueles que jogam há anos e eu que havia voltado apenas algumas horas atrás — ou apenas relaxar e ver até onde eu conseguia chegar. Acima de tudo, eu me divertia, eu conseguia relaxar e esquecer dos problemas do dia a dia com uma boa partida de Time Trial. E no fundo, essa para mim é a essência de Trackmania 2 e de Trackmania 2: Lagoon.

Trackmania 2: Lagoon é a injeção de vida que a franquia precisava tanto de um aspecto visual como de um aspecto de jogabilidade. As discussões sobre as mudanças na física ainda vão longe dentro da comunidade. Eu? Eu estou contente por ter reencontrado a franquia e finalmente poder aproveitar Lagoon da maneira que deve ser aproveitado, em um servidor personalizado com mapas feitos pela comunidade e sem falhas de conexão.